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NOTÍCIA

"Não tenho o direito de cometer os mesmos erros do meu pai”

Segunda deputada mais votada da eleição, Janaina Riva não quer cometer erros do pai

Data: Domingo, 12/10/2014 00:00
Fonte: MIDIA NEWS/ DOUGLAS TRIELLI

Filha do deputado José Riva, Janaina Riva foi a segunda candidata à Assembleia mais votada

 
Única mulher a ser eleita deputada estadual em Mato Grosso, na disputa eleitoral deste ano, Janaina Riva (PSD) afirma que não quer cometer os mesmos erros que seu pai, o deputado estadual José Riva (PSD).


Segunda mais votada, com 48.063 mil votos, ficando apenas atrás do deputado reeleito Mauro Savi (PR), que somou 55.108 votos, Janaína disse, em entrevista exclusiva aoMidiaNews, acreditar que seu pai errou ao “abraçar o mundo” e fazer, muitas vezes, o papel de governador, sem ser reconhecido por isso.


Segundo a nova parlamentar, os próximos quatro anos serão dedicados à luta pelo municipalismo. 


Além disso, ela acredita que será uma voz “diferente” e “inovadora”, ao lutar por causas como o preconceito contra a mulher e leis em favor dos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros).


Janaina Riva deve, ainda, liderar o grupo de oposição à gestão do governador eleito Pedro Taques (PDT). 


No entanto, ela afirma que não teme ser a “única voz da oposição”, caso Taques consiga ter amplo apoio dentro da Assembleia Legislativa.


“Não tenho esse temor de ficar sozinha, ninguém é unanimidade, ninguém agrada todo mundo. O Pedro teve 57% dos votos, o que diz que 43% não o queriam como governador do Estado”, afirmou.


Confira a seguir os principais trechos da entrevista da deputada eleita ao MidiaNews:


MidiaNews - Que tipo de influência o seu pai, o deputado José Riva, terá em seu mandato?

 

"Meu pai tem que ser um grande orientador do meu mandato. Ele já sabe o que deu certo e o que deu errado, e eu não tenho o direito de cometer os mesmo erros que ele"

 

Janaina Riva - Meu pai tem que ser um grande orientador do meu mandato. Ele sempre respeitou muito nossa opinião dentro de casa. Vi grandes decisões que ele tomou dentro da Assembleia em que ouviu minha mãe, meus irmãos ou algum amigo. Ele sempre foi uma pessoa muito boa para ouvir, e eu, da mesma forma, sou boa para ouvir. Mas gosto, também, de tomar as minhas iniciativas e de ter as minhas posições. E foi isso que fez que meu pai me respeitasse tanto. Porque ninguém gosta de pessoa fria ou morna, pessoas que não tenham um posicionamento. E por isso que ele me escolheu, porque tinha certeza que eu saberia conduzir os meus trabalhos sem ele ter que ficar ao meu lado feito uma babá. 


Mas ele vai ser meu orientador, vai me ajudar, até porque ele já sabe o que deu certo e o que deu errado e eu não tenho o direito de cometer os mesmo erros que meu pai cometeu. Posso cometer até novos erros como qualquer ser humano, mas os erros velhos não poderão se repetir. Então, tendo ele ao meu lado, é uma segurança, é saber que tudo que eu for fazer terá alguém que me apoie, me ajude e aconselhe. Essa é uma preocupação que tenho até pela minha pouca idade, falta de experiência política. O que tenho é experiência de vivência, de campo.


MidiaNews - Você vai lutar, de alguma forma, para estar na composição da Mesa Diretora?


Janaina Riva - Não pretendo. Já tinha deixado isso claro no decorrer da eleição. Assim, já é uma forma de mostrar meu diferencial. Há outros deputados mais preparados que eu, que podem conduzir a Casa com mais tranquilidade. Acho que pelos problemas pessoais que o Pedro Taques tem comigo e com minha família, estar na presidência poderia prejudicar o andamento da Casa. Essa nunca foi minha intenção, acho que o Governo e a Assembleia terão grandes embates até que consigam caminhar juntos, mas não gostaria de, nesse primeiro instante, fazer parte disso. Posso contribuir muito mais como uma simples integrante daquela Casa do que como membro de Mesa Diretora. 


