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COLUNAS

A Escola de Governo podia fazer o favor

Data: Quinta-feira, 27/03/2014 00:00
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            Na estrutura da Secretaria de Administração do governo estadual a Escola de Governo tem a missão de executar de programas de formação, treinamento, qualificação profissional nas mais variadas áreas. Trago o assunto por conta do empobrecimento da capacidade de ação no serviço público estadual. Servidores despreparados intelectualmente, tecnicamente e de baixa cidadania em um número assombroso de casos. Falta-lhes a compreensão do espírito sagrado de “servidores públicos”, aqueles que prestam serviços públicos aos cidadãos.


            Acho necessário fazer uma breve remissão. O serviço público brasileiro e o mato-grossense sempre teve a qualidade, se não maravilhosa, mas comprometida com a cidadania, ao contrário de agora. Os cargos de direção estão aparelhados com indicados políticos, ou ocupados por gente que passou num concurso de mediana complexidade e pensa que não precisa mais trabalhar. Uma espécie de aposentadoria desde os 20 e poucos anos. Pura falta de educação e de cidadania!


            No entanto, gostaria de fazer outra remissão. Engenheiros, médicos, advogados, professores, agentes diversos oriundos dos anos 1970, 1980 e 1990, ainda militam no serviço público, discriminados e tachados de “velhos”. É gente que fez história. Vou citar um exemplo de vivência pessoal. A rodovia Transpantaneira pretendia sair de Poconé e terminar em Corumbá(MS), cortando o Pantanal leste-oeste e interligar-se coma  ferrovia Noroeste do Brasil e com o resto do país. Foi planejada e construída até Porto Jofre, na divisa com Mato Grosso do Sul, por engenheiros do governo, a maioria jovens técnicos que se embrenhavam naquele mundo com a cara e a coragem, sem as máquinas de hoje. Os tratores de esteira foram importados da Romênia e não aguentavam o tranco do calor, mas mesmo a  rodovia saiu.


            Escolas, hospitais, colonizações, obras e ações de todas as naturezas foram feitas por gente comprometida e cidadã, que respeitava o ideal de servidores públicos. Magistrados, promotores e até parlamentares. A corrupção era insignificante muito embora fortunas fossem entregues em espécie a jovens engenheiros para comprarem peças, óleo diesel, material, pagarem salários terceirizados. Citaria aqui dezenas de exemplos, porque convivi com essa gente que hoje está de cabelos brancos e muitos nem estão mais aqui. Cito um só, em nome dos demais: o engenheiro agrônomo Gabriel Muller, conhecido como “Gigante do Pantanal”, que conduziu as obras da Transpantaneira.


            Por isso, quem sabe a Escola de Governo não quisesse planejar cursos de remissão da cultura de tocar obras de pontes, rodovias, prédios públicos, colonização, etc.etc. voltados para os jovens técnicos que entraram para o serviço público nos últimos anos? É gente de pouco conhecimento técnico e sem vocação de cidadania para o seu papel meritório de servidores públicos que precisa de instrução. Penso que muitos daqueles profissionais teriam grande gosto de voltar à sala de aula e orientar essa juventude que idealiza que passar num concurso público significa se aposentar.


            Quando nada, as histórias que esses homens e mulheres contariam, já seria a própria história da dignidade humana e profissional. Fica a sugestão à Escola. No último sábado conversei com um desses engenheiros, de 54 anos, lúcido, decente, comprometido e aposentado cedo, cansado da discriminação de ser “velho”. É um empresário de sucesso, mas sem valor no serviço público, onde o oportunismo parece prevalecer!


Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

[email protected]    www.onofreribeiro.com.br



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