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Valdivia sugere Bielsa, reclama de dedo-duro e diz que superou briga com Felipão

Data: Sábado, 15/09/2012 00:00
Fonte: Danilo Lavieri Do UOL, em São Paulo

Se fosse em outros tempos, Valdivia comemoraria a demissão de Luiz Felipe Scolari. Hoje, no entanto, o camisa 10 só lamenta a saída do gaúcho. Em entrevista ao UOL Esporte, o chileno admitiu que chegou a ter brigas com o treinador, mas afirmou que os problemas foram superados antes mesmo do título da Copa do Brasil.



O meia ainda defendeu o treinador recém-demitido e explicou que o episódio do dedo-duro, que ainda não foi revelado para o elenco, realmente influenciou no ambiente ruim que precedeu a queda do treinador. Apesar disso, ele afirma que esse problema não justifica a péssima posição na tabela do Brasileirão.

 

Valdivia também afirmou que não sairá do Palmeiras mesmo se o time for rebaixado e pediu o argentino Marcelo Bielsa no comando da equipe.



Confira a entrevista completa de Valdivia ao UOL Esporte:



UOL Esporte: Como foi para você ver o Felipão sair agora, em plena crise do Palmeiras?
Valdivia: Foi uma surpresa, porque depois do jogo contra o Atlético-MG ele falou que ia continuar com a gente até o final, que não nos abandonaria. Mas, depois do jogo contra o Vasco, acho que ele acabou decidindo que iria embora. Então foi uma surpresa. É uma decisão que a gente lamenta, porque era nosso escudo, era "o cara" do Palmeiras, treinador de experiência, nos dava tranquilidade e sempre teve boas palavras de mim. Ele nunca falou que eu sou mau elemento, que eu sou ruim pro grupo... Ele sempre vinha na imprensa para falar bem de mim e falava que eu era importante, que tinha qualidade e tudo isso ele repetia para mim também. Muitas vezes, ele me chamava na sala dele para conversar, para dizer que eu podia mudar a situação. Mas sozinho não dá. Eu não sou goleiro, zagueiro, lateral e artilheiro. Eu sou camisa 10 que tem a mesma responsabilidade dos outros. Eu lamento a decisão dele, mas temos que respeitar.



UOL Esporte: O Felipão, claro, tinha desgastes normais de qualquer pessoa que está há dois anos no mesmo emprego. Você acha que isso foi decisivo para ele sair?
Valdivia:Pelo que eu via do grupo, nunca ninguém sequer comentou que a saída dele ia mudar o ambiente, que ia melhorar ou que as coisas poderiam mudar. A gente teve um golpe duro contra o Guarani (no Paulistão deste ano), mas o grupo se fechou e a gente conquistou a Copa do Brasil. Nunca sentimos que se ele saísse poderia melhorar ou mudar o ambiente. Pelo contrário. A gente sabia que a permanência dele aqui fazia a gente ganhar muito. A gente sabia que estávamos bem protegidos, porque ele defendia a gente na imprensa, peitava todo mundo. É importante ter alguém como ele.

 

UOL Esporte: Você já teve problema de relacionamento com ele? Muito se falou sobre isso.
Valdivia
: Olha, a gente teve problemas. Muitos. Tivemos relacionamento complicado no começo, especialmente no começo dele (em 2010), sobretudo porque eu me machucava muito. Ele precisava de mim e eu não podia jogar, então ele desconfiou de mim. Mas, a partir do momento que a gente conversou, se olhou nos olhos, eu expliquei que não tinha sacanagem, que eu não queria fazer corpo mole porque era ele o treinador. Todas as minhas lesões foram sempre referendadas pelos médicos. Nunca teve doutor nenhum falando na imprensa que eu estava de "migué". Claro que as pessoas de fora podem duvidar do nosso relacionamento, mas ultimamente tem sido bom. E ele sempre pedia mais para mim. Só que eu não posso jogar sozinho, porque futebol não é tênis, tem que ter elenco, um grupo querendo as mesmas coisas. Não sou goleiro, artilheiro eu não sou, estou aqui para ajudar, para deixar meus companheiros na cara do gol e eu tenho feito isso. Nunca tivemos problemas de um tempo para cá. Era sempre na boa. O problema é que as pessoas achavam que eu precisava ficar falando bem dele no microfone, mas isso não é necessário. Eu não sou baba-ovo.

 

UOL Esporte: No gol contra Grêmio, na Copa do Brasil, você pulou e abraçou o Felipão. Aquele episódio foi logo depois do sequestro relâmpago. Esse problema de violência aproximou vocês?
Valdivia
: Fechou mais, sim. Porque a gente estava melhorando a relação, conversando, um precisando do outro. Então os que falam que eu não gostava dele e vice-versa... Tem muitos exemplos que aconteceram e as pessoas se esquecem. Esse é um exemplo muito vivo, muito recente. E outra: quando alguém falou que ele não gostava de mim, ele foi na imprensa e não disse nada disso. Disse que a hora que eu voltasse, eu seria titular. Se o treinador não gosta de mim, não precisava falar bem de mim. Até agora, ele nunca foi ao público dizer que eu sou ruim para o grupo. Eu estou tranquilo, sou um dos que mais apanha e por isso ficam mais de olho em mim. Quem insiste em falar mal de mim são pessoas ignorantes, que inventam coisas que não estão acontecendo. As pessoas não podem me culpar por tudo que acontece de ruim. Aqui, ninguém está de corpo mole, ninguém está de sacanagem, ninguém queria que ele fosse embora. Estou jogando direto, faz tempo que não me machuco, jogo de domingo e quarta.... e tem gente ignorando esse fato.

