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NOTÍCIA

Morre Rômulo Vandoni, um tocador de grandes obras

Data: Quarta-feira, 21/06/2017 00:00
Fonte: Diário de Cuiabá/ EDUARDO GOMES

Cerrado ocioso a perder de vista. Crentes no sucesso do cultivo do solo agricultores em Rondonópolis estavam dispostos a apostarem até o que não tinham para que pudessem plantar. Para botarem seus arados em ação e expandirem a embrionária fronteira agrícola faltava a mão do governo de Mato Grosso, Estado recém-reconfigurado territorialmente, e essa lhes foi estendida pelo agrônomo e secretário de Agricultura Rômulo Vandoni, na safra 1979/80 – quando do grande salto para a mudança da matriz econômica mato-grossense.


O grupo disposto a tudo para plantar, apesar da baixa produtividade da lavoura daquela ainda estranha leguminosa de origem chinesa de nome botânico glycine max, mas que todos chamam de soja, era formado por agricultores e empresários do setor. Nele, despontavam Gilberto Goellner, Rogério Salles, Otávio Palmeira, Valter Peters, Nilson Vigolo, Eloi Marchett, João Basso, Orlando e Caetano Polato, Bionor Fernandes, Silvino Dal’Bo, Anacleto Ciocari, Adroaldo Gatto, Antonino Gonzalez, Naim Charafeddini, Carlos Ernesto Augustin, Dilson Cardozo e Claudino Marin. Mato Grosso não tinha política agrícola, mas Rômulo Vandoni tratou de encontrar alternativas legais para fomentar a atividade. Sempre à frente de seu tempo, ele também idealizou a criação do Instituto de Defesa Agropecuária (Indea). Mais: quando o (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) CREA incluía arquitetos entre seus representados, Rômulo Vandoni o presidiu.



A trajetória de Rômulo Vandoni é de domínio público. Ao longo de 64 anos em Mato Grosso, sempre radicado em Cuiabá, ele protagonizou uma das mais respeitadas páginas de cidadania na terra de Rondon. Acumulou funções relevantes no governo estadual e na prefeitura da capital mato-grossense, sempre atuando com espírito republicano independentemente de quem exercesse o cargo de governador ou prefeito.



Praticamente todas as grandes obras públicas executados em Mato Grosso entre a década de 1970 e o final dos anos 1990 tiveram a participação de Rômulo Vandoni. Suas digitais podem ser encontradas desde a simples abertura de uma avenida em Cocalinho até a pavimentação da BR-163 ao norte de Cuiabá ou a demarcação de um projeto de assentamento em Aripuanã. Sua veia literária o levou a escrever livros, a exemplo de “Ao longo do Araguaia”. Sempre pronto para assumir posicionamento, Rômulo Vandoni foi colaborador do Diário, que publicou artigos de sua autoria. Sua participação na vida mato-grossense inclui a fundação da Loja Maçônica Acácia do Ocidente e sua condição de grão mestre de honra da Potência Grande Oriente do Estado de Mato Grosso.



Quando da construção do Estádio Governador José Fragelli, o Verdão, em Cuiabá, Rômulo Vandoni era subsecretário de Obras do Estado e recebeu a incumbência de responder pela execução de seu projeto dentro de um prazo estipulado pela forma como o governo conseguiu o empréstimo para tanto. Rômulo Vandoni confiou o projeto arquitetônico ao arquiteto Silvano Wendell e tratou de fazer a engrenagem governamental funcionar, para que a bola rolasse antes do limite do tempo para conclusão concedido pelo Senado, que liberou os recursos para tanto, mas com a alienação de 2 milhões de hectares no Nortão como garantia da transação.



O Verdão foi inaugurado duas vezes. A primeira - quando as obras estavam bastante adiantadas - em 12 de março de 1975 com um amistoso entre a Seleção de Cuiabá e o Fluminense. A segunda em 8 de abril de 1976 com um quadrangular reunindo Mixto, Operário, Dom Bosco e o Flamengo. Rômulo Vandoni acompanhou os jogos e se deixou emocionar com a imponência do estádio, mas nem aquele sentimento impediu que intimamente ele desejasse que seu time estivesse em campo, com seu uniforme preto e branco, empurrado por sua fanática torcida: - Vai Curintia...



Paulista de Araçatuba, Rômulo Vandoni cursou Agronomia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Em 1953 deixou sua terra por uma aventura no coração do Brasil, aonde chegou em 23 de março daquele ano e nunca mais saiu, a não ser para matar saudade de parentes e amigos ou a serviço.



Quatro anos depois de desembarcar em Cuiabá Rômulo Vandoni subiu ao altar com a Iracy Maria Novis Monteiro, que naquele ato virou a senhora Vandoni. O casal tem quatro filhos: Eneida, Márcia, Rômulo e Adriana; 10 netos; e nove bisnetos. A filharada herdou o gosto do pai pela função pública: à exceção de Eneida, os demais exerceram relevantes funções em diferentes governos e Rômulo Filho foi vereador e secretário municipal em sua cidade.



Rômulo Filho revela que o pai era diabético e somente enxergava com o olho direito. Com a morte de dona Iracy em 11 de dezembro de 2014, Rômulo Vandoni ficou deprimido, pois ela além de sua mulher era sua cuidadora, uma vez que ele se tornou cadeirante.

 


Sem condições de se locomover como antes, Rômulo Vandoni se ausentou do Senadinho – ponto de bate-papo de antigos políticos. No começo deste ano sofreu um edema pulmonar, sentiu problemas circulatórios nas pernas e foi vítima de uma infecção urinária que o levou à internação. Às 16h35 da segunda-feira, 19, aos 93 anos, ele perdeu a luta pela vida. Ontem, seu corpo foi velado na Capela Jardins e sepultado no Cemitério da Piedade, em Cuiabá. O prefeito Emanuel Pinheiro decretou luto oficial de três dias pela morte de Rômulo Vandoni. Em nota oficial o governador Pedro Taques lamentou sua morte.