MidiaNews - Por acaso, teme uma perseguição, caso fosse eleita presidente da Assembleia?

Tony Ribeiro/MidiaNews

"Não pretendo disputar uma vaga na Mesa Diretora. Já tinha deixado isso claro, no decorrer da eleição"


Janaina Riva - Não é por isso, é pela falta de experiência para conduzir a Casa. Meu pai chegou à Assembleia quando eu tinha cinco anos, cresci lá dentro e tenho um respeito muito grande. Mais do que qualquer outro deputado, tenho um carinho muito grande pelos servidores do Poder Legislativo. E não gostaria que esse embate político que foi travado na eleição, que chegou ao nível pessoal, chegue até a Casa. Mas não tenho medo de nenhuma perseguição. Se tivesse nem teria me candidatado, sendo que sei o que vou enfrentar. A minha preocupação é de falar com conhecimento de causa, preciso estudar muito o regimento interno para não atrapalhar a condução da Casa, mas contribuir. 


Acredito também que daqui certo tempo de governo, o Pedro vai mudar muito. Vai ver que nem tudo era da forma como ele pensava que era. Tudo, hoje, tem que ser muito conversado. A decisão nunca parte de um só, vem sempre de um colegiado. E dentro da Assembleia você aprende isso, porque lá nada parte de um só. Num segundo momento podemos pensar em Mesa Diretora, quando já tivermos experiência, com trabalho feito e tendo vivido dois anos de governo para saber como vai ser o relacionamento do Legislativo e Executivo.


MidiaNews - Os processos contra o deputado Riva ou a cassação do mandato do seu marido, João Emanuel, chegaram a repercutir de forma ruim na sua campanha?


Janaina Riva - Repercute, às vezes, em comentários maldosos de pessoas dizendo que eu sou comandada pelo meu pai, pelo João. Isso para mim, como mulher, é uma coisa ofensiva. Isso é uma coisa que me magoa, por entender que há pessoas que ainda pensam muito pequeno. Mas acredito que isso não irá prejudicar em nada no meu mandato. 


MidiaNews - O deputado Riva sempre diz que o grande número de processos se deve ao volume de trabalho desenvolvido nos últimos 20 anos. Você teme algum tipo de perseguição nos próximos anos?

 

"Se você ocupa um grande cargo, acaba virando vidraça. Tem que estar muito preparada para isso, mais preparada do que eu me sinto agora."


Janaina Riva - Não tenho que temer nada. Tenho que estar preparada para esse tipo de coisa. Ele, ao se colocar na presidência da Assembleia por tantos anos, se colocou como uma vidraça. Foi a mesma coisa com o Silval Barbosa e será com Pedro Taques. Se você ocupa um grande cargo, acaba virando vidraça. Tem que estar muito preparado para isso, mais preparado do que eu me sinto agora. Pode vir a acontecer, mas acho difícil sendo apenas deputado e não estando no poder de executor, tal qual a Mesa Diretora. Porque é difícil você passar pela Mesa sem receber algum processo. Se um deputado comete nepotismo, quem responde é a Mesa da Assembleia. Então, os deputados da Mesa são muito visados, por responderem pelos 24 deputados. E esse cuidado eu já tive não querendo fazer parte da Mesa. 


E é lógico que não vou querer cometer o mesmo erro que meu pai cometeu. Ele abraçou o mundo, quis atender o Estado inteiro e por muitas vezes fez o papel de governador. E foi isso que o prejudicou tanto. Depois ele acabou não sendo tão valorizado quanto merecia. Na hora de pedir ajuda a ele, ninguém se importava com processos que ele respondia, mas na hora de apoiar se preocupavam. Sei que não foi em vão, mas não quero me comportar da mesma forma, porque vi que na política não é quem mais faz que é valorizado. Às vezes a pessoa não faz nada, mas, pelo discurso que tem, acaba vencendo uma eleição, que foi o que aconteceu. 


