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NOTÍCIA

Brasil vai precisar de uma Belo Monte por ano para atender a demanda energética

Ilustração divulgada pela Norte Energia de como ficará a Casa de Força principal da usina de Belo Monte quando a obra estiver pronta

Data: Sábado, 02/06/2012 00:00
Fonte: Jornal do Brasil

O Brasil, um dos membros do BRICS, é um dos países emergentes mais importantes do mundo. O crescimento médio da economia do país é de 3,8%, enquanto o setor energético apresenta na média um valor maior de ascensão com 5,1%. A questão assume importância crescente no momento em que a produção de energia é fundamental na promoção do crescimento socioeconômico do país, o que garante a ampliação da riqueza nacional.

 

Um dos pontos mais debatidos é a construção da usina de Belo Monte, que será a terceira maior usina do mundo, com a capacidade de geração de energia de 11.233 megawatts. A hidrelétrica está sendo construída no Rio Xingu, tem um investimento total estimado em R$ 25,6 bilhões. Apesar de o rendimento médio ser de cerca de 4.500 megawatts de potências, já que o reservatório principal de 203 km² foi diminuído para reduzir os impactos ambientais. O professor Roberto Schaeffer, da Coppe/UFRJ, especialista em programas enérgicos, acredita que o Brasil vai precisar de 5 mil megawatts por ano para continuar o desenvolvimento.

  

“Nos próximos anos, o país vai precisar de demanda de 5 mil megawatts, ou seja, um Belo Monte por ano”, diz o professor.

 

A usina hidrelétrica Belo Monte, que está sendo construída no rio Xingu, no Pará, tem um investimento total estimado em 25,6 bilhões de reais e vai representar 10% do consumo nacionalA usina hidrelétrica Belo Monte, que está sendo construída no rio Xingu, no Pará, tem um investimento total estimado em 25,6 bilhões de reais e vai representar 10% do consumo nacional

 

O atraso nas obras é um dos problemas de projetos ligados às hidrelétricas e de linhas de transmissão em fase de financiamento prévio devido a questões sócio-ambientais. Em fevereiro, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) multou em R$ 7 milhões por atraso na implementação, o Projeto Básico Ambiental da usina do Consórcio Norte Energia, responsável pela obra. A usina é um empreendimento que tem entre os sócios a Eletrobras, a Cemig e a Light. A construção da hidrelétrica modificou a previsão para a finalização das obras de 2014 para 2019. Apesar das dificuldades, segundo o Schaeffer, o Brasil está se desenvolvendo no setor elétrico.   

 

“O Brasil não está parado. Belo Monte é um projeto de médio e longo prazo, e estamos olhando para frente. Além disso, estão sendo feitas inúmeras usinas menores que podem ficar prontas em seis meses”, esclarece.

 

De acordo com Cleveland Maximino Jones, auditor ambiental e mestre em Geologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a perda de energia nas linhas de transmissão é outro problema, já que a usina está longe de mercado consumidor da demanda.

 

“A demanda não está onde ficará Belo Monte. A perda de 15% nas linhas de transmissão abre um questionamento sobre a validade de justificar um projeto gigantesco em nível nacional, acredito que construir usinas menores seria mais eficiente e mais fácil de controlar”, analisa o pesquisador da Uerj.

 

Uma alternativa de médio prazo para o Brasil é o desenvolvimento de energia através do gás. O elemento é a segunda maior fonte de energia do mundo atrás apenas do carvão mineral.

 

“O Brasil precisa investir em diversificar a matriz elétrica: investir em hidrelétricas, sistemas de energia eólica e gás. Construir usinas hidrelétricas é uma boa alternativa, já que é um tipo de energia muito barata. Podemos desenvolver em longo prazo, através da exploração do pré-sal, investimento no gás”, afirma Schaeffer.

 

Os Estados Unidos, por exemplo, têm uma matriz energética suja, já que 40% vêm do carvão.  Na China, o percentual sobe para 80%. Outros países, como a França, têm sua matriz essencialmente nuclear.  De acordo com o analista da Uerj, o Brasil precisa aproveitar a experiência de Angra 3 e investir em um programa nuclear.   

 

“Acredito que o governo deve investir em Angra 3 e ampliar os investimentos na matriz nuclear. Um dos pontos que justifica o investimento é que as usinas ficam próximas do centros do país. A energia é segura  e os resíduos são armazenados sem dificuldade”, explica Cleveland Maximino Jones.

 

O medo de volta de 2001, quando o racionamento de energia causou impacto econômico no país, tais como a redução do crescimento econômico de 1,5%, aumento do desemprego, aumento do déficit da balança comercial, perda de arrecadação de impostos e efeito inflacionário, mas também, pelos grandes incômodos que a privação de energia causou à população.

 

“Isso traz dois desafios importantes ao país: a necessidade de ampliação da taxa de investimento de forma a consolidar as bases produtivas do Estado e a gerar mais postos de trabalho e, posteriormente, a melhoria da eficiência alocativa desses recursos. Tais desafios precisariam ser vencidos a fim de minimizar os custos da dependência do país em relação a atores externos mais fortes, ampliar sua competitividade e permitir uma inserção internacional mais dinâmica e assertiva”, analisa Diego Santos Vieira, professor de Relações Internacionais da (PUC-Rio).

 

Apuração: Rômulo Diego Moreira