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NOTÍCIA

Poderosa é a polícia?

Data: Quinta-feira, 07/03/2013 00:00
Fonte: por Joel Mesquita

 

Há alguns dias, assistindo a uma cena da novela Salve Jorge, exibida pela Rede Globo de televisão, escutei a personagem Helô, a Delegada de Polícia vivida na trama pela atriz Giovanna Antonelli, proferir uma frase que me deixou intrigado, levando-me a refletir sobre o que havia sido dito.

 

Ser policial no Brasil é quase uma missão voluntária, restando aos inconformados com as implicações dessa realidade expressar-se a qualquer custo - e que seja através de divagações, devaneios! -, não se preocupando se suas idéias e sentimentos serão ambivalentes. Ora, opiniões são questionáveis, não são absolutas. Isso é Democracia! Sendo assim, esperançoso de me fazer compreendido, escrevo-lhes mais este artigo.

 

 Poderosa é a polícia! Foi essa a frase que desafiou meu senso crítico e me motivou a escrever sobre a problemática policial em nossos dias. Até que ponto a polícia é realmente poderosa? Será que algum dia teremos certeza de que o trabalho de combate à criminalidade efetivou-se com êxito?

 

Muitas vezes, por ausência de logística e Quadro de Pessoal, não conseguimos responder com eficácia e eficiência aos fatos delituosos que atingem a sociedade em seu cotidiano. Nessa perspectiva, é angustiante, frustrante não sermos capazes de passar à sociedade civil uma mensagem animadora, que lhe dê esperanças quanto ao fato de estarmos caminhando para dias melhores.

 

 Precisamos criar mecanismos que nos permitam acabar com a cultura da impunidade neste país. Nossas leis são melindrosas, há diversas brechas e, por isso, um universo de possibilidades interpretativas, o que contribui para a disseminação de pesos e medidas diferenciadas, conforme a classe social enquadrara nos termos dos textos legais. No imaginário popular, cadeia não foi feita para quem tem dinheiro e conseqüentemente “bons” advogados. Cadeia, no Brasil, é para pobre ou para preto.

 

 Não podemos esquecer que todos os dias somos desafiados por indivíduos ou grupos que adotam a prática criminosa como meio de vida, colocando a polícia, essa mesma que para a Helô é poderosa, diante de provas de fogo. E o pior: quando conseguimos reprimi-los, não fazemos mais que a obrigação; quando não obtemos sucesso nas investidas, somos fracos e ineficientes.

 

 Porém, apesar das adversidades, persistir é preciso. E isso mesmo quando só nos resta assistir perplexos e atônitos à crescente onda de violência em várias cidades do território nacional, nas quais o Estado Democrático de Direito e seu instrumento de manutenção da ordem - nós, a polícia -, pela ótica dos meios de comunicação de massa, estamos de pés e mãos atados, sem podermos oferecer uma resposta decente para as comunidades vítimas em evidência de tragédias anunciadas.

 

É quando reflito sobre situações dessa natureza que me convenço mais e mais da urgência no estabelecimento de uma polícia forte e coesa, bem equipada e treinada, a qual possa responder com firmeza aos ataques perpetrados por grupos criminosos contra a sociedade. Caso contrário, continuará sendo colocada em xeque a capacidade organizacional do Estado Democrático de Direito, que, em regra, é o agente responsável por manter a ordem e dar segurança àqueles em cujas mãos repousam o poder de tomar todas as decisões em prol do bem comum. 

 

Reiterando, conclamo a classe policial para realizar um aggiornamento de idéias, a fim de bradar forte e firme na cobrança de condições dignas para o exercício da atividade policial. Além de treinamento adequado para lidarmos com humanidade diante de questões que exigem certa "Delicatum".

 

”E o que se há de fazer? Nada, dirão os céticos. E mais uma vez afirmo: não podemos desanimar; é indispensável marcharmos à frente, reafirmando posições e esclarecendo à sociedade que o problema não reside em nós, que a solução dos problemas não depende somente de nós e que, se não respondemos às demandas com eficiência, é porque não nos permitem que o façamos. É lamentável? É sim... Mas, diante de tantos descasos, o que sei é que não podemos nos recolher ao silêncio.

 

Retiremos juntos a mordaça e abramo-nos ao diálogo Este, sim, fortalece a democracia e, se instaurado entre a polícia e a sociedade, aproximará ambos os segmentos entre si e propiciará o fortalecimento da idéia de que não mais se pode adiar a melhoria das condições de trabalho do setor de segurança social. Só assim poderemos construir uma sociedade menos temerosa para nossos filhos, na qual a problemática da violência seja tratada como prioridade e, por conseguinte, reduzida a níveis toleráveis. Afinal - e acima de tudo -, somos, na prática, a base material da defesa e da garantia dos direitos fundamentais.

 

(*) Joel Mesquita é Cientista Social e Escrivão de Polícia Judiciária Civil