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NOTÍCIA

Excesso de partidos cria 'ingovernabilidade', diz FHC à The Economist

Data: Sexta-feira, 06/11/2015 00:00
Fonte: Yahoo Notícias

Para FHC, Dilma deverá renunciar antes do fim do mandato. (Reuters)

Para FHC, Dilma deverá renunciar antes do fim do mandato. (Reuters)

 

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso concedeu uma entrevista à revista "The Economist" esta  semana. Publicada na coluna "Bello", assinada pelo jornalista Michael Reid, nela o tucano fala da "ingovernabilidade" que a gestão do Partido dos Trabalhadores criou ao permitir a proliferação de novos partidos no país. O veículo, por sua vez, vê um "ressurgimento" de FHC como "pensador e intelectual" social democrata.

 

Inicialmente, FHC deixa claro que não tem mais ambições de se candidatar no futuro, mas que hoje possui "muita influência política e intelectual" tanto no seu partido quanto na atual conjuntura política brasileira.

 

O tucano é chamado de "líder de estado experiente" pela revista, que crava que o Brasil está prestes a entrar na pior recessão desde 1930 – ignorando o cenário de 1999, semelhante ao atual; com um presidente em baixa popularidade e uma oposição que ensaiava o impeachment.

 

Dilma e Lula criaram uma 'governabilidade' que os traiu, segundo FHC. (AFP)

Dilma e Lula criaram uma 'governabilidade' que os traiu, segundo FHC. (AFP)

 

Entretanto, hoje Fernando Henrique se vê numa posição mais favorável para se posicionar em comparação a alguns anos atrás: "As pessoas estão começando a reavaliar o que fizemos", justificou. Para ele, Dilma e Lula perderam a agenda política de vista, criando alianças com o que o autor julga como "partidos menores e retrógrados", ao passo que permitiu a criação de muitas legendas (28 ao todo), dificultando a tão falada "governabilidade", expressão que inclusive ficou famigerada na gestão Lula.

 

"Quando você tem a habilidade de dialogar com o país e com a agenda, o Congresso se mantém na linha. Quando você não tem, ele sai dela", acrescentou, em tom de crítica à atual administração.

 

Impeachment? FHC diz ser contra, mas...

Quando o assunto foi uma eventual saída de Dilma do poder, processo que pareceu tomar força, mas, dependente do presidente da Câmara Eduardo Cunha, não foi para frente, o tucano foi direto. "Você precisa ter base legal, além de pressão por parte da sociedade", disse ele, sem se colocar ao lado dos defensores do impeachtment.

 

Em vez disso, Fernando Henrique crê que Dilma irá renunciar, em um ato de "grandeza" em prol de "um novo consenso" para uma agênda mínima que incluiria reforma política, limitação dos gastos públicos e dos débitos.

 

Elogiado pela "The Economist", o ex-presidente é colocado em um patamar de bastião da globalização no Brasil no século 20, um caminho que, segundo o artigo, foi seguido por Lula no primeiro mandato, mas se tornou uma "utopia regressiva de protecionismo estatal" – e outra uma oportunidade de crescimento poderá não voltar tão cedo.

 

O texto conclui alegando que FHC não vê nenhuma liderança política para realizar as medidas necessárias para o país. "O Brasil precisa de um novo foco e um novo líder", argumentou o tucano, que, porém, também confessa não enxergar em seu partido a oposição forte que o Brasil precisa. Para ele, a "ninhada" do PSDB – ilustrada no artigo como um grupo de pequenos tucanos a ouvir atentamente uma espécie de mestre – deveria tomar posições mais ousadas.

 

Ex-presidente foi ilustrado como um 'professor' tucano a ensinar seus pupilos. (Reprodução)

Ex-presidente foi ilustrado como um 'professor' tucano a ensinar seus pupilos. (Reprodução)