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NOTÍCIA

Presentes em 12 estados brasileiros, seringueiros contribuem para a geração de empregos e renda

Em comemoração ao Dia do Seringueiro, conheça as histórias de três produtores dos estados da Bahia, Espírito Santo e Mato Grosso

Data: Quinta-feira, 03/03/2016 00:00
Fonte: Ascom CNA com Ascom Famato

 

Importante commodity agrícola, a borracha natural é considerada produto estratégico para a economia global. A diversidade de sua aplicação industrial, essencial na manufatura de artefatos usados na indústria pneumática e automotora, aviões e tratores agrícolas, além de utilizada na fabricação de pisos industriais, luvas e materiais cirúrgicos, confere o elevado grau de importância econômica da heveicultura. O setor comemora nesta quinta-feira, (03/03), o Dia do Seringueiro e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), juntamente com as federações da agricultura e pecuária e sindicatos de produtores rurais, parabeniza a todos os profissionais da borracha pela atuação e dedicação no cultivo e exploração da espécie.

 

O seringueiro é o personagem principal típico da região dos seringais. É aquele que extrai o látex das seringueiras e viabiliza sua transformação em borracha natural. A experiência e a competência profissionais são fundamentais na extração, que começa com a retirada de uma pequena porção da casca da árvore, logo acima da linha de corte. Esse procedimento precisa do encaixe perfeito da faca na planta para uma realização bem sucedida do manejo.

 

No Brasil, a seringueira é cultivada em doze estados: São Paulo, Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo, Pará, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Paraná, Amazonas e Acre. São mais de 25 mil famílias que vivem do produto da seringueira em mais de 40 mil hectares de área plantada. O setor, que emprega uma pessoa por quatro hectares, é responsável pela geração de 80 mil postos de trabalho no país. Para a assessora técnica da Comissão Nacional de Silvicultura e Agrossilvicultura da CNA, Camila Braga, “isso indica a importância da cultura no aspecto social, ambiental e para segurança e qualidade de vida dos produtores”.

 

A produção nacional brasileira de borracha natural (látex coagulado), em 2014, foi de 320 mil toneladas (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE). O estado de São Paulo respondeu por 58% da produção nacional, com 185 mil toneladas. Bahia produziu 48 mil toneladas, Mato Grosso, 27 mil e Espírito Santo, 11 mil toneladas.

 

A seringueira possui safra de 10 meses e, mantidas as técnicas adequadas de manejo, produz látex por mais de 30 anos. O mercado interno possui histórica dependência da borracha importada, que atualmente atende 2/3 do consumo. De acordo com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT-2015), a frota de veículos de cargas aumentou de 1,3 milhão para 2,3 milhões de unidades, entre 2008 e 2014, aumentando a demanda do produto pelas indústrias automotoras e pneumáticas.

 

A borracha in natura é considerada um produto estratégico para a economia mundial e há diversidade de aplicação na indústria. O segmento voltado à produção de pneus, por exemplo, consome mais de 70% da produção de borracha natural. Presente também na fabricação do lacre de proteção do botijão de gás, pisos industriais e materiais cirúrgicos.

 

Mais competitividade - A Comissão Nacional de Silvicultura e Agrossilvicultura da CNA não tem medido esforços nas iniciativas para aumentar a competitividade da heveicultura nacional. Nesse sentido, dentre as principais ações da Comissão estão a parceira com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), para produção de cartilhas e cursos de capacitação sobre Boas Práticas Agrícolas na Heveicultura e Técnicas de Exploração do Seringal; acompanhamento do mercado da borracha natural para orientação de produtores na negociação de preços; acompanhamento na Câmara de Comércio Exterior sobre a tarifa de importação da borracha natural, além de participar da elaboração de propostas para o Plano Nacional de Desenvolvimento de Florestas Plantadas.

 

Conheça abaixo histórias de três produtores, dos estados de Mato Grosso, Bahia e Espírito Santo.

