O empresário Eike Batista apresentou ao Ministério Público Federal (MPF) no Paranádocumentos que, segundo ele, comprovam um encontro com o ex-ministro Guido Mantega, dos governos Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, e um depósito milionário ao casal João Santana e Mônica Moura, ex-marqueteiros do Partido do Trabalhador (PT).
Mantega foi preso na 34ª fase da Operação Lava Jato e solto no mesmo dia. Segundo o MPF, ele pediu US$ 2,35 milhões, em nome do PT, a Eike Batista. À época, a quantia era equivalente a cerca de R$ 4,7 milhões. Mônica e Santana foram soltos em 1º de agostona Lava Jato.
Os documentos entregues estão distribuídos em mais de 70 anexos de inquérito tornado público na quinta-feira (22). Entre eles, estão contratos do consórcio Integra, formado pela empreiteraMendes Junior e pela OSX, controlada por Eike.
O MPF investiga se houve pagamento de propina para que o consórcio fosse escolhido para a construção de duas plataformas de petróleo para o pré-sal, as chamadas Floating Storage Offloanding (FSPO´s). Os procuradores afirmam que o consórcio não tinha capacidade técnica para assumir a construção.
Em maio, Eike Batista se apresentou espontaneamente para prestar depoimento aos procuradores, depois de ter o nome citado em delações premiadas. Ele contou sobre uma reunião, em 2012, com o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, em Brasília.
Eike se comprometeu a entregar documentos que comprovassem o teor do depoimento. Um deles é o diário de bordo de um voo particular, no mesmo dia da reunião, com destino a "SBBR", uma das siglas usadas para identificar o aeroporto Presidente Juscelino Kubitschek, de Brasília.
Entre os anexos do inquérito também está a agenda oficial de Mantega, que mostra a reunião marcada com Batista no dia 1º de novembro de 2012, ao meio-dia. No depoimento de maio, o empresário ainda explicou como seria o pagamento.
Depois de ter tido problemas com a primeira tentativa de transferência, Eike afirmou que o pagamento aconteceu apenas em 2013. Ele apresentou aos procuradores um pedido de transferência, em inglês, de abril de 2013, com a Shellbill, de Mônica e João Santana, como beneficiária.
Mônica e Santana foram responsáveis pelas últimas três campanhas presidenciais do PT. O pagamento foi feito, segundo Eike, em uma conta no exterior. Na época, o valor foi convertido em R$ 2,35 milhões.
No depoimento, Eike negou que o pagamento tenha relação com algum tipo de propina para conseguir o contrato com a Petrobras. A transferência, diz ele, foi uma doação e teve como contrapartida um trabalho de consultoria feito pelo casal.
Mas tanto o MPF quanto o juiz federal Sérgio Moro apontam a coincidência entra a data de reunião e o início dos pagamentos ao consórcio e suspeitam que o contrato foi simulado.
Outros lados
A defesa de Guido Mantega afirmou que o fato de Eike Batista demonstrar que foi a Brasília com seu jatinho não quer dizer nada e que não há seriedade no que ele chama de prova. Afirmou, ainda, que era normal que o ex-ministro recebesse representantes de vários setores, mas que ele jamais tratou de assunto de campanha com o empresário.
A defesa de Mantega ainda disse desconhecer o depósito na conta citada e que causa espanto o fato de 2012 não ter sido ano de eleições presidenciais. Para os advogados do ex-ministro, Eike Batista quis trocar a investigação sobre ele por uma delação falsa.
A OSX afirma que o contrato para construção das plataformas foi firmado pelo consórcio Integra, cuja administração é exercida pela Mendes Junior, responsável pela relação com a Petrobras. A OSX afirmou ainda que os ex-executivos envolvidos deixaram a empresa há cerca de três anos e que são responsáveis por eventuais atos ilícitos. A empresa também afirmou que conduz os negócios dentro da lei.
A defesa de Eike Batista afirmou que ele não participa diretamente da gestão da OSX, já que os executivos da companhia têm autonomia. A defesa afirmou ainda que Eike Batista desconhece qualquer ato ilícito que possa ter sido praticado através da OSX, que ele não possui relação pessoal com funcionários da Petrobras e que o empresário reitera as declarações que deu ao MPF em relação a Guido Mantega.
O advogado da Mendes Junior disse que não tem nada a acrescentar.
A defesa de Mônica Moura não quis se manifestar. O PT negou o que chamou de “ilações” apresentadas e afirmou que todos as doações foram legais e declaradas à Justiça Eleitoral.
A reportagem não conseguiu contato com as defesas de Roberto Gonçalves e de João Santana.