Tem sido muito questionada a escolha de Cuiabá para sediar jogos da copa do mundo de futebol em 2014. Aliás, a escolha foi mesmo tumultuada desde o começo, quando de novo, depois da divisão do Estado nos anos 1970, precisou confrontar-se com Campo Grande. Quem não se lembra da provocação do então prefeito de Cuiabá, Wilson Santos: “chupa essa manga, Campo Grande!”. Deu o que falar!
Campo Grande fez campanha de marketing divulgada na mídia nacional defendendo sua posição de cidade mais bem estruturada para sediar jogos da copa. Cuiabá não chegou a fazer isso, mas contava com a proximidade do governador Blairo Maggi com o presidente Lula. Tanto, que o governador foi à Suíça presenciar a escolha das cidades-sede e defendeu a “Copa do Pantanal”, e atropelou Campo Grande.
Porém, efetivamente, Campo Grande é muito melhor estruturada do que Cuiabá. Mesmo depois das obras que estão sendo feitas em Cuiabá, continuará um passo atrás de Campo Grande. Mas é a capital de um estado muito mais rico do que Mato Grosso do Sul, embora Campo Grande seja mais rica do que Cuiabá.
Aqui, as coisas não andaram bem por conta da desastrada comunicação entre o governo de Mato Grosso e a sociedade de Cuiabá. Nesse campo cabem algumas observações. Foi muito ousada a disposição do governador Silval Barbosa em tocar um monte de obras relacionadas à copa e outras relacionadas à cidade. Mas faltou comunicação entre ambos. O governo decidiu por muitas obras que não fazem parte da copa e deveria ganhar créditos por isso, desde que fosse capaz de transmitir à sociedade cuiabana o seu desejo de melhorar a infraestrutura da capital.
O que aconteceu foi uma maratona de desencontros e de explicações mal-arranjadas. Por exemplo, seria preciso conhecer o fato de que Cuiabá é capital desde 1835 e como tal tem uma opinião pública crítica. Falar com a sociedade cuiabana e o seu entorno implicaria em conhecer a alma humana dessa coletividade. Não foi o que aconteceu. Ignorou-se tudo isso em nome de um simples desejo primário de embelezar fotos e vídeos pra TV e internet. O que era pra ser um evento político de extremo valor para o governo do estado, acabou melancolicamente negativo.
A sociedade cuiabana entende as dificuldades, colabora e colaborou com paciência e resignação. Mas não perdoou o amadorismo da comunicação que não conseguiu minimamente conduzi-la ao entendimento de um evento de tamanha importância.
A escolha de Cuiabá foi ótima e trará resultados muito bons ao longo do tempo. Como, aliás, era de se esperar. Pena que a copa transcorrerá dentro de um clima de profundo constrangimento com a cidade mal estruturada e a sensação frustração. Simples erros de comunicação!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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