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NOTÍCIA

Onze prefeitos do AM enriqueceram mais que a valorização do ouro

11 prefeitos reeleitos registraram um aumento de patrimônio superior ao crescimento do valor do ouro.

Data: Domingo, 29/03/2015 00:00
Fonte: Camila Carvalho/ [email protected]

Prefeito de São Sebastião do Uatumã, Adalberto Leite, conseguiu aumentar o patrimônio em 4.332%. Foto: Sandro Pereira Manaus - Vinte e seis prefeitos do interior do Amazonas, reeleitos em 2012, conseguiram aumentar seus patrimônios nos quatro anos ao longo dos mandatos.


Dentre eles, 11 aumentaram os patrimônios acima da valorização do grama do ouro, no mesmo período. De acordo com a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), de 2008 a 2012, o valor do grama do ouro aumentou 122%. No mesmo período, o prefeito de São Sebastião do Uatumã, Adalberto Leite (PSD), conseguiu aumentar o patrimônio em 4.332%, segundo dados disponíveis no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).


O aumento percentual é mais do que dez vezes a valorização do grama do ouro, no mesmo período. Com o valor, o prefeito lidera o ranking dos reeleitos que mais aumentaram os patrimônios no Amazonas. O prefeito informou à Justiça Eleitoral, em 2008, um patrimônio avaliado em R$ 75 mil, composto por uma casa de alvenaria e uma oficina de móveis. Após quatro anos à frente da prefeitura, em 2012, na disputa pela reeleição, Adalberto Leite disse ter três terrenos, uma casa em Manaus, além de participações nas empresas Esquadros da Amazônia Ltda. e Trifity Construções Ltda., que totalizavam R$ 3.324.000,00.


Em contrapartida ao enriquecimento do prefeito, o município de São Sebastião do Uatumã foi avaliado com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,577, considerado médio pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2012, o município tinha pouco mais de 10 mil habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) per capita de R$ 6,1 mil. Os prefeitos de Humaitá, Benjamin Constant e Alvarães, respectivamente, José Cidenei Lobo (PMDB), Iracema Maia (PSD) e Mário Tomas Litaiff (PMDB) conseguiram aumentar os patrimônios em mais de 600%, em quatro anos de administração pública. Dentre eles, José Cidenei foi quem teve o maior aumento.


De 2008 a 2012, o patrimônio do prefeito ‘saltou’ de R$ 77 mil para R$ 561,3 mil, entre a eleição e a disputa à reeleição. Iracema Maia, que em 2004 tinha um móvel e um imóvel, avaliados em R$ 150 mil, declarou, quatro anos após assumir a prefeitura, na disputa à reeleição, em 2012, um patrimônio de R$ 1,065 milhão. Em 2012, a prefeita informou à Justiça Eleitoral ter uma casa no município, dois automóveis e um apartamento “financiado em 20 anos”.


Em Alvarães, o prefeito Mário Tomas Litaiff aumentou o patrimônio em 600%. Em 2008, ele informou ter uma casa avaliada em R$ 20 mil. Quatro anos depois e já no comando da prefeitura, o prefeito disse ao TSE ter, além da casa que passou a valer R$ 40 mil, dois terrenos e um automóvel, totalizando R$ 140 mil em bens. Durante a gestão de Alvarães, Mário Tomas Litaiff teve contas julgadas irregulares pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) e foi condenado a pagar R$ 33,1 mil em multas, sendo R$ 2,5 mil por não manter um Portal da Transparência com os atos da administração pública.


O D24 tentou contato com os prefeitos ao longo da última semana, mas não obteve sucesso. Mais que o dobro Os prefeitos de Maraã, Santo Antônio do Içá, Itapiranga e Barreirinha aumentaram os patrimônios em mais de 200%, ao longo de quatro anos. Dentre eles, o crescimento patrimonial mais inusitado foi do prefeito de Maraã, Cícero Lopes (PMDB). Em 2008, ele informou ao TSE ter R$ 75 mil distribuídos em uma casa, um terreno, um barco, além de R$ 20 mil em mercadorias.


Em 2012, sem adquirir nenhum bem, os patrimônios do prefeito passaram a valer R$ 325 mil. Uma evolução que corresponde a quase o dobro da valorização da grama do ouro no mesmo período. Os prefeitos de Tefé, Jucimar Veloso (PMDB), de Itamarati, João Medeiros (PMDB), e de Carauari, Chico Costa (PSD) completam a lista dos prefeitos reeleitos que enriqueceram mais do que a valorização da grama do ouro, de 2008 a 2012.


Dentre estes, Jucimar Veloso e João Medeiros tiveram um crescimento patrimonial similar. Sairam da ‘casa’ dos R$ 150 mil a R$ 170 mil, em 2008, e informaram ter, em 2012, patrimônios avaliados, respectivamente, em R$ 485 mil e R$ 400 mil. Chico Costa também teve um crescimento patrimonial surpreendente desde que assumiu a Prefeitura de Carauari. Em 2008, no primeiro mandato, ele disse ter uma casa de alvenaria, no município de Tefé, avaliada em R$ 80 mil.


