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Estudo explica ação do LSD no cérebro

Cientistas britânicos descobriram pela primeira vez os mecanismos pelos quais a droga provoca suas complexas alucinações visuais. Os autores acreditam que a descoberta pode abrir caminho para o uso de drogas psicodélicas no trat

Data: Terça-feira, 12/04/2016 00:00
Fonte: Veja.Abrilcom
Cérebro
De acordo com os autores do estudo, “o cérebro sob o efeito do LSD lembra o estado de nossos cérebro quando somos crianças: livre e sem barreiras”. Isso significa que o LSD poderia ser especialmente útil para tratar doenças que aprisionam os pacientes em padrões negativos de pensamento, como a depressão e a dependência de drogas(Thinkstock/VEJA)

 

Cientistas britânicos descobriram, pela primeira vez, como o LSD (dietilamida do ácido lisérgico) afeta a atividade do cérebro ao provocar complexas alucinações visuais. O estudo, publicado recentemente na revista científica PNAS, também revelou o que acontece no cérebro das pessoas quando elas relatam uma mudança fundamental na qualidade de sua consciência quando estão sob o efeito da droga: a "dissolução do ego".

 

Para chegar a esta conclusão, pesquisadores do Imperial College London, na Grã-Bretanha, realizaram um experimento com 20 voluntários saudáveis. Metade dos participantes recebeu uma dose de 75 microgramas de LSD e a outra metade recebeu placebo. Em seguida, os cientistas utilizaram uma combinação de diversas técnicas de escaneamento cerebral de última geração para visualizar como a substância altera o funcionamento do cérebro.

 

Os resultados mostraram que, nos participantes que ingeriram a substância, várias áreas do cérebro, e não apenas o córtex visual - região responsável por processar a informação captada pelos olhos -, contribuíram para o processamento da visão.

 

"Observamos alterações cerebrais sob o efeito do LSD que sugerem que os voluntários estavam 'vendo com os olhos fechados' - embora eles estivessem vendo coisas que faziam parte de sua imaginação e não do mundo exterior", disse Carhart-Harris, principal autor do estudo.

 

Segundo ele, sob o efeito do LSD, os voluntários tinham muito mais áreas do cérebro que o normal contribuindo para o processamento visual - ainda que eles estivessem de olhos fechados. "Além disso, descobrimos que a intensidade desse efeito está correlacionada com a intensidade de visões complexas relatadas pelos pacientes", declarou.

 

O cérebro de uma pessoa se torna cada vez mais compartimentado à medida que ela se desenvolve, segundo Carhart-Harris, fazendo com que ela se torne mais focada e rígida em seus pensamentos à medida que amadurece."De várias formas, o cérebro sob o efeito do LSD lembra o estado de nossos cérebro quando somos crianças: livre e sem barreiras. Isso também faz sentido quando consideramos a natureza hiperemotiva e imaginativa da mente infantil", afirmou.

 

 

Estudos anteriores - Em um estudo anterior, publicado na revista científica European Neuropsychopharmacology, os cientistas já haviam descrito alterações na atividade do córtex visual sob o efeito da droga e demonstraram que a combinação de LSD e música fazia com que essa região do cérebro se comunicasse mais com a área conhecida como parahipocampo.

 

Essa região é associada à capacidade de formar imagens na mente e à memória pessoal. Quanto maior sua comunicação com o córtex cerebral, mais os indivíduos relatavam visões complexas como assistir cenas de suas próprias vidas.

 

"Essa foi a primeira vez que testemunhamos a interação entre um composto psicodélico e a música com a biologia do cérebro", disse o estudante de doutorado Mendel Kaelen, do Imperial College London, um dos autores do estudo sobre a música.

 

Os autores de ambos os estudos acreditam que estas descobertas podem abrir caminho para que drogas psicodélicas possam ser usadas no tratamento de distúrbios psiquiátricos. Segundo eles, o LSD poderia ser especialmente útil para doenças que aprisionam os pacientes em padrões negativos de pensamento, como a depressão e a dependência de drogas.

 

"Um dos focos principais das nossas próximas pesquisas é descobrir como podemos usar esse conhecimento para desenvolver abordagens terapêuticas mais efetivas para o tratamento de problemas como depressão. A associação de música e LSD pode ser uma ferramenta terapêutica poderosa, se for fornecida da maneira certa", afirmou Kaelen.

 

David Nutt, autor principal do estudo sobre a música e o LSD, afirmou que a nova pesquisa é uma das mais importantes das últimas décadas. "Os cientistas esperaram 50 anos por esse momento, em que seria revelado como o LSD altera a biologia do nosso cérebro. Pela primeira vez podemos realmente ver o que está acontecendo no cérebro em um estado psicodélico", disse.

 

(Com Estadão Conteúdo)