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Governo pode incentivar exploração madeireira de baixo volume

Data: Sábado, 28/08/2010 00:00
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Fonte: Da Assessoria

O manejo florestal sustentável é apontado por pesquisadores, técnicos e ambientalistas como sendo uma das principais atividades econômicas de baixo impacto ambiental e que precisa ser melhor desenvolvido. Uma pesquisa, que está sendo realizada para o projeto Conservação da Biodiversidade e Uso Sustentável das Florestas do Noroeste de Mato Grosso, executado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema), em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), pode estimular o manejo florestal em pequenas e micros propriedades rurais no Estado, sobretudo na região Noroeste de Mato Grosso.

A exploração madeireira de baixo volume é um atrativo a mais para os pequenos e micro produtores tanto como estímulo ao reflorestamento como alternativa econômica. “O objetivo desse estudo é aumentar as áreas de reflorestamento no Estado de Mato Grosso”, explica a engenheira florestal, Raquel de Moraes Graffin, consultora do projeto. Com os dados sobre os arranjos agrícolas e florestais, além dos levantamentos econômicos sobre a realidade dos agricultores será possível identificar os principais gargalos para a comercialização da madeira existente nas áreas onde foram implantados sistemas agroflorestais (SAFs) como alternativa econômica e ambiental, nas diversas propriedades trabalhadas pelo projeto há mais de 10 anos.

A engenheira, em parceria com outros pesquisadores também contratados pelo projeto de conservação, está fazendo um estudo em sete propriedades rurais, seis em Juína (735 Km da Capital ) e uma em Cotriguaçu (950 Km de Cuiabá), na Região Noroeste, para diagnosticar o valor econômico adicionado a renda familiar sobre os serviços da propriedade, através da agregação dos rendimentos ou serviços gerados segundo a exploração de baixos volumes sobre árvores plantadas em regime de SAFs e sobre a utilização da madeira morta encontrada nas áreas de pastagem.

As áreas de estudo compreendem em Juína, alguns proprietários rurais que possuem chácaras na zona urbana que plantaram espécies nativas e teca para reposição florestal por estímulo do próprio governo do estado, e também pela iniciativa privada. Já em Cotriguaçu, a área pesquisada compreende uma propriedade rural em área de assentamento do Instituto Nacional de Colonização Agrária (Incra), cuja reserva florestal compreende mais de 80% da propriedade e cuja área aberta compreende, em parte, vários sistemas de SAFs.

Raquel também está revisando a legislação ambiental estadual para propor à Sema adequações para que os pequenos e micro proprietários rurais possam ter acesso ao mercado madeireiro. “A legislação foi feita visando um setor que se desenvolvia em grandes propriedades e essa mesma legislação é aplicada hoje também aos pequenos e micro produtores”, explica a engenheira florestal. “Ou seja, existe a necessidade de readequação da legislação florestal de modo a atender também de forma sensata a esses pequenos produtores para regularizar a exploração de baixos volumes”, complementa. “Uma coisa é ter 40 mil hectares de área a ser manejada e outra coisa é ter uma chácara de dois hectares em zona urbana e não poder vender seu plantio”, finaliza.

Uma das alternativas vislumbradas pela pesquisa está no controle da origem da madeira por meio de um cadastro simplificado. Dessa forma, a parcela da propriedade rural a ser reflorestada teria um mapa georreferenciado com a quantidade e a origem das mudas, além de um descritivo evolutivo do crescimento das árvores. “Esse cadastro seria a certidão de nascimento deste plantio, o que controlaria sua origem e evitaria a entrada de madeira ilegal no processo de comercialização”, afirma.

