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NOTÍCIA

Machado indica que maior parte da propina a políticos foi em dinheiro

Dados passados por executivo mostram menor parte em doações eleitorais. Ele disse que recursos vinham de construtoras contratadas pela Transpetro.

Data: Quinta-feira, 16/06/2016 00:00
Fonte: Renan Ramalho e Nathalia Passarinho Do G1, em Brasília
 
 

O ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado indicou em sua delação premiada que a maior parte da propina que obtinha para políticos era paga em dinheiro e a menor parte, em doações eleitorais.

 

De um total de R$ 115,3 milhões obtidos, ao menos R$ 83 milhões (71,9%) teriam sido repassados em dinheiro e outros R$ 26,3 milhões por meio de contribuições oficiais para campanhas.

 

Os números são a soma do que ele falou sobre cada um dos mais de 20 deputados e senadores citados por ele aos investigadores da Operação Lava Jato. Vários dos repasses estão discriminados em tabelas nos documentos que integram o acordo de delação premiada, separando "vantagens ilícitas em doações oficiais" e "vantagens ilícitas em dinheiro".

 

 

O maior beneficiário dos pagamentos citado por Machado é o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que teria recebido um total de R$ 32,2 milhões, sendo R$ 24 milhões em dinheiro, pagos entre 2004 e 2014. Para campanhas, Renan teria levado R$ 8,2 milhões. Uma das doações teria sido feita para Renan Filho (PMDB-AL) em 2014, na disputa para governador.



Na delação premiada, Machado diz que os recursos, para campanhas ou entregas em dinheiro, eram obtidos junto a construtoras e empresas contratadas pela Transpetro. No caso de Calheiros, por exemplo, as doações eram oriundas da Queiroz Galvão e da Galvão Engenharia.

 

Edison Lobão e Romero Jucá
O segundo maior montante, supostamente de propina, viabilizado por Machado, teria sido repassado ao senador Edison Lobão (PMDB-MA), no total de R$ 23,7 milhões, sendo R$ 20,9 milhões em dinheiro e R$ 2,7 milhões em doações eleitorais.



O terceiro maior volume teria beneficiado o senador Romero Jucá (PMDB-RR), num total de R$ 21 milhões: R$ 16,8 milhões em dinheiro e R$ 4,2 milhões em doações. O ex-presidente José Sarney, por sua vez, teria levado R$ 18,5 milhões: R$ 16,25 em dinheiro e R$ 2,25 em doações.



Em muitos casos, Machado não deixou claro quanto exatamente foi pago em dinheiro ou em doações oficiais. Num dos depoimentos, contou, por exemplo, que foram arrecadados R$ 7 milhões para distribuir a cerca de 50 candidatos a deputado federal pelo PSDB em 1998. A maior parte teria sido entregue para o senador Aécio Neves (PSDB-MG) em dinheiro.

 

Os demais candidatos tucanos à época, teriam levado, cada um, entre R$ 100 mil e R$ 300 mil. "A maioria das contribuições se dava em dinheiro", afirmou Machado, genericamente. No depoimento, ele disse que passou em várias empresas para obter os recursos. Citou, por exemplo, a Camargo Corrêa, que "sempre foi uma boa financiadora do PSDB".



Outro cacique do PSDB citado que teria recebido em dinheiro foi Sérgio Guerra (PE), ex-presidente do partido morto em 2014. Machado contou que em 2006 ele pediu doações para viabilizar, junto com o então senador Heráclito Fortes (hoje deputado pelo PSB-PI, mas na época senador pelo DEM), a aprovação de limite maior de endividamento da Transpetro.



Guerra teria recebido R$ 1 milhão em espécie ao longo de 2007. Heráclito teria recebido R$ 500 mil por meio de doações oficiais, mas teria cobrado outros R$ 500 mil em 2014.



Vários políticos citados por Machado, com valores menores, teriam recebido somente via doações. É o caso de Gabriel Chalita (PMDB-SP), que teria recebido R$ 1,5 milhão em 2012, a pedido do atual presidente em exercício Michel Temer.

 

Também teriam recebido somente contribuições oficiais Henrique Alves (PMDB-RN), com R$ 1,5 milhão; Valdir Raupp (PMDB-RO), com R$ 850 mil; Garibaldi Alves e seu filho Walter Alves, ambos do PMDB-RN, com R$ 700 mil.



Veja o que disseram os citados:

Renan Calheiros
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) disse em entrevista, na quarta-feira (15), que o delator “não prova nada” que possa comprometê-lo. Posteriormente, em nota, Renan acrescentou que "jamais recebeu recursos de caixa dois ou vantagens de quem quer que seja" (leia a íntegra ao fim da reportagem).



José Sarney, Romero Jucá e Edison Lobão
Responsável pelas defesas do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) e dos senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Edison Lobão (PMDB-MA), o criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que eles negam "peremptoriamente" terem recebido qualquer valor, "a qualquer título", de Sérgio Machado.