Dessa vez não se pode dizer que Jorginho não tentou. Tá certo que, mesmo tendo outras opções melhores, ele ainda insistiu com Madson e Júlio César nas laterais, mas ele não abusou nas invencionices. Evitou os três atacantes, protegeu a zaga com mais um volante, deu liberdade ao Andrezinho e armou um ataque com um centroavante e um atacante de lado (apesar de nesse caso também ter se equivocado, ao não deixar o melhor finalizador do time como referência na área).
Com um time mais equilibrado, o Vasco dominou a partida por quase todos os 90 minutos de jogo, criando um monte de chances de gol. Mas isso não foi o bastante para superarmos as toneladas de erros individuais e não impediu mais uma derrota em São Januário. O 2 a 1 do CRB, um adversário que não precisou de mais de três ou quatro ataques para vencer o jogo, mostrou que a fragilidade vascaína está tanto no ataque como na defesa.
Jorginho está certo quando disse em sua coletiva que o Vasco teve um dos melhores começos de partida dos últimos tempos. Mas enquanto criávamos chances e finalizávamos mal, o time foi perdendo o ritmo, trocando passes laterais sem objetivo e abandonando as jogadas em velocidade. E com a lentidão do time, passamos a ser presa fácil dos contra-ataques do time alagoano. E eles nem precisaram de muitas chances para abrir 2 a 0: o CRB marcou seus dois gols nas duas únicas chances que tiveram no primeiro tempo.
No segundo tempo, contrariando seu hábito, Jorginho não se lançou como um louco ao ataque procurando o “protagonismo”. Manteve volantes no time, seguiu com dois atacantes e com isso continuamos pressionando o adversário. Poderia ter feito outras alterações – Pikachu poderia ter entrado no lugar do Madson, por exemplo – mas ainda assim, dificilmente isso faria que o time fosse mais efetivo no ataque. Perdemos mais uma penca de gols e ainda corremos alguns riscos, que só não foram maiores porque o CRB praticamente se absteve de fazer qualquer coisa além de se defender. O gol vascaíno até surgiu – meio acidentalmente, depois de finalização do Éderson –, mas já não havia tempo para uma reação apropriada.
Jorginho pode não ter sido o responsável direto pela derrota de hoje - afinal de contas, não é ele que perde gols diante do goleiro ou deixa atacantes adversários com liberdade bastante para dominar uma bola como quer dentro da área –, mas algo precisa ser feito para que o time saia dessa fase horrenda e nosso treinador não parece saber o que é. Relembrar os méritos do começo do seu trabalho ou um possível interesse da CBF em dar-lhe o cargo de técnico da Seleção não muda o fato de que, há meses, tudo o que Jorginho faz é dar desculpas pelo fraco desempenho do seu time, mesmo nas vitórias.
Ainda que o treinador não esteja em campo, cabe ao técnico fazer com que os jogadores sejam mais eficientes ao executar suas funções ou escolher outros que sejam. Falar que é preciso trabalhar para sair dessa fase já ouvimos muitas vezes. O Vasco não vai bem desde antes do fim do primeiro turno e a campanha desastrosa do segundo só confirma que, se algum trabalho está sendo feito, ele não está sendo o bastante para fazer o time render tudo o que pode.
As atuações...
Martín Silva – alguns dirão que falhou nos gols, outros dirão que não. Mas o fato é que se tínhamos há algum tempo um goleiro que fazia a diferença, parece que há algum tempo não temos. Na minha opinião, os dois gols que sofremos seriam defendidos pelo Martín de alguns meses atrás. Ainda assim, fez uma defesa no segundo tempo que evitou um vexame ainda maior em São Januário.
Madson – quase marcou um gol de cabeça no começo do jogo, mas no restante da partida fez o de sempre, que é muito pouco. No primeiro gol do CRB, não foi visto sequer tentando acompanhar a subida do atacante pela sua lateral.
Luan – no primeiro gol, o atacante Zé Carlos recebeu uma bola em um balãozinho lento e mesmo assim Luan lhe deu espaço para matar a bola e chutar para o gol; no segundo, comeu poeira do meia Gerson Magrão e não conseguiu impedir o cruzamento.
Rodrigo – tirando uma chance perigosa em chute de fora da área no primeiro tempo, em sua volta ao time só mostrou sua vocação para encrenca. No segundo gol, preferiu ficar “marcando” o Martín Silva a tentar impedir que o atacante Zé Carlos desse a cabeçada fatal.
Júlio César – nada justifica a manutenção do veterano lateral como titular, talvez mesmo como jogador do Vasco. Ontem mostrou mais uma vez o quanto é lento e como é incapaz de marcar com eficiência e acertar um cruzamento. Assim como o Madson no primeiro gol, sequer foi visto tentando impedir a subida do atacante que, subindo pela sua lateral, marcou o segundo gol. Deu lugar ao Alan Cardoso, que pelo menos foi melhor na marcação quando o CRB passou a explorar de vez os contragolpes.
Diguinho - se devia cobrir as subidas do Júlio César, foi outro a falhar no lance do segundo gol. Mas mesmo com isso e com o fato de ter cometido uma tonelada de faltas, não acho que o volante-baladeiro mereça ser considerado o jogador a ser vaiado em campo. Diguinho foi, no máximo, tão mal quanto o resto da equipe, mas teve gente muito mais capaz que fez bem menos em suas posições ontem.
Fellype Gabriel – não fez o que tinha que fazer nem defensivamente – foi outro a não ser visto no contra-ataque que originou o segundo gol do time alagoano – nem ofensivamente, quando abusou dos toquinhos de lado sem qualquer efetividade. Seu maior feito foi ter conseguido jogar 45 minutos sem sentir qualquer lesão. Deu lugar ao Júnior Dutra ainda no intervalo, mas o atacante mais uma vez não justificou sua contratação: ele até se esforça, mas suas arrancadas não costumam dar em nada. Fez uma finalização perigosa.
Andrezinho – em teoria, com dois volantes em campo, teria mais liberdade para trabalhar na criação. Não foi isso o que aconteceu. Teve uma atuação discreta demais justo quando o time precisava muito de criatividade.
Nenê – até que foi mais participativo que nas suas últimas partidas, mas não conseguiu ser decisivo como de costume. Teve mais de uma chance para o arremate e finalizou mal todas elas.
Éderson – mesmo com a insistência do Jorginho e afastar o Éderson da área, o que faz com que ele receba muito menos bolas do que deveria, o atacante mais uma vez marcou o seu e mostrou de novo ser o jogador mais regular do time nessa fase terrível.
Thalles – tem a desculpa de não receber bola em boas condições para finalizar, mas ontem nem como o pivô conseguiu fazer muita coisa. Yago Pikachu o substituiu ainda no intervalo e outra vez ficou naquela: não chegou a fazer a diferença fechando os espaços pelo meio e na criação acabou se embolando com todo mundo, sem encontrar um posicionamento ideal.