ARIPUANÃ, Quinta-feira, 28/03/2024 -

NOTÍCIA

Adolescência e Alcoolismo

“Beber começa como um ato de liberdade, caminha para o hábito e, finalmente, afunda na necessidade” (Benjamin Rush, 1970).

Data: Segunda-feira, 25/03/2013 00:00
Fonte: por Joel Mesquita

A cultura pro-álcool é passada de pais para filhos e incentivada pelos meios de comunicação de massa de uma geração a outra; os filhos vêem os pais como heróis, logo querem imitá-los. Esse consumo exacerbado é difícil de ser censurando, pois acontece em rodas de amigos e reuniões de família, sendo quase impossível convencer as crianças de que esse comportamento não é uma prática louvável, pois sendo seres em construção, os pequenos tendem a imitar as atitudes dos adultos; comumente escutam-se as crianças e adolescentes dizerem; ”não vejo a hora de completar meus dezoito anos, idade que geralmente na maior parcela das famílias os filhos ganham maior autonomia no sentido de escolher se querem ou não consumir bebidas de teor etílico.

 


Reside aí um uma questão paradoxal, pois a legislação brasileira proíbe a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos (Lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996), entretanto é comum o consumo de bebidas de teor etílico entre adolescentes e jovens – seja no ambiente domiciliar, em festas e ambientes públicos. Culturalmente se promove a disseminação do hábito de beber. Assim até quem deveria velar pela aplicação das leis, não o faz, adotando uma postura apática diante da real situação. Há um distanciamento quase que acintoso entre teoria e prática. A fiscalização é branda e a Legislação a cada dia ficando em segundo plano, sendo usada apenas quando conveniente.

 


Quando problematizamos levando em conta a questão do gênero, vale à pena ressaltar que os garotos habitualmente recebem maior apoio da família para praticar o consumo da bebida, pois no imaginário dogmático coletivo, bebida é coisa de macho; culturalmente o garoto começa a beber para mostrar que está “virando” homem e que já agüenta um “porre”. Há também a questão da aceitação em rodas de amigos; nessa cultura massificada as pessoas reproduzem comportamentos irresponsáveis, mesmo não tendo clareza dos riscos a que estão expostos, a fim de ser aprazível a terceiros, na intenção de efetivamente ganhar identidade dentro de determinados “círculos sociais”.


Diante da problemática; é relevante informar que a pessoa que consome bebidas de teor alcoólico em demasia, principalmente se este consumo começar na adolescência, com o passar do tempo, desenvolverá dependência, se tornando um alcoólatra. Dentre os fatores que contribuem para a doença denominada alcoolismo podemos citar os de origem biológica, psicológica e sociocultural. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a dependência do álcool é condição freqüente, atingindo cerca de 10% da população adulta brasileira.

 


Estudo realizado pela Universidade de Bristol, no Reino Unido, indica que o álcool é mais nocivo a saúde que drogas recreativas e ilegais como crack, heroína e cocaína. A pesquisa, que foi liderada pelo cientista britânico David Nutt, foi publicada em novembro de 2010 no periódico médico Lancet e considera, nos resultados alcançados, os danos ocasionados à saúde do usuário, os efeitos negativos na família e na comunidade, além de gastos com saúde pública e prisão.

 


O consumo demasiado de substâncias psicoativas licita ou ilícita é perceptível quando saímos e observamos o cotidiano das cidades brasileiras, principalmente na noite e nos finais de semana quando é possível observar a presença massificada de pessoas em bares ou em reuniões restritas tendo como produto principal consumido bebidas alcoólicas.


O problema é inquietante! E diante das estatísticas que tendem a registrar os resultados e conseqüências negativas da pós-embriaguez fica evidente que a prática não é saudável, porque interrompe um ciclo de desenvolvimento dos adolescentes e futuros cidadãos do país. Logo o consumo dessa droga licita poderá ser fator a influenciar negativamente a prática escolar dos jovens.


Há uma necessidade premente de a sociedade repensar a forma de lidar com essa celeuma - o alcoolismo na adolescência. É preciso que aconteça um amodernar, uma reflexão do modelo de comunidade que queremos e do futuro que almejamos. O Brasil precisa de Políticas Públicas focais direcionadas a esse público-alvo, para o enfrentamento da problemática, além de necessitar claro, de muitas outras coisas.


Para ultimar é necessário e impreterível que se reflita sobre a condição humana e a solidariedade; sabe-se e muito se discuti sobre a degradação social e moral que a humanidade tem enfrentado. Assim é inadiável que haja uma reflexão, na perspectiva de resolver a problemática do alcoolismo na adolescência nas diferenciadas e conturbadas, realidades sociais desse imenso país afora; a discussão é premente e fundamental para a construção de uma sociedade justa e onde a coesão social e moral prevaleçam. Caso contrário, perderemos parcela significativa de uma geração de jovens para o submundo dessa droga licita e suas conseqüências desastrosas. 

 

(*) Joel Mesquita - Sociólogo e Escrivão de Polícia Judiciária Civil.