Corpo de Roberto Bolaños chega ao estádio Azteca - 30/11/2014 - Alfredo Estrella/AFP
Parentes, amigos e uma multidão de fãs de Roberto Bolaños se reúnem neste domingo no Estádio Azteca, na Cidade do México, para velar o corpo do criador de séries como Chaves eChapolin. Como pedido pela Televisa, a emissora mexicana que transmitia os programas do ator, muitos fãs comparecem ao local levando flores brancas — e outros tantos fantasiados como personagens dos seriados. Ainda não foram divulgadas informações sobre o enterro de Bolaños, morto na última sexta-feira de uma parada cardíaca, aos 85 anos.
No Brasil, a cerimônia é transmitida pelo SBT, a casa oficial do Chaves no país, durante oPrograma Eliana, que conta com um pianista no palco para executar ao vivo as músicas dos seriados e exibe entrevistas de arquivo de Bolaños. Ao mesmo tempo em que acontece o velório de Bolaños no México, fãs brasileiros se reúnem no Memorial da América Latina, em São Paulo, para visitar uma réplica do set da Vila do Chaves, montada pelo SBT.
De acordo com o SBT, os fãs que estão no Estádio Azteca, que tem capacidade para 100.000 pessoas, poderão tocar o caixão do ator. Logo depois, será celebrada uma missa para Bolaños.
Na noite deste sábado, o ator foi homenageado com uma missa fechada que teve a presença de familiares e personalidades do meio artístico na sede da Televisa. O caixão com o corpo de Bolaños saiu de Cancún, onde vivia o comediante com a sua mulher, Florinda Meza, intérprete da personagem Dona Florinda em Chaves. Momentos antes de abordar um dos veículos que levaram toda a família rumo ao aeroporto de Cancún, Florinda agradeceu o carinho recebido: "Obrigada por todo o apoio que deram a meu Roberto".
Popularidade — A morte de Bolaños deixou órfã uma geração de fãs brasileiros que cresceu assistindo aos episódios de Chaves, a sua principal criação, reprisados exaustivamente pelo SBT ao longo das últimas três décadas. Um grupo de admiradores fiel que, ignorando todas as limitações técnicas da produção, sempre garantiu ótimos resultados de audiência ao programa mexicano – e sempre mostrou um impressionante poder de mobilização a cada ameaça de cancelamento das exibições do seriado, com campanhas fora e dentro das redes sociais. Nesta sexta, com a notícia da morte do humorista, a direção do SBT estuda levar ao ar um especial para homenageá-lo.
Razão de tanto carinho, a história do garoto orfão que "sem querer querendo" inferniza a vida da vizinhança caiu nas graças do público apostando em piadas ingênuas e sem apelação: um exemplo claro do tipo de humor que Bolaños pregava. "Quando sobram piadas chulas, é porque falta talento", afirmou o mexicano em entrevista a VEJA em 1999. Mesmo não sendo um adepto do politicamente correto – como as pancadas de Seu Madruga em Chaves deixam claro –, Bolanõs fugia do humor preconceituoso nos seus roteiros. "Sempre evitei fazer piadas com raças, religiões, opções sexuais e mulheres. Aliás, nos meus programas as meninas sempre são mais inteligentes. No Chaves, era a Chiquinha quem arquitetava os planos mirabolantes", comentou.
Quem é fã do seriado sabe pelo menos cantar o refrão de Que Bonita sua Roupa, número musical exibido no episódio Uma Aula de Canto de Chaves, que é dedicado especialmente ao garoto maltrapilho que mora em um barril. “Que bonita a sua roupa / Que roupinha mucho louca / Nela é tudo remendado / Não vale nenhum centavo / Mas agrada a quem olhar”, diz a canção.
Pequeno Shakespeare - Antes de se tornar o criador – e o rosto – de Chaves, porém, Bolaños já havia construído uma sólida trajetória artística em seu país. Versátil, o mexicano trabalhou desde jovem nas mais diversas mídias: foi roteirista de programas de rádio, peças de teatro, esquetes de televisão e filmes no cinema – muitas vezes assumindo também o papel de ator. Tal habilidade rendeu ao multifacetado artista o apelido de Chespirito – "pequeno Shakespeare" –, alcunha pela qual ficaria conhecido no México até o fim da carreira, encerrada hoje.
A fama internacional, no entanto, só chegaria mesmo a partir dos anos 1970, com a criação de seus dois personagens mais famosos: o presunçoso herói Chapolin Colorado e o ingênuo Chaves. Dono de uma marreta biônica de plástico e de "anteninhas de vinil" sensitivas, Chapolin é uma divertida sátira dos infalíveis super-heróis dos quadrinhos americanos. A série colecionou um enorme número de fãs e conquistou o seu próprio status cult – camisetas com o emblema do personagem são um ícone pop até hoje –, mas seu alcance jamais superou o da outra criação de Bolaños.
“Roberto, você não se foi, permanece em meu coração e no coração de muitos que você fez felizes. Adeus, Chavinho, até sempre.”