 

MATO GROSSO

Presidente da Associação dos Heveicultores de Mato Grosso (Ahevea-MT) e proprietário de seringais no município de Barra de Bugres, o seringalista Ricardo Ferraz de Camargo costuma dizer que o seringueiro é o “artesão e soldado da borracha”. Camargo iniciou a produção de seringueira no estado em 1982, mas já produzia no Acre, desde 1975, e em Rondônia, desde 1980. Ele conta que seu plantio de seringueira é tradicional e que trabalha com parceria agrícola há mais de 31 anos. “A seringueira é uma alternativa de produção e renda para o produtor rural. É um trabalho esplendoroso, pois envolve pessoas do campo que sabem lidar com os segredos da natureza. O artesão da borracha, além de trabalhar por amor, tira dali o sustento da família”, explica. Para trabalhar na atividade, ele diz, precisa ter o dom e ser paciente para não machucar a árvore, pois quando a planta é ferida, o seringueiro perde a produção. “É comum ver homens e mulheres com idades avançadas nesse manejo. Essa é a melhor profissão para a terceira idade”. Quando perguntado sobre as principais dificuldades do setor, o presidente da associação desabafa sobre a falta de políticas públicas e o baixo preço pago. “Infelizmente em nosso país não há políticas eficazes que garantam a estabilidade dos seringalistas. Nós sofremos com os preços e desvalorização da categoria. Precisamos que o governo do estado incentive a cultura da borracha por meio de programas de financiamento, levando em consideração seu potencial econômico. É necessário buscar estratégias para que tenhamos resultados mais satisfatórios”, finaliza Ricardo Camargo.

 

BAHIA

Membro do Sindicato dos Produtores Rurais de Ituberá (SPRI), na Bahia, o produtor Gileno Araújo dos Santos iniciou seu plantio de seringueira em 2003. Gileno utilizava a seringueira como sobra para os cultivos de cacau, rambutan, cupuaçu, por meio do sistema agroflorestal, que permite o aproveitamento da área em dois ou três cultivos. “A seringueira é um excelente cultivo, desde que seja consorciado, pois o retorno da produção só se dá após seis anos de plantio. Após o início da exploração, obtemos receitas diárias e vida útil de trinta a quarenta anos”. A comercialização de Gileno é feita por meio da Cooperativa dos Agricultores Familiares do Baixo Sul, de Ituberá. “Estou buscando, juntamente com outros produtores, um mercado mais justo. Como nosso plantio é todo no modelo consorciado com as culturas do cacau, mangustão, rambutan e cupuaçu, não ficamos reféns apenas do cultivo da seringueira e, ainda, diversificamos a exploração da área que dispomos”, conta. Para o produtor baiano, o preço é a maior dificuldade enfrentada diariamente pelo seringueiro e “hoje está mais barato importar do que comprar no Brasil. A escassez de mão de obra especializada para realizar a sangria e o ataque de pragas, como a lagarta mandarová, dificultam nossa vida”, desabafa Gileno Araújo.

 

ESPÍRITO SANTO

Há 30 anos na atividade de seringueiro, associado à Cooperativa dos Seringalistas do Espírito Santo (Heveacoop), de Vila Velha, e ao Sindicato Rural da região, o capixaba José Manoel Monteiro de Castro conta que a melhor escolha foi se aventurar com o plantio da árvore. Em 1982, recorreu a um programa federal de incentivo ao plantio e hoje comemora a qualidade de vida conquistada. “Obtive com a sangria de três mil pés de seringueiras uma renda mensal regular, fator principal que me levou a consorciar, em meus 32 hectares de terras, com cacau e palmáceas”.  Sua propriedade “Quinta Serrão Monteiro de Castro” fica na comunidade Maranhão, no município de Iconha, no Espírito Santo. “Na sangria trabalham eu, minha esposa, alguns parceiros rurais e sócios da Cooperativa. Por dia, sangramos 500 árvores que, ao fim do mês, rendem 1.700 quilos de borracha natural, vendidos à cooperativa, a R$ 2,30”. Atualmente o produtor caminha para mais um investimento no seringal, com expansão de 9 mil árvores, o qual metade vem de recurso próprio e o restante proveniente de financiamento do Banco do Brasil. “Essa é a hora de investir. Mesmo com a borracha brasileira sofrendo concorrência desleal da China, nossa commodity vai se recuperar no mercado e teremos bons resultados”, conclui Monteiro.