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NOTÍCIA

Projeto da 'cura gay' divide opiniões na Marcha para Jesus em SP

Jovens discordam de decreto legislativo, mas acreditam em 'cura por Deus'. Segundo organização, 21ª edição do evento reuniu 2 milhões.

Data: Sábado, 29/06/2013 00:00
Fonte: Luna D'Alama Do G1, em São Paulo

 

O projeto de decreto legislativo do deputado João Campos (PSDB-GO) para derrubar a determinação do Conselho Federal de Psicologia (CFP) contra tratamentos pela cura da homossexualidade, que ficou conhecido como "cura gay", divide opiniões entre jovens que participaram neste sábado da Marcha Para Jesus. A 21ª edição do evento, realizado na Zona Norte de São Paulo, reuniu 2 milhões de pessoas segundo a organização. Mesmo entre os evangélicos presente na marcha, há quem se manifeste contrário à medida que permitirá a psicólogos realizar tratamentos para reverter a orientação sexual dos pacientes. Os jovens ouvidos pelo G1 são contra o projeto, mas acreditam, sim, na "cura por Deus".


O projeto da "cura gay" foi aprovado na Comissão de Direitos Humanos da Câmara, presidida pelo deputado e pastor Marco Feliciano (PSD-SP), e ainda precisa passar por outras comissões e pelo plenário do Congresso.


O operador de telemarketing Daniel Luiz da Silva, de 33 anos, é a favor do projeto, que foi colocado em votação por Feliciano. “É um projeto de Deus, Deus pode curar todas as pessoas. Tenho vários amigos gays, respeito todos, e muitos querem sair disso, se livrar do desejo da carne, se relacionar com uma mulher. Mas isso (ser homossexual) acaba sendo mais forte”, afirma Daniel.


Segundo ele, a igreja, os médicos e os amigos devem acolher os gays e dar apoio a eles. “Jesus veio para todos”, destaca.


O diácono Rogério Braga, da Renascer, com a mulher, Débora (Foto: Luna D'Alama/G1)
Rogério Braga, diácono da Renascer em Cristo,
com a mulher, Débora (Foto: Luna D'Alama/G1)

‘Doença espiritual’
Na opinião do diácono da Igreja Renascer em Cristo e engenheiro de computação Rogério Braga, de 38 anos, a homossexualidade é uma "doença espiritual", que pode ser curada. Mas, para ele, o projeto é "infeliz".


“Não é psicólogo que vai curar, é Jesus, desde que a pessoa queira. Há ex-gays na igreja, mas não é comum, porque as pessoas não quererem mudar”, diz Braga.


O metalúrgico Emerson de Oliveira, de 25 anos, da Assembleia de Deus, se diz favorável ao projeto da "cura gay". “Deus não fez o homem, a mulher e o bissexual, ou o homossexual. Se não é criação de Deus, não sei de quem é, então não aprovo. Você só vira homossexual se quiser. Sou ex-usuário de drogas, bebia muito e hoje não faço mais isso. Dependeu de mim, da minha força de vontade. A Bíblia diz que adúlteros, alcoólatras e efeminados não entrarão no Reino dos Céus. Não é o Marco Feliciano que está condenando isso, é a Bíblia”, diz.


Julianderson diz que não julga ninguém (Foto: Luna D'Alama/G1)
Julianderson acha que projeto da 'cura gay' é muito
agressivo (Foto: Luna D'Alama/G1)

‘Muito agressivo’
Nascido em uma casa evangélica, o supervisor comercial Julianderson Pereira, de 23 anos, da igreja Bola de Neve, voltada a surfistas, skatistas e simpatizantes, é contra o projeto da "cura gay", que ele classifica de “muito agressivo”.


“Daria para abordar de outra forma, com palestras, marketing. Esse público-alvo deveria ser acolhido, receber amor, mas assim vai se afastar mais. Tento fazer a minha parte, não julgo ninguém”, afirma.


A advogada Karen Hamada, de 25 anos, acredita que a igreja deveria se posicionar de forma mais equilibrada, pois “nenhum homem vai conseguir curar outro homem”.


“A gente não é preconceituoso. Ser gay não é doença e para Deus todo mundo pode ser transformado. O que a gente quer é liberdade de crença, de culto, e que as pessoas não achem que todo evangélico é preconceituoso”, diz Karen, da Comunidade Evangélica Projeto Vida.


“Tem, inclusive, uma mulher da minha igreja que foi casada por cerca de 15 anos com outra mulher e hoje tem um marido. A gente não convence alguém a mudar, é Deus que convence e muda”, afirma.


Amigos foram à marcha em busca de 'varoa valorosa'  (Foto: Luna D'Alama)
Amigos foram à marcha em busca de 'varoa valo-
rosa' (Foto: Luna D'Alama)

Procura-se ‘varoa valorosa’
Um grupo de cinco amigos foi à Marcha para Jesus com cartazes em busca de uma “varoa valorosa”, ou seja, "uma mulher de Deus para chamar de sua". Para eles, que frequentam a Assembleia de Deus, essa foi uma brincadeira, uma “irreverência” para descontrair no evento.


“Procuramos um relacionamento sério, não viemos com intenção de pegar mulher. Aqui não é uma marcha, é um culto”, diz o atendente de telemarketing Cícero Jesus, de 21 anos.


O grupo acredita ser possível uma "cura gay". “Quando uma pessoa não tem Cristo, procura outras coisas para se satisfazer, mas nunca consegue preencher o seu eu, e isso só acaba quando encontra com Deus. Aí a vida dela é transformada”, afirma o estudante Anderson da Silva, de 22 anos. Ele afirma ter amigos gays "em busca de transformação, carentes de algo". “Um deles conseguiu, hoje está feliz, canta na igreja. Ele havia tentado antes, adquiriu uma doença venérea, acho que hepatite, foi internado e depois se converteu”, diz.


Trios elétricos
A concentração para a Marcha Para Jesus começou cedo, por volta das 6h. Ainda pela manhã, a multidão seguiu em caminhada da Praça da Luz até a Praça Heróis da Força Expedicionária Brasileira, em Santana. Segundo a organização, 2 milhões de pessoas participaram da marcha - a PM estima em 800 mil. O evento começou às 10h e deve seguir até as 22h, com shows de bandas e grupos gospel.


Além de música gospel, os trios elétricos da Marcha para Jesus incluíram discursos de pastores e de membros das igrejas contra a corrupção, pornografia e prostituição.


“O que está acontecendo no Brasil é uma onda de limpeza para que desçam bênçãos dos céus. As igrejas vão triplicar. Quando vem a limpeza, Deus pode mandar o Espírito. Queremos manifestação, sim, sem violência, e com oração”, disse o apóstolo Estevam Hernandes, da Renascer.

 

Fiéis levam faixas para o evento religioso realizado neste sábado (Foto: Letícia Mendes/G1)
Fiéis levam faixas para o evento religioso realizado neste sábado (Foto: Letícia Mendes/G1)