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NOTÍCIA

A riqueza pobre

Data: Quarta-feira, 10/11/2010 00:00
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Fonte: Gazeta Digital/Da Editoria

Na divisa entre Mato Grosso e Rondônia, mais precisamente nos municípios de Aripuanã e Espigão do Oeste, há uma das maiores minas de diamantes do mundo, localizada na reserva indígena Roosevelt, habitada por índios cintas-largas. O local é objeto de incursão de garimpeiros de toda parte do Brasil e alvo da cobiça internacional.

A descoberta dessa fenomenal mina ocorreu nos fins do século passado. Para se ter uma ideia, a área tem 2,6 milhões de hectares, o equivalente a 2,6 milhões de campos de futebol. Outro exemplo da grande riqueza do Brasil é o fato de ter-se descoberto há poucos anos um raro quimberlito, a rocha vulcânica onde é encontrado o diamante.

Estudos divulgados pela Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM), órgão do Ministério das Minas e Energia, a rocha tida como a única do Brasil, tem capacidade para produzir no mínimo um milhão de quilates (1/5 de grama) de pedras preciosas, o que representa uma receita anual de mais de US$ 200 milhões ou quase R$ 400 milhões.

O CPRM atesta ainda que essa mina de diamantes nos dois estados brasileiros é uma das 5 maiores do mundo, junto com as do Congo e em outros países da África. Por esse motivo houve muito derramamento de sangue de garimpeiros brasileiros, obcecados pela riqueza rápida, mas encontraram-se com grupos indígenas e nunca mais saíram da reserva.

A extração em terra indígena é ilegal, conforme lei especifica, que só pode ser mudada mediante aprovação do Congresso Nacional. Evidente que mexer nesse ninho de vespas é deixar aberta uma janela para o local se transformar em uma nova Serra Pelada, o garimpo mais desumano do mundo, um formigueiro que deixou de existir há uns 20 anos.

Além disso pode-se dizer sem medo de errar que a área seria devastada ambientalmente e levar à morte centenas de indígenas.

Mesmo assim com essa proibição, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a Polícia Federal estimam que US$ 20 milhões de diamantes saíram clandestinamente do país todos meses entre 2001 e 2004.

Essa situação cria um paradoxo. Os cintas-largas são donos da terra e por conseguinte devem usufruir o que nela tem. Mas não podem. Isso leva a comunidade indígena a ficar na clandestinidade, ou seja, retiram as pedras, vendem a míseros trocados e continuam empobrecidos.

O problema está na legalização ou não da retirada de pedras e também até de madeiras das reservas indígenas ou de preservação ambiental. Enquanto isso, muitas autoridades fazem ouvido de mercador.