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NOTÍCIA

Bingos clandestinos se espalham pela capital de Mato Grosso

Data: Domingo, 19/02/2012 00:00
Fonte: Odocumento

Cuiabá está se transformando em um cassino a céu aberto. Nos últimos meses, bingos clandestinos se espalharam por praticamente todas as regiões da cidade.

Essa modalidade de jogo, apesar da proibida em lei, acontece aberto e regularmente três, quatro ou até mais dias por semana em bares, lanchonete e salões.

O número de jogadores reunidos nesses locais é tão grande que na falta de mesas e cadeiras, as calçadas, meio-fios e muretas servem de apoio para exposição das cartelas com os números que podem levar ao prêmio. E por falar em prêmio, os valores são o atrativo da noite, às vezes chegam a R$ 3 mil.

A reportagem identificou bairros onde os “cassinos” funcionam. Integram a lista o Jardim Independência (região do Verdão), Coophema (divisa com Jardim Gramado), CPA I (a poucos metros do tradicional restaurante Okada), CPA IV, CPA III (divisa com CPA II), Parque Cuiabá, 1º de Março e Três Barras.

Os proprietários dos bingos desenvolveram regras próprias de premiação e métodos que não deixam dúvida, por exemplo, se a cartela premiada vale para a rodada de números que acabou de ser cantada ou se realmente está entre as que foram vendidas pelo estabelecimento.

Na lanchonete do CPA III, que fica na avenida Professora Alice Freire, na divisa com o CPA II, cada jogador que chega escolhe a cartela em uma caixa, misturada a centenas. Em seguida, funcionários (havia quatro na noite em que a reportagem esteve no local) percorrem as mesas cobrando as cartelas, cada uma no valor de R$ 1, e registrando um número que está escrito a caneta no rodapé da cartela. É esse número que valerá na conferência do prêmio.

A cada rodada o jogador tem seis possibilidade de ganhar com uma única cartela. Não é necessário preencher todos os números, ganha o prêmio quem marcar uma linha vertical, horizontal ou transversal de números. Também se fizer o formando da letra “V” normal ou invertido ou, ainda, se marcar os quatro números das extremidades da cartela. O sorteio dos números é feito manualmente, com uso de um globo com grades de metal.

Na noite de quinta-feira, a equipe esteve anonimamente nesse local. Na chegada, por volta das 20h30, havia pelo menos 100 pessoas na lanchonete, todas jogando. Em algumas mesas jogadores solitários com cinco e até mais cartelas sobre a mesa faziam malabarismo para acompanhar cada número cantado.

Nesse horário o “cassino” já estava na terceira rodada, oferecendo prêmio de R$ 300. Na rodada seguinte o valor saltou para R$ 360 e logo depois já estava em R$ 400. Indagado sobre os dias de funcionamento e os valores dos prêmios, o proprietário explicou que são quatro vezes na semana: terça, quinta, sexta e aos sábados.

Sobre os valores, respondeu que variam de R$ 300 a 1,2 mil em dias normais. Já no “especial do mês”, quando reúne parte do dinheiro arrecadado no mês, chamado de “caixinha” - e a arrecadação da noite - pode chegar a R$ 3 mil. Nesse dia, sempre no final do mês, o valor da cartela salta para R$ 3.

Em um bar que funciona no cruzamento das ruas Doutor Virgílio Alves Corrêa e Padre Vanir Delfino, no Jardim Independência, jogadores se aglomeram em um pequeno espaço. São tantos apostadores que alguns chegam a buscar refúgio do outro lado da rua, na calçada.

Apesar de reconhecer a ilegalidade dos jogos, a reportagem não conseguiu fazer com que nenhum representante da Polícia Federal ou no Ministério Público falasse a respeito da proliferação dos bingos na capital. O único a comentar o assunto foi o delegado da Polícia Civil, Clay Celestino, que resumiu dizendo que os bingos são proibidos por ferir os interesses do governo Federal, concorrendo com as loterias oficiais e não pagando impostos.