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NOTÍCIA

Sorrateiro, crack invade Cuiabá

Data: Quinta-feira, 19/04/2012 00:00
Fonte: Camila Ribeiro/ Circuito Mato Grosso/ Fotos: Mary Juruna

Regiões como o Porto e o Beco do Candeeiro se tornaram verdadeiros centros de consumo e comercialização de drogas. O crack aos poucos invade as ruas da Capital.

 

No início dos anos 90, uma região na área central de São Paulo se transformou num grande reduto de traficantes e usuários de crack e justamente por isso passou a ser chamada de cracolândia. Aos poucos a denominação passou a ser utilizada também em outros locais do País, tendo em vista que, de acordo com uma pesquisa feita pela Confederação Nacional dos Municípios, 91% das cidades brasileiras sofrem com o crack.



E Cuiabá está dentro dessa estatística, apesar de que esta ainda não seja a droga mais consumida na Capital mato-grossense. Alguns pontos da cidade inclusive já são considerados espécies de ‘cracolândias’. Áreas como o Bairro do Porto, o famoso Beco do Candeeiro, no Centro Histórico de Cuiabá, e a região no entorno da Estação Rodoviária são alguns polos da comercialização e do consumo de drogas.



O barracão localizado no Bairro do Porto é constantemente ocupado por usuários de drogas. Sem qualquer estrutura, o espaço serve como abrigo e ponto de comercialização de entorpecente Mary JurunaAo mesmo tempo em que usuários e traficantes escolhem lugares abandonados para se instalar, ainda que de forma provisória e fazer o uso de entorpecentes, eles se preocupam também em escolher locais com grande número de circulação de pessoas. Isto porque na maioria dos casos, os dependentes são também moradores de rua e se aproveitam da intensa movimentação de indivíduos para pedirem ‘esmolas’ de forma que possam sustentar o vício. São locais onde os usuários se misturam à população, conseguem abrigo e alimentos facilmente, com a vantagem de fazerem o uso de drogas sem serem incomodados.



Nessas regiões o cenário é quase sempre o mesmo: totalmente escravizados pelo vício, os dependentes perambulam pelas ruas, ocupam calçadas, praças ou qualquer barracão abandonado. O curioso é que em Cuiabá já é comum encontrar pequenos grupos de usuários aglomerados em espaços públicos consumindo a droga livremente, a qualquer hora do dia.



Num prédio no Bairro Porto, onde há muito tempo funcionava um bar, a reportagem do Circuito Mato Grosso flagrou um casal de moradores de rua e usuários de droga, que após consumirem exaustivamente o entorpecente, dormiam em meio a um monte de lixo.



Lúcia, de 42 anos, relata que desde os 16 é usuária. Como é comum entre os moradores de rua, Lúcia veio de outro Estado. Ela conta que abandonou a família em Goiás e veio para as ruas de Cuiabá. Quando percebeu, já estava completamente viciada em pasta base e maconha.



Os ‘zumbis’, como também são chamados os usuários de droga, vivem de forma ‘aérea’, seja pela ausência ou pela presença da droga no corpo. É o caso de Jonas, um jovem de 28 anos que confessa passar cerca de três dias acordado, perambulando pelas ruas do Porto. Sem trabalhar, ele diz viver dos chamados ‘corres’ que faz pela região. Na gíria dos usuários, ‘corre’, quer dizer vender produtos roubados e em troca conseguir dinheiro ou drogas. “Eu sou um dos traficantes mais conhecidos e requisitados aqui do Porto, de cem ‘corres’ que acontecem aqui no Porto, 90 passam pelas minhas mãos”, alega Jonas.



 Em vários pontos da Capital, grupos se aglomeram e consomem drogas livremente - Mary JurunaEle afirma que nesse mercado gera muito dinheiro. No entanto, o muito é quase nada para os que, como Jonas, gastam todo o dinheiro que conseguem para consumir drogas. “Você pode ver a minha situação aqui, mesmo recebendo muito dinheiro vivo nessa condição de extrema pobreza. Muitas vezes nem tenho o que comer”, confessa o jovem, deitado em um barracão abandonado.



Questionado como parou nesta situação, o rapaz confessa que foi por vontade própria, por gostar de liberdade e não ter a obrigação de dar satisfação a ninguém. Ainda segundo ele, a família já tentou várias vezes retirá-lo do local, mas Jonas se recusa abandonar o estilo de vida degradante.



Em horário de intenso movimento, o barracão que Jonas faz de sua moradia chega abrigar mais de 30 pessoas usando drogas.