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NOTÍCIA

Advogados de Lula tentam tirar Gilmar Mendes do processo no STF

Gilmar Mendes argumentou foro privilegiado na nomeação de Lula. Ministro disse que a intenção era obstruir o progresso das medidas judiciais.

Data: Segunda-feira, 14/03/2016 00:00
Fonte: G1.globo.com/hora1/ Cláudia Bomtempo Brasília
 
O governo e a defesa do ex-presidente Lula entraram com novos recursos no Supremo Tribunal Federal contra a decisão do ministro Gilmar Mendes de suspender a nomeação de Lula como ministro Chefe da Casa Civil. Gilmar Mendes argumentou que a nomeação teve a intenção de dar foro privilegiado a Lula e, assim, obstruir o progresso das medidas judiciais.

 

A defesa do ex-presidente Lula insiste no pedido para que o Supremo proíba o juiz Sérgio Moro de seguir investigando Lula na Operação Lava Jato, conforme decisão do ministro Gilmar Mendes, na última sexta-feira (18).

 

No mesmo dia, os advogados entraram com o pedido no Supremo questionando a divulgação de conversas gravadas do ex-presidente e pedem também uma apuração, para saber se houve crime no grampo e na divulgação das gravações.

 

O documento afirma que o diálogo entre Lula e Dilma não tinha mais autorização judicial, porque naquele momento o juiz Sérgio Moro já havia suspendido as escutas e que as gravações foram divulgadas de forma ilegal. Outro pedido é a intervenção do Supremo para disciplinar e preservar o material das investigações.

 

O juiz Sérgio Moro justificou ter tornado a gravação pública afirmando que "a democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes - mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras". O juiz disse ainda que, sem sigilo, os investigados podem exercer amplo direito de defesa.

 

No dia seguinte, em novo despacho, o juiz afirmou que entre a decisão e a implementação da ordem junto às operadoras foi colhido novo diálogo telefônico juntado pela autoridade policial. Moro afirma que não havia reparado antes no ponto, mas não vê maior relevância. Diz que como havia justa causa e autorização legal para a interceptação, não vislumbra maiores problemas no ocorrido.

 

Moro considera que não é ainda o caso de exclusão do diálogo, considerando o seu conteúdo relevante no contexto das investigações, e que a circunstância do diálogo ter por interlocutor autoridade com foro privilegiado não altera o quadro, pois o interceptado era o investigado, e não a autoridade. Finaliza dizendo que, evidentemente, caberá ao Supremo Tribunal Federal, quando receber o processo, decidir definitivamente sobre essas questões.

 

A defesa de Lula pediu ao Supremo para que o Ministro Gilmar Mendes não atue mais nos processos relacionados ao ex-presidente por se tratar de uma investigação da Operação Lava Jato, que já estava a cargo do ministro Teori Zavascki.

 

No documento enviado ao ministro Teori, os advogados dizem que o ministro Gilmar Mendes extrapolou os limites de atuação porque não poderia ter suspendido a nomeação de Lula por meio de um mandado de segurança em resposta a ações do PSDB e PPS, e que atuou em matéria que está exclusivamente nas mãos do ministro Teori.

 

A Advocacia-Geral da União trabalha para tentar garantir que o ex-presidente Lula assuma o cargo de ministro. Primeiro pediu ao Supremo para anular a decisão de devolver a investigação sobre Lula ao juiz Moro e os mais de 50 pedidos pelo país que questionam a posse. O advogado-geral da União pediu uma decisão urgente ao ministro Teori Zavascki.

 

A AGU argumenta que é necessária uma excepcional medida cautelar para suspender todos os processos enquanto o plenário da corte não decidir se Lula pode ou não assumir o cargo.

 

A decisão do ministro Gilmar Mendes, que suspendeu a posse, saiu na sexta-feira (18). Ele considerou que as conversas interceptadas com autorização da Justiça apontam que o propósito da nomeação era dar foro privilegiado a Lula e obstruir a execução de medidas judiciais.

 

Na decisão, ele cita quatro grampos: a conversa entre Lula e o cientista político Alberto Carlos de Almeida, em que ele diz para Lula que ir para o ministério é a solução para resolver os seus problemas com a Justiça; a conversa entre o presidente do PT, Rui Falcão, e o então ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, em que Falcão, preocupado com uma possível prisão de Lula, pergunta o que acontece se ele for nomeado; a conversa entre Lula e a presidente Dilma em que Lula diz que os poderes da União estão acovardados diante da Lava Jato; e o diálogo em que Dilma diz que está enviando um termo de posse a Lula para ser usado em caso de necessidade.

 

Dilma disse publicamente mais de uma vez que a intenção era ter um documento assinado por Lula para a posse, caso ele não pudesse ir à Brasília. Os investigadores disseram que era para Lula ter em mãos e apresentar à polícia em caso de ação judicial.

 

Para o ministro, o fato de a presidente Dilma Rousseff ter se manifestado sobre a conversa representa uma admissão pessoal não só da existência, como também da autenticidade do conteúdo da gravação.

 

Gilmar Mendes disse que a nomeação de Lula tinha um objetivo de falsidade claro: impedir o cumprimento da ordem de prisão de juiz de primeira instância, uma espécie de salvo conduto emitido pela presidente da República.

 

No Supremo não é comum um ministro derrubar a decisão de outro, por isso,  a decisão sobre o caso deve ficar mesmo com o plenário do tribunal, que só volta a se reunir depois da Páscoa.

 

Na noite deste domingo (20), a assessoria do Instituto Lula informou em nota que os advogados do ex-presidente impetraram um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal, encaminhado ao presidente do STF, Ricardo Lewandowski, contra a decisão proferida na última sexta-feira pelo ministro Gilmar Mendes, que, além de suspender o ato de nomeação do ex-presidente Lula para o cargo de ministro da Casa Civil, a pedido do PPS e do PSDB, também determinou o retorno das ações e dos inquéritos contra Lula ao juiz Sérgio Moro, que havia declinado da competência por meio da decisão proferida no último dia 16.

 

Os advogados alegam que a decisão é nula, pois caberia ao ministro Teori Zavascki, como relator pré-determinado, examinar a decisão do juiz Moro de remeter os processos ao Supremo. Além disso, argumentam que Gilmar Mendes já havia se manifestado sobre o assunto fora dos autos, com pré-julgamento da causa.

 

A ação pede que o STF suspenda o trecho da decisão que determinou o retorno das ações ao juiz Sérgio Moro, apontando que Lula já teria sido vítima de arbitrariedades praticadas pela 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba.

 

A nota do Instituto Lula diz que a nomeação dele para a Casa Civil não interrompe as investigações, mas as transfere para o núcleo da Lava Jato em Brasília. A nota segue, afirmando que é falso dizer que Lula estaria com isso fugindo de investigações e declara ainda que Lula não é acusado de nenhum crime, mesmo depois do que chama de verdadeira devassa e de intimidações a que foi submetido nos últimos meses.

 

A tudo isso, prossegue a nota do Instituto Lula, o ex-presidente vem respondendo com dignidade e serena confiança nas instituições e nas pessoas que têm a responsabilidade de encarná-las.