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Projeto Aripuanã

Data: Quinta-feira, 01/04/2021 10:50
Fonte: Alfredo da Mota Menezes, PhD em História da América Latina

Em julho de 1972, em Campo Grande, um carioca, Pedro Paulo Lomba, entregou ao ministro do Planejamento, Reis Veloso, um estudo sobre a ocupação racional da Amazônia mato-grossense.

Sugeriu a criação de uma cidade científica que "realize o levantamento do capital natural da região, apontando as alternativas não predatórias de seu aproveitamento racional". Ou, como escreveu o CNPq, que o Projeto Aripuanã utilizaria "a pesquisa como instrumento para o desenvolvimento da região e a preservação do ecossistema". Palavras do mundo de hoje usadas quase quarenta anos atrás.

Até o traçado das futuras estradas deveria obedecer as regras criadas cientificamente para "evitar danos econômicos e sociais, além da destruição inútil das reservas naturais".

O projeto teria estudiosos do Brasil e do exterior fazendo levantamento sobre todos os aspectos da Amazônia, que começava a ser conquistada pelo Sul. A ideia era excelente, brilhante mesmo

Tomo como base desse e do próximo artigo várias matérias do correspondente do jornal O Estado de S. Paulo em Cuiabá, naquela época, Oscar Ramos Gaspar.

O governo militar comprou de imediato a ideia do Projeto Aripuanã. Começou a ser implantado em janeiro de 1973. Dinheiro não faltou. No primeiro ano se teve cinco milhões de cruzeiros e no segundo subiu para mais de oito milhões. Estiveram envolvidos no projeto os Ministérios do Planejamento e Interior, mais a FAB, Ipea, Sudeco, Codemat, CNPq, UFMT.

O projeto despertou a atenção do mundo. Chile e Peru quiseram conhecê-lo. A revista Newsweek dos EUA deu cobertura ao assunto. Gabriel Novis, reitor à época, saiu até na revista Veja tendo como pano de fundo o projeto e a ideia da Uniselva.

Era a possibilidade de se ter aqui uma universidade voltada para os problemas da região. Não dava para a noviça universidade competir com outras do Brasil em pesquisas em áreas diferentes, mas com as coisas daqui ela seria imbatível, imaginava-se.

Foi criada a Cidade (científica) de Humboldt em Aripuanã no Salto de Dardanelos. Casas pré-fabricadas foram levadas para lá. A FAB, em aviões Búfalos, levava tudo que era necessário para sua existência. Cobriram uma distância em transporte de quase 230 mil quilômetros. Uma ação geral concatenada para fazer o projeto andar.

Aquilo que foi feito com entusiasmo, depois de certo tempo, foi morrendo. Culpa-se a burocracia de Brasília, a distância de Aripuanã, a falta de cientistas, a incompetência gerencial.

Quando um órgão não conseguia ir em frente com o projeto passava para o outro. O próprio Lomba dizia que o projeto era "um desastre executivo". Ali por 1975, três anos depois de nascer, já sob administração do CNPq, o projeto começou a ser enterrado.

O próximo artigo é a choraminga do articulista pela morte de algo que teria colocado a UFMT e o estado na vanguarda das coisas da Amazônia. Talvez não tivéssemos os desencontros de hoje nessa região.

Alfredo da Mota Menezes. E-mail: [email protected]



Autor: Alfredo da Mota Menezes, PhD em História da América Latina
Sobre: Alfredo da Mota Menezes, nascido em Poxoréo, tem um PhD em História da América Latina pela Tulane University, EUA (1984). Lugar onde também fez pós-doutorado (1988-89) e lecionou como professor visitante (1994-95). Pertenceu ao Conselho Editorial da Revista Occidental: Estudios Latinoamericanos. Foi professor Titular na UFMT. Teve também vivência política e partidária.