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NOTÍCIA

Ulysses Guimarães, o Sr. Diretas, estaria completando 100 anos

JN homenageia um dos políticos fundamentais na retomada na democracia. 'Temos ódio à ditadura! Ódio e nojo', uma das frases marcantes de Ulysses.

Data: Sexta-feira, 07/10/2016 00:00
Fonte: G1.globo.com/jornal-nacional
 
 
 

O Jornal Nacional presta homenagem agora a um dos políticos fundamentais na retomada na democracia no Brasil. Ulysses Guimarães completaria cem anos nesta quinta-feira (6).
Ele era chamado de Dr. Ulysses. Sim, foi deputado com 11 mandatos seguidos, mas por respeito e reconhecimento, era simplesmente Dr. Ulysses.



O auge da carreira foi a aprovação da Constituição do Brasil por uma Assembleia que ele presidiu.



"Que Deus nos ajude, que isso se cumpra!"

 

“Quantas pessoas eu vejo ainda hoje no plenário da Câmara, hoje dizer: se doutor Ulysses não estivesse aqui, a gente não tinha Constituição”, disse Jarbas Vasconcelos, deputado federal (PMDB-PE).

 

"Vamos votar! Vamos votar!"



“Quando ele adoecia, ou por algum motivo faltava à sessão, não havia sessão. A Constituinte só funcionava com ele”, lembra o jornalista Jorge Bastos Moreno.

 

Dr. Ulysses foi a alma da Constituinte.

 

“Na promulgação da Constituição, um dos comandantes militares saiu da sessão quando ele chegou e disse que a sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram”, conta Moreno.

 

“Temos ódio à ditadura! Ódio e nojo!” 

 

Chegou depois de 40 anos como deputado. Foi também ministro no curto governo parlamentarista do amigo e colega de partido Tancredo Neves. Eles eram do antigo PSD.
Apoiou o golpe militar em 1964, mas logo foi para a oposição. Filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro, o MDB, e depois assumiu a presidência do partido.



Foi nos anos de chumbo, com a resistência armada derrotada, opositores com direitos políticos cassados, ou presos, ou exilados, ou desaparecidos, que o Dr. Ulysses surgiu como líder reconhecido da oposição à ditadura.

 

Era 1973. Para denunciar a falta de liberdade e as violações de direitos humanos no país, um grupo de deputados do MDB, conhecidos como “Autênticos”, lançou Ulysses Guimarães como candidato do partido a presidente da República nas eleições indiretas que aconteceriam no ano seguinte.

 

À época, enfrentar os militares era uma ousadia que exigia coragem. No discurso em que aceitou a missão, se declarou um anticandidato que iria percorrer o país com a mensagem democrática. Sabendo dos riscos, citou o poeta Fernando Pessoa: "Navegar é preciso, viver não é preciso."

 

Perdeu a eleição indireta, um jogo de cartas marcadas para eleger o general Ernesto Geisel.
Mas a campanha mobilizou o MDB, que teve um desempenho surpreendente nas eleições parlamentares de novembro de 1974. O partido ficou com 16 das 22 vagas em disputa para o Senado e conquistou 44% das cadeiras da Câmara dos Deputados.

 

“Porque o partido se apresentou como uma alternativa e, de certa maneira, abrindo a possibilidade para setores da sociedade que eram contra a ditadura, mas não tinham aderido à luta armada”, disse o cientista político José Álvaro Moisés

 

Na pregação pelo país, enfrentou fuzis e cachorros da Polícia Militar dizendo: "Respeitem o líder da oposição. Baioneta não é voto e cachorro não é urna".

 

Em 1983, Dr. Ulysses se tornou o Sr. Diretas. Mergulhou na campanha por eleições diretas para presidente da República. Percorreu o país, fez discursos contundentes.



"Saiam todos de casa para defender na praça hoje o voto direto!"

 

E quando o objetivo não foi alcançado, lutou para manter a oposição unida. Conversava com todos e sempre procurava o acordo.

