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NOTÍCIA

Agricultor é ameaçado de morte após denunciar PCH

Data: Segunda-feira, 20/06/2011 00:00
Fonte: RAFAEL COSTA/ Midia News

Autor de denúncias de crimes ambientais no município de Brasnorte (579 km a Noroeste de Cuiabá), o agricultor David Tadeu Perin afirma que tem recebido, diariamente, ameaças de morte.

"São telefonemas anônimos perguntando se não tenho medo de morrer. Também falam para tomar cuidado porque meus dias estão contados", revelou Perim, em entrevista ao Midianews, na sexta-feira (17).

Perin encaminhou à Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) pedido de investigações sobre a Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Bocaiúva, de responsabilidade da empresa paranaense Cravari Produção de Energia S/A.

Um Boletim de Ocorrência, registrado em 9 de setembro de 2010, na Delegacia Municipal de Campo Novo dos Parecis (a 120 km de Brasnorte), comprova as acusações. Em depoimento, Isaias Correia Vieira revelou que recebeu uma proposta de R$ 35 mil para executar David Perin.

A oferta do dinheiro em troca da execução partiu de dois homens identificados como "Barato" e "Guarapuava", que seriam encarregados da PCH Bocaiúva, denunciada ao Estado pela suspeita de cometer crimes ambientais. Porém, ambos não informaram o motivo do "acerto de contas".

A primeira tentativa de matar o agricultor ocorreu por meio de um convite para um almoço. Um peixe seria assado e, logo depois, envenenado para ser oferecido a David Perim e a um cidadão de apelido "Maranhãozinho". O plano não deu certo porque ambos não apareceram no almoço.

Em outro dia, armado com uma espingarda calibre 28, Isaias Vieira partiu rumo à fazenda de propriedade de David Perim, onde permaneceu escondido em baixo do tablado de uma barraca, aguardando o momento certo para fazer os disparos.

Quando David entrou na barraca para pegar roupas acompanhado do pai e do amigo Maranhãozinho, o pistoleiro não conseguiu executá-lo, alegando que não teve coragem.

Após o episódio, Isaias Vieira informou a "Barato" e "Guarapuava", mandantes do crime, que não faria o serviço. Então, foi dispensado por ambos, argumentando que "o serviço já estava demorando muito".

Nova tentativa de morte

Dias depois, quatro homens armados invadiram o sítio onde mora Isaias Vieira, exigindo informações a respeito de David. Imaginando que o pior poderia acontecer, Isaias Vieira informou que não sabia o local da residência. Dos quatro pistoleiros, dois são conhecidos como "Cabeça" e "Badeco".

Insistentes, conseguiram localizar a fazenda de David. Para evitar qualquer suspeita, se mantiveram escondido em um matagal próximo, dentro de uma caminhonete S-10.

Neste dia, conforme contou, David tinha saído da fazenda para tratar de assuntos pessoais. Enquanto cumpria o trajeto de retorno, o câmbio do veículo que dirigia um Fiat Strada quebrou e foi necessário levá-lo para conserto.

Por conta disso, permaneceu dois dias longe de casa, o que levou os pistoleiros a irem embora.

"Pela benção de Deus e graças ao meu carro velho, estou vivo. Mas, não sei até quando vou ter essa sorte", desabafou Perin.

Denúncias

O agricultor David Perin é o responsável pelo encaminhamento à Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) de pedido de investigações a respeito da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Bocaiúva, de responsabilidade da empresa paranaense Cravari Produção de Energia S/A.

Conforme relatório de fiscalização do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), a cuja cópia MidiaNews teve acesso, o processo de instalação da PCH Bocaiúva registrou graves irregularidades.

Na lista, está a construção de uma estrada dentro da terra do Incra, sem autorização e sem licença de desmate, o que provocou a destruição de uma nascente de água.

Ainda houve aumento de área sem a devida indenização aos posseiros e prejuízos aos moradores, porque vários lotes que chegavam até o Rio Cravari ficaram sem água, por causa de uma cerca feita pela Cravari Geração de Energia S/A. Também foi aberto espaço para construção de um canteiro de obras, em lote de um assentado sem a devida autorização do Incra.

Para impedir o acesso de assentados ao lago, a empresa Cravari Geração de Energia instalou cercas de arame liso, ao longo do perímetro da PCH Bocaiúva.