Tem que se preocupar, sim, com as coisas que podem vir a acontecer, porque as leis mudaram muito, são muito mais rígidas e rigorosas. Já vi caso de prefeito responder por improbidade administrativa por ter feito asfalto a mais com o mesmo recurso. Meu pai já respondeu por ter doado caixão, emprestado avião para decolar com doente. Então, tem que medir muito todas as suas atitudes. Sendo deputado você é espelho para muitas pessoas e precisa tomar um cuidado redobrado.
 

 

"Eu trato a Assembleia como minha segunda casa e a vida pública representa uma grande paixão que tento transmitir aos meus filhos"


MidiaNews - O deputado Riva é um homem público há muitos anos e você sempre esteve ao lado dele. Qual a sua memória afetiva em relação à política e a sua família?


Janaina Riva - Eu trato a Assembleia como minha segunda casa. Considero um sentimento até estranho, porque é uma coisa que é sua, mas ao mesmo tempo não é, porque só se garante por meio de um mandato. Mas a vida pública representa para mim uma paixão grande e tento transmitir isso aos meus filhos. Fiz uma carreata em Porto dos Gaúchos com meu pai, minha filha de cinco anos estava presente, e ele me lembrou que quando era mais novo, a criança na carreata era eu, e que daqui uns anos pode ser a minha filha que esteja na luta por um voto. Porque política é paixão, você consegue transmitir isso aos seus filhos e lá em casa todos sempre gostaram. E eu não tenho coragem de falar mal de nenhum agente político porque sei o quanto é difícil chegar lá. E ai quando você cresce com essa paixão, vendo a gratidão e adoração que as pessoas tinham pelo seu pai, motiva a seguir o mesmo rumo.


MidiaNews - Casou o momento de ele estar se aposentando da vida pública para você entrar?


Janaina Riva - Casou, era o cavalo arreado passando. Talvez não tivesse essa oportunidade daqui a quatro anos. Porque não foi uma continuidade, foi uma substituição. Se demorasse poderia dispersar os apoiadores. Então, casou para mim e para ele, porque ele já estava querendo deixar a vida pública e eu estava querendo um dia ser candidata. E foi bom, porque cresci e amadureci muito. Ele acabou também sendo candidato, até setembro, e teve pouco tempo para me acompanhar. Tive que alçar voo sozinha, sofri, mas em contrapartida ganhei uma experiência de campanha grande que vou poder usar nas próximas campanhas. Talvez, se eu o tivesse sempre ao meu lado, poderia ter me acomodado. Foi importante até para me valorizar. Ele me disse depois que não imaginava que eu fosse ter facilidade para virar representante desse povo que sempre o seguiu e votou nele.


MidiaNews - Qual deve ser a prioridade do governador eleito Pedro Taques?


Tony Ribeiro/MidiaNews

"Talvez não tivesse essa oportunidade daqui a quatro anos. Porque não foi uma continuidade, foi uma substituição"

Janaina Riva - A prioridade deve ser a Saúde. Ele disse em uma de suas últimas entrevistas que a saúde será tratada como prioridade e eu concordo. Os deputados também terão que contribuir com isso, nem que seja abrindo mão da emenda. Terão que dar contribuição para resolver o problema da saúde, que não é um problema só do governador, é de todos nós políticos. Se conseguirmos construir esse hospital estadual já vai desafogar, e muito, o Pronto-Socorro de Cuiabá e vai resolver um pouco nossa necessidade de UTIs, leitos, entre outras coisas.


MidiaNews - O prefeito Mauro Mendes prometeu, na campanha de 2012, que iria construir um novo Pronto-Socorro para Cuiabá, mas o projeto ainda não saiu do papel. Taques também prometeu um hospital com 350 leitos. Você acha que os projetos estarão prontos daqui quatro anos?