Quatro anos depois e já na prefeitura em busca da reeleição, Chico Costa informou ter um apartamento, em Manaus, avaliado em R$ 200 mil. ‘Lucro’ Doze dos 13 prefeitos reeleitos no Amazonas, nas últimas eleições, demonstraram que estar à frente da administração municipal pode ser uma vantagem. Nos quatro anos à frente do Executivo municipal, os prefeitos conseguiram aumentar os seus patrimônios em, no mínimo, 5%. Dentre eles, quem mais ‘lucrou’ foi o prefeito de Japurá, Raimundo Guedes (PCdoB), o ‘Guedinho’, eleito em uma eleição suplementar, em 2008. Na época, ele disse não ter nenhum bem. Mas, quatro anos depois, na disputa pela reeleição, o prefeito declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio avaliado em R$ 122 mil, distribuídos em dois automóveis e uma casa.


Os imóveis representam um aumento de 100% no patrimônio de ‘Guedinho’. Até 2012, quem menos tinha enriquecido durante os mandatos eram os prefeitos de São Paulo de Olivença, Nonato Martins (PSD), de Beruri, Odemilson Lima (PSD), e de Jutaí, Marlene Cardoso (PMDB). Nonato Martins, o ‘Nato’, disse ter, em 2008, R$ 545 mil distribuídos em três casas, duas lanchas, duas motocicletas e um flutuante. De 2008 a 2012, o prefeito não registrou alterações no patrimônio declarado.


Em Beruri e Jutaí, a evolução patrimonial dos prefeitos foi menor que 10%. Marlene Cardoso conseguiu aumentar seu patrimônio em pouco mais de 8%, em quatro anos de gestão antes da reeleição, e Odemilson Lima aumentou seu patrimônio em 5,55%, de 2008 a 2012, segundo dados do TSE. Dez gestores registraram perda de patrimônio Dos 25 prefeitos reeleitos no Amazonas, na última eleição, em 2012, dez registraram baixas nos patrimônios, em um período de quatro anos, segundo os dados disponibilizados pelo TSE.


Entre eles, quem mais saiu perdendo, percentualmente, entre a eleição, em 2008, e a reeleição, em 2012, foram os prefeitos de Envira, Ivon Rates (PMDB), e Anori, Sansuray Xavier (PSD), que diminuíram em mais de 60% seus bens em quatro anos à frente do Executivo municipal. Em 2004, Ivon Rates (PMDB) informou à Justiça Eleitoral, no pedido de registro de candidatura, ter um patrimônio de R$ 165 mil. Neste valor, estavam inclusos dois imóveis avaliados em R$ 120 mil, R$ 40 mil e R$ 80 mil cada, um automóvel de R$ 36 mil e uma motocicleta, avaliada em R$ 9 mil.


Quatro anos depois, em 2012, Ivon Rates disse ter três automóveis avaliados em R$ 64 mil. A ‘queda’ patrimonial foi similar à de Sansuray Xavier. Em 2008, ela disse ter R$ 50,5 mil distribuídos em quatro imóveis e uma conta bancária. Na disputa à reeleição, a prefeita disse ter R$ 20 mil declarados como “capital alferido por salário”. O então milionário prefeito de Boa Vista do Ramos, Amintas Júnior (PMDB), que disse ter, em 2008, R$ 1,083 milhão distribuídos em um terreno, três lanchas, duas casas, um apartamento em Belém, no Pará, e um automóvel, teve um decréscimo de 51,98% em seu patrimônio em quatro anos.


Em 2012, na disputa à reeleição, ele disse à Justiça Eleitoral ter R$ 520 mil, sendo três casas, dois carros e um terreno. Quem também teve decréscimos, que variam de 7,45% a 49,15% no patrimônio, declarado entre 2008 e 2012, foram os prefeitos de Canutama, João Ocivaldo (PP); Japurá, Raimundo Guedes (PCdoB); Novo Airão, Lindinalva Ferreira (PT); Novo Aripuanã, Raimundo Sá (PV); Parintins, Alexandre da Carbrás (PSD); Santa Isabel do Rio Negro, Mariolino Siqueira (PDT); Silves, Franrossi de Oliveira (PSD) e de Tabatinga, Raimundo Caldas (PDT), que ‘perdeu’ R$ 10 mil, em quatro anos. Valor do ouro disparou na última década Desde os primórdios da história, o ouro vem sendo utilizado como moeda. Valorizado porque tem o preço calculado de acordo com a demanda, o valor do grama do ouro disparou nos últimos dez anos, segundo dados da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), responsável pela negociação do ouro no Brasil.


Segundo a BM&F, até a última quinta-feira, um grama de ouro estava valendo R$ 123,50, no Brasil. De 2008 a 2012, segundo levantamento realizado neste mês pelo jornal O Globo, a valorização do grama do ouro chegou a 122%, no período. No mercado internacional, o ouro subiu de US$ 300 por onça (medida inglesa equivalente a 28,35 gramas) para US$ 1.600 por onça, no período de 15 anos, entre 1998 e 2012. O preço do ouro, na maioria das transações, é calculado através da ‘onça troy’, equivalente a 31,104 gramas.


De acordo com O Globo, o ouro é comprado em barras, a partir de 250 gramas. Há, ainda, contratos fracionários de 10 gramas e de 0,225 gramas. O ouro comprado fica guardado em cofres do Banco do Brasil e o investidor pode retirar na hora que quiser. No ato da compra, recebe-se um certificado de origem e pureza. Mas, para revender, é preciso levar o ouro até uma corretora, credenciada no BM&F, que realizará a avaliação e recompra. Há fundos de investimento que também investem em ouro, através de títulos lastreados no metal. Nesse caso, é preciso pagar uma taxa de administração do metal.