Ainda transformações
Depois de uma série de cinco artigos publicadas neste espaço, entre os dias 29 de abril e 2 de maio, recebi preciosas contribuições(disponíveis em www.onofreribeiro.com.br). Tomo a liberdade de anotá-las neste artigo de hoje. Se na década de 1970 a aprovação da lei do divórcio deu um rumo novo à tradicionalíssima família patriarcal brasileira, de 2011 para cá algumas ações nesta área deram uma nova fisionomia à família. Uma delas, o reconhecimento da união homoafetiva pelo Supremo Tribunal Federal, que criou condições para que se legalizem as relações de casais formados por pessoas do mesmo sexo.
Outra relevante mudança foi a aprovação de adoções de filhos por casais homoafetivos com relação estável. O Código Civil já aprovara antes que o casamento não seria mais necessário para dar reconhecimento às uniões estáveis de heterossexuais. Na prática, deu-se à mulher direitos que a mantinham acorrentada ao casamento para não ficar na rua da amargura.
Esses três fatos deram uma nova cara à família brasileira. O discurso anterior ao divórcio era de que ele acabaria com a família. Não acabou. Nem o reconhecimento dos casais homoafetivos acabou com a família e, tampouco, a adoção de filhos. Na verdade, a sociedade tem sido muito persistente nessas lutas. Dia desses o médico e ex-professor da UFMT, atualmente especializado em tratamento de jovens e adolescentes, Artur Monteiro da Silva, disse-me que em qualquer época, em qualquer religião, em qualquer continente, clima ou cultura, 10 por cento da população é homoafetiva.
Então, a repressão sobre essa parcela da sociedade no Brasil escondia a urgência das uniões homoafetivas que se seguiram depois de 2011 e continuam acontecendo. Porém, logo após a aprovação do divórcio, surgiu outro tipo de família, no lugar da patriarcal: a família nuclear. É aquela onde todos tem peso semelhante, sem autoridade tutorial. Com isso a família nuclear revolucionou, quando um casal se une cada um trazendo filho e tem os próprios filhos. É uma revolução ao padrão patriarcal de família.
No entanto, essa nova cultura familiar está construindo uma geração que será adulta em no máximo 10 anos e vai impor regras, cultura e valores novos à sociedade. Isso, depois de um ambiente de famílias de muitos filhos, versus família de um filho só, no máximo dois. Junto terão mudado a escola, o trabalho, todas as percepções sociais e os comportamentos sociais e os individuais.
Gostaria de voltar ao assunto, lembrando que junto com tudo isso, serão transformados todos os demais conceitos de vivência coletiva e da gestão de coisas e pessoas. Mas fica pra outra conversa.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
[email protected] www.onofreribeiro.com.br