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NOTÍCIA

Condenado, ex-diretor do BB diz que foi 'execrado'

Data: Terça-feira, 09/10/2012 00:00
Fonte: FOLHA/ MATHEUS LEITÃO

O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato disse que está sendo "injustiçado, execrado e amaldiçoado" e que a denúncia contra ele é "fantasiosa".

 

Pizzolato foi condenado por unanimidade por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato (desvio de recursos públicos por servidor) pelo Supremo Tribunal Federal no caso do mensalão.

 

Ele foi acusado de autorizar antecipações do pagamento da publicidade do Fundo Visanet no valor de R$ 73,8 milhões. Esses recursos alimentaram, segundo a acusação, o mensalão.

 

Em troca das liberações de dinheiro, argumenta a acusação, Pizzolato recebeu um pacote com R$ 326 mil sacados das contas de Valério.

 

De calça jeans, camisa social listrada, jaqueta marrom e boné, Pizzolato falou à Folha, na primeira entrevista que concede desde a condenação, em Copacabana. Mais magro, se emocionou e garante ser inocente.

 

  Lula Marques/Folhapress  
O ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, quando depôs na CPI dos Correios, em 2005
O ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, quando depôs na CPI dos Correios, em 2005

 

Folha - O senhor falou que uma secretária do Marcos Valério pediu para o senhor para pegar um pacote. O senhor acha normal um diretor do BB receber uma ordem dessas?
Henrique Pizzolato - Sim, agências de publicidade faziam contato comigo. E quem ligava sempre eram as secretárias, funcionários da agência.

 

O senhor mantém a mesma versão?
Sem dúvida. Eu abri meu sigilo fiscal, bancário. Tudo. Os depoimentos das testemunhas confirmam. Eu recebi um telefonema para fazer um favor. Disse: eu posso fazer, mas num outro dia. Quando eu propus uma alternativa, aceitaram. Naquele dia estava estudando a pauta da reunião da conselho da Previ que eu iria presidir. Aí eu perguntei: é obrigatório que seja eu? Eles disseram que podia ser outra pessoa, desde que os documentos fossem entregues ao PT. Eu mandei um contínuo da Previ. Ele buscou e me entregou.

 

E tudo foi entregue ao senhor?
A pessoa do PT viria à minha casa. O contínuo deixou comigo [o envelope] e no final do dia apareceu um cidadão e se apresentou: 'olha eu sou do PT e vim buscar os documentos que o Marcos Valério mandou para o PT'.

 

Quem pegou o pacote?
Eu não pedi o nome da pessoa. Eu fiz um favor.

 

O STF achou inverossímil.
Mas foi o que aconteceu.

 

O senhor acha que foi usado pelo partido?
Eu jamais exerci função partidária. Eu era funcionário por mais de 30 anos do banco. Eu já tinha ocupado cargos hierarquicamente superiores no governo FHC.

 

O senhor foi condenado por unanimidade.
Sou inocente. A minha defesa mostrou como funcionava o Visanet e que eu não nomeei as pessoas que assinavam e faziam os aportes de verbas. Estou sobrevivendo à base de remédio. Isso é uma violência ao ser humano. No dia que eu recebi a notícia eu não enfartei porque...eu dou graças a Deus.

 

*O senhor foi condenado por ter assinado essas antecipações delituosas, como o Ministério Público disse, à DNA Propaganda. *
Quem pedia as antecipações não era eu, o banco tinha uma pessoa responsável por isso.

 

O senhor está protegendo alguém?
Eu estou protegendo a mim, estou tentando me proteger.

 

O senhor recebeu algum pedido, de alguém do partido, para assinar esse documento?
Não... o banco tem normas tão severas, que se o presidente da ONU pedisse, é impossível fazer. Ninguém toma ato isolado no banco.

 

O senhor trabalhou na campanha do presidente Lula?
Sim, mas não da forma como foi dito. O meu trabalho era o de fazer contatos com empresas e discutir plano de governo. Eu havia trabalhado na Previ que tinha investimentos em diversos setores. Eu entrava em contato com as empresas para explicar o programa de governo.

 

O senhor se sente abandonado pelo partido?
Como vou te dizer? O que eu estou fazendo nesses oito anos é tentar provar a minha inocência porque toda essa história [da acusação] é fantasiosa. É impossível fazer o que as pessoas estão me atribuindo. Mesmo que eu fosse um mágico não conseguiria. Eu não preciso do partido para provar minha inocência.

 

Está sob medicamentos?
Sim. Eu me sinto injustiçado, com a vida destruída (voz embargada), sem perspectiva, execrado, amaldiçoado, excluído da sociedade por algo que não fiz. Imagina alguém que está indo para a guilhotina, fogueira da inquisição injustamente.