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NOTÍCIA

Marqueteiro relata pagamentos de caixa 2 em campanhas eleitorais do RJ

Foram citadas campanhas de Cabral, Pezão e Eduardo Paes. Delação premiada ainda não foi homologada.

Data: Quinta-feira, 16/11/2017 00:00
Fonte: G1.globo.com/jornal-nacional
 
 

O marqueteiro Renato Pereira relatou pagamentos de caixa dois nas campanhas do ex-governador do Rio Sérgio Cabral, do atual governador, Luiz Fernando Pezão, e do ex-prefeito do Rio Eduardo Paes. O Jornal Nacional teve acesso ao conteúdo da delação premiada.

 

O marqueteiro Renato Pereira construiu uma carreira de sucesso no meio político do Rio. Antropólogo de formação, ele é dono da Agência Prole e começou a trabalhar com o ex-governador Sérgio Cabral quando ele se candidatou a deputado estadual em 1998. Em quase duas décadas de convívio com políticos do PMDB do Rio, Renato Pereira comandou a publicidade de oito campanhas majoritárias do partido no estado.

 

Na delação, Renato Pereira detalhou o esquema de financiamento de campanhas de políticos como o atual governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, o ex, Sérgio Cabral e o ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes. Segundo ele, milhões de reais entraram nessas campanhas como caixa dois, dinheiro não declarado, que veio de empresas e que teria sido negociado diretamente por esses políticos.

 

Renato Pereira revelou que só na campanha de Luiz Fernando Pezão para o governo do estado, em 2014, recebeu R$ 800 mil em caixa dois. O responsável pelos pagamentos seria o então secretário de obras do estado. Hudson Braga, que está preso. O marqueteiro disse que ficou acertado o pagamento de parcelas mensais de R$ 300 mil, dinheiro entregue a ele pelo emissário Barata, que seria Jacob Barata Filho, empresário do setor de ônibus preso na terça (14) pela segunda vez.

 

Renato Pereira contou que, durante a campanha, os pagamentos passaram a ser feitos com atraso e que o governador Luiz Fernando Pezão foi informado disso. A solução seria um acerto com Leandro Azevedo, superintendente da Odebrecht no Rio. A empreiteira faria pagamentos em uma conta no exterior.

 

Renato Pereira disse que recebeu nessa conta 800 mil euros, o equivalente hoje a quase R$ 3,1 milhões. E que, numa reunião no apartamento do governador, Pezão teria dito que o dono da construtora Andrade Gutierrez, Sérgio Andrade, faria uma contribuição de R$ 10 milhões.

 

Segundo Renato Pereira, além de caixa dois, o dinheiro entrou de duas outras formas. A Prole simulou uma rescisão de contrato e superfaturou serviços prestados a outras agências de publicidade. Nestas operações foram mais R$ 5 milhões.

 

Na delação, o marqueteiro Renato Pereira também revelou detalhes da campanha de Sérgio Cabral ao governo do Rio, em 2010.

 

Segundo ele, entre fevereiro e junho de 2010 foram feitos pagamentos mensais de cerca de R$ 300 mil, sempre em espécie, por meio de senhas, geralmente nomes de peixes, como badejo, pintado, tainha.

 

O delator também revelou que a campanha para a reeleição de Eduardo Paes à prefeitura do Rio, em 2012, também teve caixa dois. O marqueteiro disse que foi avisado pelo próprio Paes que seria procurado por Leandro Azevedo, executivo da construtora Odebrecht. 

 

A campanha teria custado R$ 20 milhões, valor negociado por Eduardo Paes e Pedro Paulo Carvalho, então deputado federal. 

 

A produtora emitia nota fiscal para o PMDB, em valor menor do que o cobrado. A diferença era paga via caixa dois.

 

A última campanha de Renato Pereira para o PMDB foi a de Pedro Paulo Carvalho, candidato à prefeitura do Rio no ano passado. O orçamento teria sido de R$ 25 milhões. O marqueteiro afirmou na delação que o então prefeito, Eduardo Paes, disse que os pagamentos não contabilizados dessa campanha seriam feitos pela construtora Carvalho Hosken e pelo Grupo Guanabara, que reúne as empresas de ônibus de Jacob Barata.
O delator contou que R$ 2 milhões foram pagos com dinheiro não declarado por Jacob Barata Filho.

 

O que dizem os citados

O governador Luiz Fernando Pezão declarou que todas as doações de campanha foram feitas de acordo com a Justiça Eleitoral.

 

A assessoria do deputado federal Pedro Paulo Carvalho e de Eduardo Paes considerou a denúncia mentirosa e inconsistente.

 

A Obredecht e a Andrade Gutierrez afirmaram que estão colaborando com as investigações dentro do acordo de leniência firmado com o Ministério Público Federal.

 

A defesa de Jacob Barata Filho disse que o relato de Renato Pereira é falso e calunioso.

 

A produtora cara de cão declarou que nunca recebeu nenhum valor em espécie para ser repassado a quem quer que fosse.

 

Nós não conseguimos falar com os outros citados na reportagem.