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NOTÍCIA

Suposto mandante de chacina já foi multado em quase R$ 1 milhão por extração ilegal

Valdelir João de Souza, de 41 anos, é dono de duas madeireiras. Ele é suspeito de mandar matar 9 trabalhadores em Colniza (MT).

Data: Terça-feira, 16/05/2017 00:00
Fonte: Por André Souza, G1 MT
 
 
Chacina que deixou nove mortos ocorreu na gleba Taquaruçu do Norte, em Colniza (MT), em abril deste ano  (Foto: Reprodução/TVCA)

Chacina que deixou nove mortos ocorreu na gleba Taquaruçu do Norte, em Colniza (MT), em abril deste ano (Foto: Reprodução/TVCA)

 

O empresário do ramo madeireiro Valdelir de Souza, de 41 anos, apontado como suposto mandante da chacina na Gleba Taquaruçu do Norte, em Colniza, a 1.065 km de Cuiabá, já foi multado em quase R$ 1 milhão por extração ilegal de madeira. As informações são do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

 

Valdelir e outros quatro foram denunciados pelo Ministério Público pelos crimes de homicídio triplamente qualificado (mediante pagamento, tortura e emboscada). O G1 não conseguiu localizar a defesa do empresário.

 

De 2007 até agora, 10 multas foram aplicadas contra o empresário. A primeira autuação foi registrada em outubro de 2007 no valor de R$ 30 mil. No ano seguinte, quatro autos foram lavrados contra as empresas. As multas nesse ano somam a quantia de R$ 293 mil.

 

A autuação com o maior valor foi registrada em setembro de 2012 no valor de R$ 293,4 mil. Todas as multas, segundo o Ibama, foram aplicadas por irregularidades na extração de madeira, também apontada como a motivação dos crimes.

 

Denúncia do MP
Na segunda-feira (15), o Ministério Público estadual denunciou à Justiça cinco acusados de participar da chacina que resultou na morte de nove trabalhadores em Colniza.

 

Além do empresário, o ex-sargento da Polícia Militar de Rondônia Moisés Ferreira de Souza, Ronaldo Dalmoneck, Pedro Ramos Nogueira e Paulo Neves Nogueira - sendo esses dois últimos tio e sobrinho, também foram denunciados.

 

Pedro Ramos e Paulo Neves estão presos preventivamente, enquanto Ronaldo está com a prisão preventiva decretada, mas ainda não foi preso.

 

Valdelir Souza está com a prisão temporária decretada e a defesa dele chegou a negociar a entrega às autoridades policiais, mas isso não ocorreu. Já o ex-policial é procurado por outro crime cometido em Rondônia e, por essa razão, não teve a prisão pedida pela polícia mato-grossense. O G1 não conseguiu falar com os advogados dos acusados.

 

Segundo o MP, o grupo de extermínio percorreu aproximadamente 9 km ao longo da Linha 15, assassinando, com requintes de crueldade, aqueles que encontraram pelo caminho, sem dar chance de fuga ou defesa.

 
Caixões dos assassinados em chacina em Colniza (MT) (Foto: Comissão Pastoral da Terra)

Caixões dos assassinados em chacina em Colniza (MT) (Foto: Comissão Pastoral da Terra)

 

Chacina
A gleba Taquaruçu do Norte ocorreu é de difícil acesso e fica a aproximadamente 200 km de Colniza. A área onde ocorreu a chacina chegou a pertencer à Cooperativa Agrícola Mista de Produção Roosevelt após disputa judicial com o dono de uma fazenda. Mas, segundo a Secretaria de Segurança Pública (Sesp-MT), parte da área de 42 mil hectares foi vendida irregularmente para outro fazendeiro e, depois que a cooperativa foi desfeita, uma nova associação foi formada.

 

A nova associação passou a reivindicar parte do território vendido, diz a Sesp-MT. Atualmente, 15 mil hectares são ocupados por trabalhadores rurais. Mais de 200 famílias viviam ali, mas a maioria foi embora depois da chacina.

 

Há 11 anos, outra chacina foi cometida na região de Taquaruçu do Norte. Naquela ocasião, cinco pessoas foram mortas e dez torturadas numa briga por terras. Os crimes foram investigados na operação Ouro Verde, da Polícia Civil, que em 2007 prendeu 39 pessoas, entre elas fazendeiros que atuariam na extração ilegal de madeira.