Janaina Riva - Vai ser questão de prioridade. Dá para ser feito, mas precisa de muita vontade, cortar gastos excessivos com terceirizadoras, grandes licitações de aluguel de carros, de passagens, e de tantas coisas que perto da Saúde não 

 

"A Prefeitura de Cuiabá poderia ter feito o pronto-socorro, se o tivesse priorizado. Teve várias ações da prefeitura que elevaram o custo e que poderia ter priorizado na saúde."


tem nenhuma importância. Se conseguirmos fazer com que o Estado economize como um todo, vamos conseguir construir esse pronto-socorro e também o hospital. O Ministério Público já fez um pedido para que a Assembleia inclua na LOA a construção do Hospital Central. Então, ele terá que ser construído. 


Mas vai ser questão de prioridade, se vai investir na saúde, talvez falte para o asfalto ou no complemento para a educação e segurança, porque não temos condições de fazer tudo de uma vez. A Prefeitura de Cuiabá, por exemplo, poderia ter feito o pronto-socorro se tivesse priorizado. Teve várias ações da prefeitura que elevaram o custo e que poderia ter priorizado na saúde. Falta muita coisa nesse setor, faltam leitos, equipamentos básicos, medicação e não houve uma prioridade em cima disso. Mas no que eu puder fazer para contribuir na construção desse hospital irei fazer.


MidiaNews - Seu pai chegou a denunciar uma cooperativa que teria o objetivo de burlar o fisco. Um maior combate à corrupção poderia ser uma forma de aumentar os recursos.


Janaina Riva - Com certeza. Esse dinheiro que foi para essa cooperativa fraudada daria para construir quatro hospitais estaduais. São R$ 500 milhões que deixaram de ser pagos ao Governo. Esse dinheiro de imposto ficou tudo para a cooperativa que é formada só por funcionários do Eraí Maggi. Então, se tiver uma fiscalização dentro da Assembleia que seja mais rigorosa, vai mudar. Uma das primeiras coisas que farei será um levantamento dos nomes de quem recebe incentivo dentro do Estado. Porque o Estado não deveria incentivar empresas, deveria incentivar setores. Você ouve muita falar dos incentivos para agricultura, mas o feirante que planta na rua não recebeu um centavo disso, esse dinheiro fica para poucos. Já recebi denúncia que pessoas compram esse incentivo. Isso não pode existir. Esse dinheiro que acaba sumindo dos cofres públicos é o que está fazendo falta. R$ 500 milhões em um Estado que tem orçamento de R$ 13 bilhões é muita coisa.


MidiaNews - O governador eleito teve 13 partidos em sua coligação e contou com apoio de megaempresários. Durante toda a campanha, o discurso dele foi de combate à corrupção. Você acredita que ele conseguirá combater esses problemas?

"É muito fácil pregar um moralismo, honestidade. Agora, o Taques vai ter que provar a população se são verdadeiras ou não essas palavras"


Janaina Riva - Ela vai ter que mostrar isso no mandato. É muito fácil você falar e pregar um moralismo, honestidade, mas agora ele vai ter que provar a população se é verdadeiro ou não essas palavras. 


Essa questão da fraude na cooperativa já vai ser o início para ele demonstrar se veio para fazer justiça para o povo ou não. O proprietário colocou muito dinheiro na campanha dele. Vai ter que demonstrar a independência nesse primeiro instante. Até porque a ausência desse dinheiro prejudicou e muito o Estado. E esse valor é estimado, não sabemos até que ponto pode ir e onde mais aconteceu. Se aconteceu em uma cooperativa, todas terão que ser investigadas.


MidiaNews - Você teme ser a única voz de oposição dentro da Assembleia?