 

“Doutor Ulysses não perdia tempo, ele fazia política na hora do almoço. E de noite se reunia novamente com outro grupo político. Ele tinha um grupo permanente de pessoas que ele chamava para conversar, em especial, na casa dele, em São Paulo”, contou Jarbas Vasconcelos.



Hoje quem cuida da casa é Celina, filha de dona Mora, a esposa com quem ele viveu por 37 anos.



“Então, aqui neste sofá, nesta sala, é que tinha as reuniões. Políticos que varavam a noite”, lembrou Celina Campelo.

 

"Entendimento você pode fazer até na 25ª hora, inventa uma hora para o entendimento".

 

“Nunca vi uma pessoa conseguir conviver com antagônicos da forma como ele conviva. A facilidade que ele tinha de conquistar as pessoas”, contou o filho Tito Enrique da Silva.

 

“Ele gostava de conversar, de chamar as pessoas para, de alguma maneira, refletir, dialogar e apontar caminhos”, disse José Álvaro Moisés.

 

Quando a ditadura acabou, dois políticos poderiam ter sido o presidente civil da redemocratização: Ulysses Guimarães e Tancredo Neves.



“Doutor Tancredo tinha consciência absoluta de que, sendo colégio eleitoral, a vaga era dele. Ele, ele teria que ir. Doutor Ulysses tinha plena consciência de que sendo um pleito direto, estabelecido o pleito direto que não existia, tinha que ser convocado, a vez era dele”, contou Jarbas.

 

A eleição foi indireta e Tancredo foi eleito. Com a morte dele, assumiu a presidência José Sarney. Dr. Ulysses passou a ser o homem forte do Congresso e da Constituinte.

 

“Ele era assim a pessoa mais importante da política brasileira. Um homem que acumulou muitos poderes e exerceu todos os poderes com muita dignidade”, disse Moreno.

 

Muito trabalho e excesso de medicamentos provocaram uma crise mental, que durou pouco. 

 

“Por exaustão e porque era um momento difícil também da vida dele. Aí ele teve uma depressão forte”, lembrou Tito Enrique.

 

Tentou a Presidência da República na primeira eleição direta, mas o desgaste político do governo impôs uma derrota humilhante. Teve menos de 5% dos votos.



“Foi uma campanha dificílima. Sem dinheiro. Sem apoio do próprio partido. A popularidade dele baixa”, disse o filho.

 

Voltou à luta. Dr. Ulysses tinha sempre uma causa e, aos 76 anos, empunhou a bandeira do parlamentarismo.

 

"Andei 27 vezes pelo país, estou disposto a andar 28, 29, muito humildemente, com a minha maletinha, minha escova de dente, como mascate do parlamentarismo".

 

Nessa última peregrinação, para não perder uma reunião política, forçou uma viagem de helicóptero arriscada, do litoral do Rio para São Paulo. O helicóptero caiu no mar e ele morreu junto de dona Mora, do piloto, dos amigos Severo Gomes e esposa. Seu corpo nunca foi encontrado.

 

“O olhar e o silêncio eram fundamentais. Ele administrava as coisas com isso.  Ele exalava autoridade calado, e isso e uma coisa rara”, disse Jorge Bastos Moreno.

 

Show em Brasília
Em Brasília, um show foi organizado para celebrar o centésimo aniversário de Ulysses Guimarães. Gilberto Gil, Gal Costa e Nando Reis foram os nomes convidados para fazer o tributo ao Dr. Ulysses.



“Estamos vivendo um momento no Brasil em que lembrar o Dr. Ulysses é um bálsamo porque as dificuldades na vida política são tão grandes que recordar de alguém que teve a envergadura dele, a compostura dele, é interessante. Portanto, nesse sentido que acho que a homenagem é muito apropriada”, disse Gilberto Gil.



O show marcado para acontecer no Teatro Ulysses Guimarães. Na plateia estariam parentes, amigos e muitos políticos.