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NOTÍCIA

Burocracia é o grande obstáculo para pequenos empreendedores

Ranking do Banco Mundial coloca Brasil na 116ª posição de melhores lugares para se abrir um negócio

Data: Domingo, 10/11/2013 00:00
Fonte: Jornal do Brasil Amanda Rocha*

O relatório anual Doing Business do Banco Mundial colocou oBrasil no 116º lugar entre os países que apresentam melhores condições para a vida de um empreendedor. Apesar de ter subido algumas colocações, já que, no ano passado, ocupava a 130º posição, o posto não é bom. O ranking, feito com 189 países, mostra que há muito para ser melhorado. 


De acordo com a pesquisa, são necessários 13 procedimentos para se iniciar um projeto no Brasil. Em Singapura, o primeiro lugar em facilidades segundo o Banco Mundial, são três procedimentos. Se apenas um brasileiro cuidasse dos impostos de uma empresa, o funcionário gastaria 2.600 horas para isso, enquanto em Singapura 82 horas são suficientes. Segundo o relatório, o problema não se restringe apenas às leis, mas também se situa na capacitação dos trabalhadores. "Considere o Brasil, onde a indústria da construção tem expressado forte e crescente demanda por inspeções baseadas na análise dos riscos. No entanto, por conta de um quadro legal fraco e pela pouca disseminação de uma metodologia de avaliação de risco, somente São Paulo foi capaz de implementar um sistema - e ele permanece limitado. Muitos profissionais não tinham conhecimento suficiente e não foram bem treinados", conclui o documento. 


Um obstáculo unânime para os pequenos empresários é a burocracia. Segundo Daniela Longobucco, da área de Empreendedorismo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), o processo para a abertura de uma empresa é moroso. "Em outros países, os empreendedores conseguem abrir em horas e pela internet. O governo precisa criar mecanismos para melhorar esse cenário", diz. E o governo já colocou em prática algumas ações para facilitar o caminho não só das microempresas, mas também das pequenas, médias e grandes. A Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios é uma delas. Conhecida como Redesim, é um sistema que faz a integração de todos os processos responsáveis pelo registro, inscrição, alteração e baixa de empresas por meio de uma única entrada de documentos. Infelizmente, nem todos os municípios do país adotaram o processo ainda. Após ser totalmente implantada, a rede permitirá o funcionamento imediato das empresas que não são consideradas de alto risco. Estima-se que elas correspondam a mais de 70% do total de sociedades em funcionamento no país. 


A falta de um critério maior para diferenciar empresas de alto e baixo risco também prejudica o processo. Segundo Juliana Lohmann, analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) do Rio de Janeiro, é preciso rever as exigências requisitadas a cada negócio. “Investimentos de baixo risco não precisam cumprir todas as exigências de um de alto risco. Uma padaria, por exemplo, não deveria se submeter à mesma quantidade de condições que um posto de gasolina. Se essas exigências forem definidas, uma triagem já se cria”, sugere. Juliana atenta ainda para a dificuldade que uma empresa enfrenta para se manter enquanto espera a abertura do negócio. “Precisa-se de fôlego. Se são necessários 180 dias para conseguir a licença, vai ser preciso esperar seis meses pagando aluguel sem ter nada entrando no caixa ainda. Muitas vezes até os funcionários já foram contratados”, diz. O problema se estende às dificuldades que uma pequena empresa enfrenta para se manter no mercado. “Conseguir bons fornecedores e bons compradores é necessário. Muitas vezes, ele [o empresário] tem apenas um fornecedor e se, por algum acaso, deixa de fornecer, um dia de trabalho é perdido”, explica. 


Marco Reis, diretor titular adjunto da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) concorda com Juliana. Segundo ele, as dificuldades são tantas que muitos empresários desistem por não conseguir se manter ou desistem até mesmo antes de ver seu negócio aberto. “Para um pequeno empreendedor, não dá pra enxergar lá na frente. O planejamento em longo prazo é muito difícil. Já há a dificuldade normal de se preparar, fazer a gestão, cuidar do produto. Acaba virando um homem faz-tudo”, diz. E se engana quem pensa que a única dificuldade está em abrir uma empresa. Para fechá-la, outras diversas burocracias surgem. Marco conta que o processo é bastante complicado e alguns negócios esperam anos pelo seu fechamento. “Uma empresa inativa deveria se encerrar automaticamente, mas não é isso que acontece. Algumas indústrias em São Paulo já esperam há quase 10 anos por isso porque não é um processo que depende apenas de você. Depende de muitas organizações”, diz. 


A capacitação dos profissionais é vista igualmente como uma dificuldade. Segundo Daniela Longobucco, da área de Empreendedorismo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), é necessário um trabalho de base desde o começo da educação. "É preciso trabalhar o empreendedorismo na escola cada vez mais cedo, na formação de uma postura para vida profissional. Empreendedores são pró-ativos, inovadores, criativos, persistentes e têm atitude. Apostando nisso, com certeza o indivíduo estará preparado para a universidade e as empresas terão mais chance de se perpetuar", explica. 


Os obstáculos são muitos, mas há também incentivos. Diversos programas atuam no mercado como fomentadores de pequenos negócios. A Firjan recrutou mais de 200 jovens alunos do Sesi e do Senai para que virassem empreendedores. O projeto “Desafio na Real” propõe que eles pensem em soluções para problemas que afetam a escola e vendam sua idéia em cinco minutos. Já a Puc-Rio mantém o Instituto Gênesis, uma unidade complementar da universidade focada em formar empreendedores. Como uma espécie de incubadora de projetos, conta com a colaboração do Consórcio do Desenvolvimento, órgão consultivo formado por instituições parceiras. Eventos e feiras também não faltam. Realizada anualmente em diversas cidades do país, a Feira do Empreendedor, promovida pelo Sebrae, é um exemplo que estimula o surgimento, ampliação e diversificação de empreendimentos sustentáveis. A próxima cidade em que a feira estará será o Rio de Janeiro, entre os dias 28 de novembro a 01 de dezembro.


*Do programa de estágio do Jornal do Brasil