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NOTÍCIA

Desocupação de terra xavante pode ocorrer a qualquer momento, diz PF

Reserva xavante Marãiwatsédé fica na região nordeste de Mato Grosso. PF aguarda momento certo para usar a força na área, avisa delegado.

Data: Quarta-feira, 12/03/2014 00:00
Fonte: Renê Dióz Do G1 MT
Famílias que voltaram às terras se concentram na área conhecida como Posto da Mata. (Foto: Agência da Notícia)
Famílias voltaram às terras de Marãiwatsédé.
(Foto: Agência da Notícia)

Invadida por posseiros, a terra indígena Marãiwatsédé pode sofrer ação policial de desocupação com uso de força a qualquer instante. O aviso foi dado na terça-feira (11) pelo delegado Marcelo Xavier, chefe da Polícia Federal (PF) em Barra do Garças (cidade a 516 km da capital). O delegado assegurou que cumprirá a decisão judicial do último dia 28 determinando a retirada de todos os não-índios da reserva xavante e informou que só espera o melhor momento para colocar as equipes para agir numa desocupação forçada.


Em entrevista ao G1, Xavier informou que agentes da PF já estão na área da terra indígena, localizada na região nordeste do estado. O intuito é cumprir a decisão da Justiça Federal, proferida pela 1ª Vara de Mato Grosso, mas por enquanto os agentes têm orientado os invasores a se retirarem com seus bens voluntariamente.


Segundo o delegado, durante a ação policial será decretado o perdimento de todos os bens que porventura permanecerem na reserva, daí a orientação de saída voluntária. Porém, ele alertou que a tolerância ao descumprimento da decisão judicial já se esgotou e que, por isso, a qualquer instante as forças policias estão preparadas para deixar o regime de monitoramento e entrar nos 165 mil hectares da reserva de forma ostensiva.

 

Invasão
Ex-ocupantes do local demarcado como reserva xavante Marãiwatsédé, posseiros expulsos em processo de desintrusão levado a cabo entre 2012 e 2013 voltaram às terras este ano.


Primeiramente os invasores reocuparam a área central conhecida como “Posto da Mata” e, em seguida, dispersaram-se entre as antigas fazendas. Segundo o presidente da Associação dos Produtores da Suiá Missú (Aprosum), Sebastião Prado, as famílias resolveram retornar porque haveria possibilidade de recurso no processo referente às terras e porque o governo federal não cumpriu promessa de reassentar as famílias mais carentes após a desintrusão.


Imagem de sobrevoo realizado por comissão do Mapa em plantações deixadas na reserva indígena (Foto: Wanderlei Dias Guerra / Mapa)Posseiros estariam retomando fazendas deixadas dentro do que agora é a terra indígena Marãiwatsédé.(Foto: Wanderlei Dias Guerra / Mapa)

Na última semana, monitoramento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) confirmou que os invasores já estão reconstruindo suas casas e a associação dos produtores divulgou a presença de 400 a 500 famílias no local.


Segundo Xavier, entretanto, a realidade na reserva é diferente. Ele confirmou a reconstrução das casas, mas afirmou que tratam-se de estruturas bastante precárias, como barracos de lona e palha. Algumas das cerca de dez construções abandonadas dentro da terra indígena desde a desintrusão estariam sendo reaproveitadas.


'Massa de manobra'
Parte do gado também foi reintroduzida na área. O delegado preferiu não informar o número de invasores constatado pela PF, mas classificou como “falácia” a informação divulgada pelos produtores rurais resistentes de que haveria pelo menos 400 famílias de volta a Marãiwatsédé. A divulgação desse número, apontou, seria parte da tentativa de alguns produtores expulsos da área de insuflar o movimento invasor arregimentando – como “massa de manobra” – agricultores e posseiros carentes crentes na ideia difundida de que ainda há uma possibilidade de se reverter a demarcação da reserva xavante.


Os responsáveis apontados pelo delegado seriam “agitadores” que podem vir a responder por incitação ao crime, formação de quadrilha, desobediência a decisão judicial, invasão de terra pública, crime ambiental e até por incêndio - devido à destruição de um prédio da Fundação Nacional do Índio (Funai) na área.


“As pessoas estão sendo ludibriadas com isso. São pessoas instruídas que estão usando a população carente como massa de manobra para retornar para a área”, declarou o delegado.