Janaina Riva – Hoje, acredito que temos vários deputados que de oposição, não sei como vai ser no decorrer do mandato. Mas não temo ser a única voz de oposição, e mesmo que seja, serei muito respeitada. Além disso, há pessoas com perfil emblemático, como o Zé do Pátio, o Wilson Santos, que foi eleito na base deles, mas sempre foi uma figura independente. Pode ser que eu seja a única oposição, mas teremos outros independentes.


E não tenho esse temor de ficar sozinha, ninguém é unanimidade, ninguém agrada todo mundo. O Pedro teve 57% dos votos, o que diz que 43% não o queriam como governador do Estado. Tenho certeza que eles querem um representante na Assembleia. E se eu for uma voz única, a tendência é que venha a me destacar lá dentro, por ser diferente. 


MidiaNews - Vai se espelhar no modo de fazer política do deputado Riva?


Janaina Riva - Sim, tenho que me espelhar nesse modo de fazer política participativa, com presença e posicionamento independente. Tenho que me espelhar e tirar como exemplo para fazer valer tudo àquilo que deu certo e que dê para executar novamente. Sou filha de um homem que na última eleição teve 94 mil votos. E nessa eleição, o deputado mais bem votado fez 40 mil votos a menos. Não tenho dúvida de que se ele fosse candidato a estadual, novamente, passaria de 80 mil votos, por ser essa pessoa presente e ser uma expressão política. 


MidiaNews - Ser candidata foi uma escolha ou imposição?


Janaina Riva - Foi uma escolha do grupo, nós não podíamos ficar sem candidatos. Discutimos mais de 15 vezes, em reuniões, quem seria essa pessoa. Coloquei que poderia ser outra pessoa pelo momento que eu estava vivendo, grávida. Mas sempre tive um sonho, desde menina, em ser deputada, exercer cargo político. Mas depois, com passar das discussões, chegamos à conclusão que não teríamos um nome melhor que não fosse o meu, que eu não poderia deixar de passar essa oportunidade. Até porque um grupo sem um líder ia acabar se dispersando. Nosso objetivo foi manter o grupo unido, Achávamos que a única forma de manter todos unidos era colocar alguém que tivesse uma ligação muito forte com meu pai. E não tinha outra pessoa que não fosse eu. Mas foi bem complicado por eu ter dois filhos, ser dona de casa...Teve momentos da campanha que tive que tirar pelo menos dois dias para ficar com meus filhos, ir a escola conversar com a professora, levar eles ao médico e dar a atenção que toda mãe precisa dar. E eles sentiram muito a minha ausência. Esse foi o maior motivo que colocava em dúvida se eu iria disputar a eleição ou não. Mas quando chegamos à conclusão de que seria eu, pedi que todos tivessem paciência. Porque eu não seria outro Riva, que visita de 5 a 8 municípios em um dia. Nem preparo física eu tinha. Mas aí todos entenderam, me apoiaram, ajudaram, e deu certo. Espero que daqui a quatro anos eu esteja preparada para andar muito mais.
 

Tony Ribeiro/MidiaNews

"Saímos enfraquecidos. Era importantíssimo, por exemplo, termos candidatos eleitos na Câmara Federal"


MidiaNews - Quantos municípios percorreu, na campanha eleitoral?

Janaina Riva - Consegui ir a 110 municípios, aproximadamente. Não consegui passar em todos, fui a alguns que sabia que não teria votação expressiva, mas fui para fortalecer a majoritária, a candidatura ao governo, e acabei conhecendo boa parte do Estado. 


MidiaNews - Em algum momento da campanha, o grupo passou por dificuldades financeiras?


Janaina Riva - Todo período eleitoral foi com dificuldade financeira. Isso se deve, primeiro, ao indeferimento de registro do nosso candidato a governador do Estado, e também a falta de planejamento do grupo. As candidaturas não foram planejadas, não esperávamos encontrar essas dificuldades na candidatura majoritária. Mas todos enfrentaram algum tipo de dificuldade financeira, não só a nossa coligação. Acredito que o único grupo que não teve esse problema foi o do Pedro Taques. 