 

UOL Esporte: Você não acha que por ser a referência é natural que seja mais criticado? Por que isso te incomoda tanto?
Valdivia
: Se eles falam que eu tenho que voltar a jogar, eles também precisa falar dos outros. E se o problema sou eu, é só me tirar e que o time vai ganhar, não é? Mas isso não aconteceu. Eu fiquei fora e o time perdeu. Não tem só um culpado. O Palmeiras joga em grupo, são 11 jogadores, mais sete do banco e todo mundo que não é relacionado. Não tem isso de três ruins e o resto certinho. Eu fico triste porque um ex-jogador (Denílson, no Jogo Aberto, da Band) pediu para eu jogar mais. Mas e os outros estão jogando muito? Você fala mal de um e não fala do outro. Quer dizer que o goleiro está pegando todas, que o zagueiro tira todas, e que o artilheiro mete todas pro gol? O único culpado sou eu? Não sou goleiro, artilheiro, lateral. Eu sou meia. É porque eu ganho mais salário do que os outros? Não! Se você olhar lá dentro, tem gente que ganha mais... Vai procurar, não vou falar, mas procura.

 

UOL Esporte: E essa polêmica de dedo-duro? Isso atrapalhou vocês com o Felipão? Você ficava de 'pé atrás' com a comissão técnica dele?
Valdivia
: Não é pé atrás, mas eu desconfiava de todo mundo. A gente falava qualquer coisa e aí sai na imprensa. Mas não podemos dizer que é por isso que estamos na parte de baixo da tabela. Não tem nada a ver. Claro que a gente desconfia, porque coisas de dentro do vestiário vazam, todo mundo fica sabendo. Lamentavelmente, essas coisas... A verdade é que quem fica atingido, claro que fica chateado, porque desconfia do outro, do cara que está do lado. Há um tempo, uma matéria dizia que eu dormia no DM (departamento médico). Mas todo mundo dorme, cara! É tão chato ficar no DM que você não quer nem falar e todo mundo dorme. No DM, você vem, dorme, troca de aparelho, dorme, mas isso não muda nada. É que tem gente de fora do grupo que tenta passar para o torcedor que alguém está de sacanagem, corpo mole, que quer derrubar treinador.. Não tem nada a ver, porque, se cair, vai cair todo mundo, não só o Valdivia. Se os outros estão esperando que é só o Valdivia que vai ser cobrado pela fase ruim.... até o goleiro que não vai pro jogo vai ficar marcado. Se eles estão aqui, eles vão ser cobrados. Todo mundo precisa ser cobrado. Claro que você tem de cobrar mais de mim, que tenho persoalidade, história no clube, bagagem aqui. Até aí, normal, mas não adianta cobrar só a mim e não cobrar todo mundo. Se os jogadores não mudarem esse pensamento, vai todo mundo ser cobrado pela queda... todo mundo pode ser, de um dia para o outro, agredido. Não adianta você relaxar porque um ou dois estão sendo mais criticados e você não.

 

UOL Esporte: Mas por que o Palmeiras está nesta situação?
Valdivia
: A gente também não tem explicação. Nosso time joga bem e, nas vezes que não jogamos bem, não damos chance para o outro time fazer a mais que o Palmeiras. A gente não sabe o que acontece. Fazemos um gol e dois minutos tomamos o empate e depois a virada. Eu sempre falo que o futebol não é o mais poderoso e o mais fraco. É coisa de momento e o nosso momento não é bom. Depois que tomamos gol, não temos poder de reação. Não temos a capacidade para virar. E não tem nada a ver o treinador. O mais responsáveis somos nós. E eu concordo com eles (Felipão e Sampaio): não sei o que acontece. Como vamos virar isso? Trabalhando, melhorando o posicionamento desde o goleiro até o atacante e trabalhar. Vamos mudar isso.

 

UOL Esporte: Mas e se cair? Você fica? Você sai?
Valdivia
: (Respira fundo) Se cair, todo mundo vai cair. Primeiro de tudo, vai ganhar menos, porque você é jogador de segunda divisão. Se cair, eu vou cair junto com o time. Eu não penso em sair, se o time cair, é porque eu não fiz minha parte, nem o goleiro, nem o lateral... Eu não estou pensando em sair. Temos que assumir a responsabilidade. Mas o que vamos fazer, mesmo, é lutar para não cair.

 

UOL Esporte: Se o Tirone te perguntar uma sugestão de técnico, quem você fala?
Valdivia
: Eu queria o Bielsa, né? É um cara que trabalha sério, é responsável, trabalha muito bem os detalhes. E outro cara que é muito bom, que tenho boas referências é o (Jorge) Sampaoli, técnico da La U. Pelo que sei, ele é um grande treinador, tem a mesma filosofia do Bielsa e que tem ganhado muitas coisas no Chile e no âmbito internacional. São dois técnicos estrangeiros, né?

 

UOL Esporte: Tem muita gente que te considerava ídolo e agora não te considera mais. O que dizer para eles?
Valdivia
: Eu nunca me garanti como ídolo, nunca falei isso, mas beleza. Se o torcedor não me quer mais como ídolo, ele pode considerar o que está jogando bem. Pensa em quem está jogando bem e o tenha como ídolo. Eu vou continuar tentando fazer meu trabalho.