Para Jussara Oliveira, analista de meio ambiente da Sema e que faz parte da equipe do projeto Conservação da Biodiversidade e Uso Sustentável das Florestas do Noroeste de Mato Grosso, viabilizar a exploração de baixo volume é uma forma também de dar um destino ambientalmente mais correto às árvores. “Se o agricultor não tem como vender a madeira de uma área que ele precisou desmatar ele vai acabar queimando essa madeira”, explica. Uma das alternativas seria buscar parcerias com as prefeituras municipais, o que garantiria inclusive a fiscalização dessas propriedades no que se refere à gestão florestal. “Nos casos de Juína e de outros municípios de vocação agrícola o crescimento das cidades já se aproximou de chácaras e fazendas e quem tem a obrigação do licenciamento das áreas urbanas, a rigor, são as prefeituras”, completa.

O secretário adjunto de Mudanças Climáticas da Sema, Julio Bachega lembra que o Licenciamento Ambiental de pequenas propriedades já tem um procedimento simplificado no órgão ambiental estadual. “Além disso, a Sema está discutindo outros mecanismos que simplifiquem a exploração florestal de pequenas propriedades em projetos florestais madeireiros e não madeireiros, como forma de incentivo ao pequeno produtor”.

Crescimento de árvores é maior em pequenas propriedades

Em algumas propriedades pesquisadas, as árvores nativas e exóticas plantadas crescem, em média, mais rapidamente que em grandes áreas de vegetação nativa manejada. A consultora e engenheira florestal Raquel de Moraes Graffin explica que normalmente pequenos produtores plantam espécies arbóreas com maior espaçamento e em formas mais variadas de plantio, o que é impossível no sistema de plantio comercial. Nestas propriedades as árvores plantadas se nutrem e são irrigadas indiretamente, pois se aproveitam da adubação e irrigação utilizadas nos sistemas de produção agrícolas em que estão inseridas. O estudo desenvolvido pela engenheira faz parte de um componente do projeto Conservação da Biodiversidade e Uso Sustentável das Florestas do Noroeste de Mato Grosso, executado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema), em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Uma mostra desse crescimento rápido pode ser encontrada na chácara de Dirceu Dezan, em Juína. Em sua propriedade ele cultiva mais de cem espécies de árvores plantadas numa área de cinco alqueires e é um dos principais fornecedores de cupuaçu, coco e chuchu do município. Este agricultor plantou há 15 anos teca (espécie exótica) consorciada com várias espécies agrícolas e diversos animais, e possui várias árvores com 80 centímetros de diâmetro. “A teca além de armazenar carbono é uma madeira que pode ser utilizada também para fazer móveis, é um grande investimento para região”, acredita. A sua plantação atraiu o interesse de uma madeireira da região, mas que teve a oferta recusada. Seu Dirceu acredita que sua teca vale 800 reais o metro cúbico e não os 300 reais que ofereceram e prefere esperar uma melhor proposta. Enquanto isso, seu Dirceu segue plantando em sua propriedade e neste ano está investindo no plantio de acácia.

Além do ganho econômico, há o ganho ecológico. Raquel explica que a partir do momento que se combinam várias espécies de vegetais, há uma atração de várias espécies de animais. “Tem propriedades em Juína que antigamente não era fácil observar nem pássaros e que hoje vários animais estão presentes, fáceis de serem observados e em quantidade animadora”, pondera.

Já Rubi Krindges adquiriu uma chácara descrita como área de pastagem, onde quase não se percebia animais selvagens. Depois que o agricultor começou a desenvolver cultivares e diversificou sua plantação de café e guaraná, introduzindo espécies de árvores na propriedade, uma grande quantidade de animais voltou a ser percebida na propriedade, como roedores, macacos e pássaros. "O reflorestamento que ele fez dá condições de sombreamento, além de funcionar como uma espécie de corredor ecológico que liga matas ciliares de córregos que atravessam a região" explica. "Esta condição de bosque fornece aos animais, não somente selvagens, mais também aos bovinos que pastam na propriedade, uma espécie de barreira de proteção e condições de clima mais ameno que auxilia a funcionalidade de ambientes mais frescos e seguros para a permanência, ou passagem, destes animais. Esse ganho ecológico não tem como quantificar", finaliza Raquel.