MidiaNews - O PSD saiu enfraquecido dessa eleição?

Janaina Riva - Com certeza, saímos enfraquecidos. Era importantíssimo, por exemplo, termos candidatos eleitos na Câmara Federal. Pena que nem todos do partido entenderam dessa forma. Tivemos vários deputados estaduais que apoiaram candidatos de outros partidos a nível federal. Tivemos prefeitos que também apoiaram outros candidatos. Faltou essa união. Acredito que no decorrer desses quatro anos o partido vai sentir muito essa ausência e a importância que é você ter um representante federal do seu partido. Acho que os líderes do PSD só vão entender o prejuízo que tivemos ao longo deste mandato.


MidiaNews - Ao que você atribui esse enfraquecimento no Estado?

Janaina Riva – Foi, novamente, pela falta de planejamento e união do grupo. O que faltou foi uma articulação dentro do partido para que tivéssemos mais lealdade partidária. Essa questão financeira também prejudicou. Basta ver que quem foi eleito, dos candidatos a federal, foram os que tinham a maior estrutura de campanha. Além disso, o derramamento de dinheiro foi muito grande, chegou a ser descarado. Tinha candidato com previsão de 35 mil votos e nos últimos dias já tinha previsão de 105 mil votos. O que fez diferença nesses casos não foi a presença do deputado, até porque em uma semana não dá para percorrer mais de 30 municípios. Isso foi o volume financeiro, que na maior parte da campanha, em especial aos federais, faltou. Vejo federais que se elegeram gastando R$ 10 milhões. E nem o Chico Daltro ou o Eliene Lima tinham condições de enfrentar esse poderio.


MidiaNews - No entanto, na Assembleia, o PSD é a segunda maior bancada, com quatro deputados, sendo você a segunda mais votada. 


Janaina Riva - O mérito de eu ser a segunda mais votada, em grande parte, é do meu pai. Analiso que em pouco tempo você se faz conhecido por já ter um nome político, experiência, um campo de apoio grande ou se faz conhecida através do dinheiro. Então, o apoio do meu pai foi muito importante. Acho que 98% dessa vitória se deve ao nome dele. E isso não é só comigo, qualquer outro candidato que ele apoiasse não teria dificuldade de eleição. Mas também teve um esforço muito grande da minha parte que as pessoas não esperavam. 


"Minha atuação será de oposição, mas de forma propositiva, que era o que faltava na Assembleia"


O PSD saiu fortalecido no âmbito estadual, com quatro deputados, mas esperávamos mais. Esperávamos até seis e com todas as votações superiores ao que tivemos nas urnas. O Mauro Savi, por exemplo, já sabíamos que seria o primeiro, mas todos esperavam uma votação de 80 mil. Acredito que a questão da abstenção de votos influenciou muito na queda de resultado. 


MidiaNews - Por que você acha que houve tanta abstenção nas eleições deste ano?

Janaina Riva - Acho que é pelo descrédito que a classe política vive. As pessoas estão desanimadas por não ver chegarem até elas os benefícios que estão na mão do Estado. E grande parte dessa abstenção deve ter vindo da zona rural do Estado. Eu sempre fui uma pessoa contra a obrigatoriedade do voto. Não faz parte da discussão estadual, mas se eu estivesse na federal abraçaria essa causa, porque acho que tem que votar quem quer, porque diminuiria a compra de voto e diversas outras coisas que vimos acontecer esse ano.


MidiaNews - Como será a sua atuação na Assembleia?

