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Artilheiro, ídolo e destruidor na Série A: cinco fatores do fenômeno Grafite

GloboEsporte.com destaca elementos que fazem do atacante o "cara" neste início de Campeonato Brasileiro, mesmo aos 37 anos de idade. São seis gols em três jogos

Data: Quinta-feira, 26/05/2016 00:00
Fonte: Por Daniel Gomes/ Globo Esporte

Não restam dúvidas: Grafite é o ponto de desequilíbrio do Santa Cruz neste início de Série A. Pior para os rivais. Os primeiros passos do atacante na atual edição do Campeonato Brasileiro são avassaladores, com seis gols em três jogos - algo só alcançado por Luizão, pelo Corinthians, em 1999, quando a competição não era disputada em pontos corridos. Os números são de um jogador consagrado, que, aos 37 anos, optou voltar ao clube com o qual dizia ter uma dívida. Existe uma dose extra de gratidão entre o Tricolor do Arruda e o camisa 23, campeão da Bundesliga, do Mundial de Clubes, da Libertadores... E muito do que cerca essa relação explica a arrancada.

 

Grafite Santa Cruz x Campinense (Foto: Marlon Costa / Pernambuco Press)
Grafite finalizou oito vezes na Série A e guardou seis: "apenas" 75% de aproveitamento (Foto: Marlon Costa / PE Press)

 

 

"JOGA PARA ELE!"

 

O sistema tático do Santa Cruz contribui - e muito - para o atacante aparecer em boas condições de marcar. Ele já pedia, no início da temporada, mais gente na frente para auxiliá-lo no papel de marcar gols. O técnico Milton Mendes fez isso, acionando Keno e Arthur na equipe. A partir de uma transição rápida, o camisa 23 usa a explosão como fator diferenciado. E as redes balançam. Para se ter uma ideia de como o desempenho melhorou, dos 14 gols marcados na temporada, 10 foram sob o comando do novo treinador.

 

- Quando cheguei, até brinquei com Grafite. Disse para ele que, em todos os times que joguei, os atacantes eram artilheiros. A forma que jogo facilita muito o posicionamento do atacante. Com a qualidade dele de mobilidade, de usar o corpo, podia ser bom - comentou Milton Mendes.

 

EM CASA

 

Grafite conheceu a esposa durante a primeira passagem pelo Santa Cruz, em 2001. Recifense, a mulher, ao lado do atacante, sempre passou as férias na capital pernambucana. Laços ficaram cada vez mais fortes, mesmo com a família morando na Europa. O Arruda era destino do atleta no período de descanso. Nem mesmo quando atuou no mundo árabe - nos Emirados Árabes e no Catar - deixou de acompanhar o Santa. Hoje, diz-se torcedor e afirma que irá acompanhar as partidas mesmo quando se aposentar.

- Sou muito torcedor do Santa. Desde que saí daqui foi assim. Ficava acordado até as 4h, em Dubai, para ver os jogos. Sempre acompanhei - disse Grafite.

A relação próxima e o desejo de voltar ao Santa Cruz fizeram o coração falar mais alto em 2015. Após uma longa negociação, Grafite deixou de lado o pomposo salário recebido no Al-Saad, no Catar, para voltar ao clube do coração. Adequou-se ao que os tricolores podiam pagar - para o Santa, um salário considerável. Para ele, nada de outro mundo. A apresentação foi em grande estilo, com direito a helicóptero pousando no gramado do Arruda diante de sete mil pessoas.

O FATOR FÍSICO

 

Segundo Grafite, desde 2011, quando se transferiu para o Al-Ahli, dos Emirados Árabes, ele nunca havia passado por uma pré-temporada puxada. Voltou a se reencontrar com um período intenso de treinamentos de 20 dias, este ano - grande parte dele na cidade de Chã Grande, no Agreste pernambucano. No ano passado, chegou em julho de 2015, durante a Série B, sem ter sido submetido a uma preparação específica. E penou. Mesmo assim, foi decisivo no acesso à Série A, por causa da qualidade técnica indiscutível.

 

Esta temporada, começou mal. Sentiu o ritmo de jogo do futebol brasileiro. Na pré-temporada de Chã Grande, não foi bem e reconheceu as dificuldades. A preocupação com o preparo físico foi grande. Teve também uma lesão no glúteo e outra no adutor da coxa esquerda. Disse que, se voltasse a se machucar como nos últimos anos, podia encerrar a carreira no fim de 2016. Mas a pré-temporada e a preparação física fizeram diferença. 

 

- Estou bem fisicamente, tecnicamente e mentalmente. E venho tendo grande aproveitamento nas oportunidades. Isso resulta em um bom momento. Quando a fase está boa, podemos tentar várias coisas, que a bola vai entrar. Tudo é fruto do trabalho. Quando começamos a preparação, principalmente na Copa do Nordeste e Pernambucano, Milton disse que tinha chances de me destacar. E isso vem acontecendo com a ajuda de todos.

MOTIVAÇÃO

 

Grafite voltou ao Santa Cruz para pagar uma dívida: de ainda não ter conquistado títulos pelo clube. Ele, que já tinha passado pelo Tricolor em 2001 e 2002, não tinha levantado troféu. Pois bem: 2016 foi o ano da redenção. Campeão da Copa do Nordeste - a primeira da história do Santa - e do Campeonato Pernambucano. Motivação não falta ao atacante, que capitaneou e foi decisivo nas duas competições.

EXPERIÊNCIA

 

São 37 anos de idade. Rodagem de sobra no futebol. Campeão e melhor jogador da Bundesliga, vencedor da Libertadores e do Mundial Interclubes. Mesmo com vários títulos, Grafite é exemplo dentro do Santa Cruz. Adorado por funcionários do clube, o camisa 23 é uma das referências da equipe. É ele quem "puxa a fila" nos treinos e tem uma importância reconhecida por todo o elenco.

 

- Ele é diferente. Está com um nível de confiança muito bom. Conseguimos passar isso para ele. Como já tinha um lastro muito grande, resgatou isso tudo. Não é pelos gols que está fazendo, porque valorizo o coletivo. Mas é por tudo o que ele representa dentro do grupo. Ele que puxa, carrega, dá o exemplo - disse o técnico Milton Mendes.