Com nova rota, a Parada Gay deste ano teve como objetivo ser mais que uma celebração da diversidade, mas também um ato político. Sob o tema “homofobia tem cura: educação e criminalização”, a concentração percorreu na tarde de ontem a avenida do CPA até a Praça das Bandeiras, onde hastearam a bandeira LGBT.
Um dos coordenadores do evento, Menotti Griggi explicou que a mudança de rota do centro da cidade para o Centro Político Administrativo de Cuiabá é uma forma de chamar a atenção das autoridades para a comunidade LGBT. “Eu acho fundamental ir além da questão da visibilidade, e marcar o evento como uma ação política”, disse.
Sobre o tema do evento, Menotti explica que é esse o caminho para que não haja mais preconceito. A chave, ele afirmou, é ensinar as crianças desde pequenas, através da educação formal e familiar, para que quando adultos eles respeitem as pessoas com outras orientações sexuais. A outra forma é voltada para aqueles que praticam a homofobia. “O evento também quer a aprovação das leis que estão pendentes, como projeto de lei 122, que criminaliza a homofobia”, esclareceu Menotti.
Outro coordenador do evento, Clóvis Arantes, alertou para o fato de nos últimos dois anos 23 travestis terem sido assassinados sem que os culpados tenham sofrido punições. Ele contou que a organização da Parada Gay entregou uma minuta para a Secretaria de Estado de Direitos Humanos, exigindo a criação de um Conselho Estadual de Políticas para a População LGBT.
No entanto, de acordo com Clóvis, o maior problema que a comunidade LGBT sofre é a evasão escolar. Ele contou que por conta de preconceitos sociais e violência, gays, lésbicas e travestis deixam a escola sem concluir os estudos.
Outra questão, levantada por Eva da Silva, da ONG Liberdade Lésbica (LIBLES), é a falta de treinamento de profissionais da saúde para tratar de pacientes que não sigam o padrão heterossexual. Ela explicou que mulheres lésbicas procuram ginecologistas, mas como não têm relações sexuais com homens, ficam sem orientação adequada e acabam por não voltar ao médico.
A estimativa é de que mais de 10 mil pessoas tenham comparecido ao evento. Menotti diz que a marcha não é o total de pessoas que participam da parada, pois muitas chegam somente na hora dos shows, que se iniciaram às cinco e meia da tarde.
Depois da marcha, com a presença da rainha da parada e dos organizadores em um trio elétrico animando a multidão que o seguia, as pessoas se reuniram na praça para apreciar os shows. Apresentaram-se: a banda Casulos, o grupo de dança Muve, dois bailarinos com um número de tango e o show das “drag queens”. Pra finalizar, a presença da cantora paulista Nicky Valentine.
Apesar do grande número de participantes, muitos acharam que faltou uma melhor divulgação do evento. “Eu venho na parada há quatro anos, e esse tem muito menos gente que as anteriores”, disse Débora Mendes, 22 anos, lésbica e gestante de oito meses.