Janaina Riva - Minha atuação será de oposição, mas de forma propositiva, que era o que faltava na Assembleia. A oposição tem que vir para contribuir. Você não pode só questionar e falar mal sem apresentar uma solução. Tenho que ter soluções para o Estado até para poder sentar com o próximo governador e contribuir. Tenho certeza que o Pedro Taques e os outros deputados vão saber respeitar essa minha oposição. Mas essa oposição não será em tudo, terá vários momentos em que vamos concordar. Um exemplo é a construção do Hospital Estadual, que acho que deve ser a prioridade. Já em outros pontos vou ter que lutar contra, como na situação da CPI dos incentivos fiscais que foram concedidos a cooperativas fraudulentas. Isso, sim, teremos que nos opor, mas o que for para benefício da população irei apoiar. É preciso ressaltar que não terei nada que me prenda ao Governo, não vou ter cargos ou nada que venha a reprimir a condução dos meus trabalhos, não vou ter rabo preso com ninguém.


MidiaNews - A oposição pode ser vista como um controle de qualidade do Governo. Na gestão do governador Silval Barbosa quase não houve oposição. Você acha que faltou esse controle de qualidade na gestão Silval?

 

"Quando fui madrinha da parada gay, estava abraçando a causa como cidadã. Agora, vou continuar abraçando a causa como deputada estadual. E não vejo no que isso prejudique o evangélico, católico ou qualquer cristão."


Janaina Riva - Sim, a oposição foi muito fraca nesse governo. Em vários momentos, a situação era mais oposição que a oposição. Os comentários mais ásperos que partiam da Assembleia vinham do meu pai, que era da situação, mas não deixava de colocar o seu posicionamento e registrar tudo aquilo que achava que deveria mudar. Acho que as coisas não caminhavam como deveria justamente por causa dessa dependência do governo que os deputados viviam. E isso é uma coisa que não vou ter. Por exemplo, tem coisas que não deveriam ter sido discutidas há mais de dois anos e não no período da eleição, como o caso das OSS. O que eu vi é que deixaram tudo guardado para o período da eleição e que de dois deputados de oposição pulou para quase 80%. Isso não pode existir, você tem que manter seu posicionamento lá dentro, independente das vantagens que você venha a auferir ou não.


MidiaNews - Por ser mulher, e a única na Assembleia, teme sofrer algum tipo de preconceito?

Janaina Riva - Claro, já sofri durante as eleições. Além de ouvir comentários de que sou comandada por ou A ou B, também vivi situações de chegar para pedir voto e levar uma cantada. As pessoas não levam a mulher na política a sério, não dão credibilidade. Então, tenho um desafio muito grande de mostrar que mulher tem voz, força e expressão. Vou me empenhar para combater esse tipo de preconceito e discriminação. Ou por ser bonita, loira, mulher ou qualquer outra coisa. Fui muito combatida durante a eleição pela minha defesa pelo LGBT, trabalho contra o preconceito e discriminação. Mas não pretendo mudar minha postura. Eu, como mulher, me sinto muito discriminada e me coloco, também, na situação dessas outras tantas pessoas que se sentem discriminadas dentro do Estado. E eles terão uma voz dentro da Assembleia. 


MidiaNews - De que forma, na Assembleia, você pretende combater essa imagem contra a mulher?

Janaina Riva - Acho que a minha postura vai fazer todo o diferencial. Ter essa postura independente já mostra a diferença. Mas preciso ainda estudar muito. Aprender todo o regimento interno, até ganhei um do meu pai, vai ser minha leitura obrigatória. Mas não acredito que vou sofrer qualquer tipo de preconceito dentro da Casa. Já estive com os deputados, até com os novatos, e lá todos são considerados iguais, não tem distinção entre homem e mulher. O problema vem, geralmente, da mídia, da população. 


MidiaNews - Você chegou a ser madrinha da parada gay em Cuiabá. O que se pode fazer no Estado pelos LGBT?

Janaina Riva - Tem uma lei, do Alexandre Cesar, que criminaliza a homofobia dentro do Estado, mas está parada. Então, antes de eu chegar a Casa e abraçar qualquer projeto vou ter que ver o que nós já temos lá, o que não conseguiu ser aprovado, o que não foi para votação, para, então, quer que atitude tomar. E esse combate à homofobia pode ser feito de várias formas, como, por exemplo, através de audiências públicas. Mas os grandes embates com relação à homofobia são mais na parte federal, como a mudança de lei, que vem de lá. Dentro do Estado o que podemos fazer é coibir atitudes preconceituosas contra os LGBT. A união civil de pessoas do mesmo sexo já existe, temos que nos adaptar a essas mudanças que ocorrem a nível federal. O Estado não pode se opor às leis federais, virar as costas e fingir que não vê. Nós vivemos em um dos Estados mais violentos para os gays. Quando fui madrinha da parada gay estava abraçando a causa como cidadã, agora vou continuar abraçando a causa como deputada estadual. E não vejo no que isso prejudique o evangélico, católico ou qualquer cristão. O limite do respeito de um é onde inicia o do outro. Não vou ter medo de apoiar essa parte da população que está, hoje, desamparada com relação a representantes.


MidiaNews - Esse assunto foi pouco debatido pelos candidatos ao Senado de Mato Grosso, assim como a questão do aborto. Você acredita que há um temor em abraçar causas polêmicas durante campanha eleitoral?


Janaina Riva – Com certeza. Ter medo de travar grandes embates mostra que não está preparado para ser senador da República. Porque qualquer político tem que ter posicionamento a respeito de todo e qualquer assunto. Por mais polêmico que seja, você tem que manifestar. Vi muitas pessoas não sabendo em quem votar ou optando em votar em branco pela decepção nessas pessoas que não tem coragem de se manifestar. Essa coragem não pode faltar em qualquer político. Você escolhe alguém para te representar, se essa pessoa não tem a coragem ou audácia para te defender, para que ela vai servir lá dentro? Vejo que os LGBT tem que se unir para fazer representantes para mudar essa situação. Se não irão passar mais quatro anos e outros quatro e não teremos a discussão necessária sobre o tema.
 

 

"Qualquer político tem que ter posicionamento a respeito de todo e qualquer assunto. Por mais polêmico que seja, você tem que manifestar. "



MidiaNews - E qual será seu foco de atuação dentro da Assembleia?

Janaina Riva - Meu pai sempre focou muito no municipalismo e eu não poderia ser diferente, porque grande parte dos meus eleitores são eleitores dele. O municipalismo significa a presença do deputado dentro do município, ajudando a mudar a ausência da pavimentação asfáltica, atendimento básico à saúde, falta de remédio, médicos, etc. É como vou me pautar e por isso estar presente é importante. Por isso sempre julguei importante ter um governador que fosse do interior e soubesse o quanto lá é difícil. Às vezes pode ter a saúde, mas não tem a estrada que faz com que você chegue até lá. Nós temos distritos a mais de 350 km dos municípios, como é o caso de lugares em Colniza que estão com as estradas em péssimas situações. Se chover, são mais de três dias para conseguir chegar ao município-mãe. Então, é essa atenção municipalista que as pessoas querem. Que você vá de frente aos problemas e apresente soluções. E é assim que vou me pautar, apresentando propostas para melhorar a qualidade de vida da população.


MidiaNews - O deputado José Riva chegou a falar em uma futura candidatura sua ao Governo. Você já está planejando concorrer ao Palácio Paiaguás?


Janaina Riva - É uma brincadeira dele que eu não tenho nem idade para assumir, nem nessa, nem na próxima. Ele brinca porque estou começando muito jovem, com 25 anos, e as pessoas criam muitas expectativas. Mas meu futuro vai depender de como serão esses quatro anos, como será meu desempenho. Nunca fomos oposição, não sabemos o que vamos enfrentar pela frente. Mas te garanto que não será no próximo pleito, porque não terei a idade mínima de 30 anos e há outras pessoas na fila que querem disputar essa eleição. Meu pai é um apaixonado por mim e tem sonhos de que eu seja uma grande política no Estado, não necessariamente como governadora. Acho que seria uma boa legisladora também em nível federal, porque não teria medo de embates importantes e polêmicos.