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NOTÍCIA

Lula age para conter críticas a Levy

Data: Terça-feira, 09/06/2015 00:00
Fonte: ESTADÃO CONTEÚDO

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva articula com outras correntes do PT a substituição das críticas mais duras ao ajuste fiscal e ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pela defesa de uma ‘agenda de desenvolvimento' que ‘crie esperança' no País. O movimento tem como alvo o 5º Congresso do PT, que ocorrerá de quinta, 11, a sábado, 13, em Salvador, e, antes mesmo da abertura, provoca tensão no Palácio do Planalto.

 

Apesar de adotar um tom de desaprovação às medidas tomadas pela equipe econômica, Lula não quer que o PT saia do encontro de Salvador com o carimbo de partido de oposição à presidente Dilma Rousseff por avaliar que essa estratégia corresponde a um suicídio político.

 

Em entrevista, Dilma considerou injustas as críticas a Levy e disse que ele não pode ser transformado em ‘judas' para ser malhado pelo PT. A ideia do grupo de Lula é ‘virar o disco' e mostrar que, agora, os petistas estão dispostos a ajudar Dilma a retomar o crescimento, reduzir a desigualdade e tirar do papel o slogan do governo - ‘Pátria Educadora'.

 

Na lista das ‘compensações' ao ajuste que a chapa da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), de Lula, tentará emplacar na resolução do 5.º Congresso estão propostas de crédito para fortalecer a indústria e manter empregos, de estímulo às exportações e de regulamentação do imposto sobre grandes fortunas.

 

A intenção é deixar claro que o pacote fiscal também atinge o ‘andar de cima‘ e não se concentra em restringir direitos dos trabalhadores, como seguro-desemprego e abono salarial.

 

O receituário do corte de gastos e a proibição imposta pelo PT a seus diretórios - impedidos de receber doações empresarias de campanha - são os capítulos que prometem causar mais polêmica no 5.º Congresso.

 

A tendência Mensagem ao Partido - integrada pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e pelo ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro - mede forças com a CNB para influenciar as discussões.

 

Antes de viajar para a Itália, na semana passada, Lula pediu a dirigentes e parlamentares do PT que desbastassem os ataques ao governo e não dessem ‘um tiro no pé'. No sábado, porém, ao abrir a 39ª Conferência da FAO, a agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, em Roma, ele disse que ‘se cada presidente ficar esperando que o ministro da Fazenda diga que está sobrando dinheiro, nunca vai fazer programa de transferência de renda'.

 

Nova rota

A cúpula do PT convocou o 5º Congresso para corrigir rumos em meio à maior crise dos 35 anos do partido, no rastro dos escândalos de corrupção. Desde abril, no entanto, quando o então tesoureiro João Vaccari Neto foi preso, acusado de desviar recursos da Petrobras, o desgaste só aumentou e o nome de Lula chegou a ser associado a denúncias.

 

Dirigentes do PT vão manifestar solidariedade a Lula no encontro de Salvador, que será aberto por ele e encerrado por Dilma. Em conversas reservadas, Lula tem dito que um eventual fracasso de Dilma será debitado na sua conta e, diante desse quadro, somente será candidato à sucessão de 2018 se a economia estiver bem. No seu diagnóstico, ou o PT renova o discurso e ajuda Dilma a sair da turbulência ou o cenário de hoje será ‘fichinha' perto da rejeição que o partido pode amargar nas eleições municipais de 2016 e na disputa presidencial de 2018.

 

‘Agora, é tempo de parar de falar em ajuste e falar de investimento, emprego e distribuição de renda', disse o presidente do PT, Rui Falcão. ‘A política fiscal é de responsabilidade do governo e não é adequado criticar o ministro Levy. Acredito que o Congresso do PT será responsável e solidário com a presidente Dilma e sua equipe', afirmou o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini.