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NOTÍCIA

Ex-tesoureiro do PP movimentou R$ 7 milhões em propina, diz PF

João Claudio Genu foi condenado no mensalão e agora é alvo da Lava Jato. Para a PF, o esquema na Petrobras foi uma continuação do mensalão.

Data: Segunda-feira, 23/05/2016 00:00
Fonte: Bibiana Dionísio Do G1 PR
 
 

O ex-tesoureiro do PP João Claudio Genu, preso nesta segunda-feira (23), movimentou R$ 7 milhões, sem justificativa, entre 2005 e 2013. Segundo a Polícia Federal (PF), há indícios de que o dinheiro era propina do esquema de corrupção na Petrobras e foi distribuído para políticos do PP, sendo que R$ 2 milhões ficaram com Genu.

 

O petrolão é continuidade do mensalão. Está cada vez vez mais demonstrado"
Luciano Flores, delegado federal
 

Ele foi preso em um hospital em Brasília, na 29ª fase da Operação Lava Jato, batizada de "Repescagem". A ação cumpre três mandados de prisão e seis de busca e apreensão. O ex-tesoureiro não estava hospitalizado, mas acompanhando outra pessoa. Ele deve chegar a Curitiba ainda nesta segunda, às 22h.

 

Para a força-tarefa da Lava Jato, a prisão de Genu é estratégica para as investigações, porque mostra que o esquema descoberto da Petrobras é uma continuidade do mensalão. "O petrolão é continuidade do mensalão. Está cada vez vez mais demonstrado", afirmou o delegado federal Luciano Flores, em entrevista em Curitiba.

 

Genu foi assessor do ex-deputado federal José Janene (PP-PR), morto em 2010, e foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão do PT em 2012. Após recurso, em março de 2014, Genu foi absolvido do crime de lavagem de dinheiro. Ele também tinha sido denunciado por corrupção passiva, mas o crime prescreveu.

 
 

"A gente pode fazer um paralelo entre o mensalão e a Lava Jato com uma nitidez muito mais aprofundada neste momento. Por exemplo, no mensalão, o João Cláudio Genu foi condenado porque ele sacou aproximadamente R$ 1,05 milhão (...). Já na Lava Jato, nós já temos mais de R$ 2 milhões de pagamento de propina para ele", afirmou Flores.

 

Em nota, o Partido Progressista afirmou que "não admite a prática de atos ilícitos" e disse "confiar no trabalho da Justiça para que a verdade prevaleça". O advogado Maurício Maranhão, responsável pela defesa de Genu, disse à TV Globo que, por enquanto, não vai se manifestar.

 

RESUMO DA 29ª FASE
A operação foi chamada de Repescagem porque tem como alvo um ex-assessor que foi condenado no processo do mensalão.



Objetivo: investiga os crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.
Mandados judiciais: seis mandados de busca e apreensão, um de prisão preventiva e dois mandados de prisão temporária.
Preso temporário: Lucas Amorim Alves, sócio de Genu.
Mandado de prisão temporária em aberto: Humberto do Amaral Carrilho, empresário.
Preso preventivo: João Claudio Genu, foi assessor do ex-deputado José Janene (PP-PR).
O que descobriu: Genu seria responsável por intermediar o pagamento de propina dentro da Petrobras. Ele também seria o beneficiário de até 5% do que era pago a partir de contratos firmados no setor de Abastecimento da petrolífera.

 

A prisão temporária tem prazo de cinco dias e pode ser prorrogada pelo mesmo período ou convertida em preventiva, que é quando o investigado fica preso à disposição da Justiça sem prazo pré-determinado.

 

Investigações
A força-tarefa da Lava Jato afirma que Genu seria o responsável por receber a propina de contratos firmados no setor de Abastecimento da estatal e distribui-la. 60% dos recursos iam para o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e 30%, para parlamentares do PP.

 

Além disso, o ex-tesoureiro seria o beneficiário de até 5%. O doleiro Alberto Youssef, que operacionalizava a lavagem de dinheiro, levava 5%. As porcentagens variaram ao logo dos anos, segundo os investigadores.

 

O dinheiro chegava a Genu por meio de Youssef e Carlos Habib Chater, dono do Posto da Torre, em Brasília, e sempre em espécie.

 

"Ele [Genu] auxiliava os parlamentares e Alberto Youssef na distribuição das propinas ao Partido Progressista. Ele atuava ajudando a indicar os políticos, por exemplo, que deveriam receber e, pelo papel que ele exerceu na idealização do esquema, ele recebeu uma espécie de royalty por isso", disse o delegado Luciano Flores.

 

Flores destacou que, apesar de Genu nunca ter exercido mandato parlamentar, sempre esteve próximo ao ex-deputado federal José Janene, apontado como um dos criadores do esquema do mensalão e das fraudes na Petrobras. Para o procurador do Ministério Público Federal (MPF) Diogo Castor de Mattos, é possível dizer que Genu continuou sendo representante de Janene mesmo após a morte do político.

 

“A prisão tem peso estratégico para a Lava Jato porque ele era um dos principais cabeças envolvendo recebimento de vantagens indevidas do PP”, afirmou Mattos.

 
 

O procurador declarou ainda que o envolvimento de Genu com o núcleo político torna a detenção importante para o bom avanço das investigações e para ajudar a localizar outros envolvidos.

 

A prisão tem peso estratégico para a Lava Jato porque ele era um dos principais cabeças envolvendo recebimento de vantagens indevidas do PP"
Diogo Mattos, procurador
 

Ainda de acordo com o procurador Mattos, Genu recebia, habitualmente, valores fixos. Mesmo após o mensalão, e até 2013, ganhava mensalmente entre R$ 40 mil a R$ 70 mil.



O nome de Genu não é novidade no âmbito da Lava Jato. Desde o início das investigações, recaem sobre ele suspeitas de envolvimento nos crimes descoberto na Petrobras.



Genu se tornou alvo de uma etapa apenas agora, porque, de acordo com a Polícia Federal, surgiram provas contundentes para pedir a prisão dele. Entre elas, a possibilidade do ex-assessor manter contas no exterior.

 

Segundo a investigação, foram descobertas trocas de mensagens entre Genu e agentes públicos da Petrobras e da BR Distribuidora. Isso que pode indicar uma ação do suspeito também neste órgão público.

 

"Com as provas novas, a gente acredita que Genu, além da Petrobras, também tenha uma ligação com a BR Distribuidora. Agora, as instituições começarão a averiguar os fatos com mais precisão", disse o procurador.

 
 

Outros suspeitos
A 29ª fase da operação também prendeu Lucas Amorim Alves que, conforme a Polícia Federal, era sócio de Genu em empresas cujas contas bancárias movimentaram o dinheiro ilegal. Ele era considerado um "emissário" do ex-assessor.

 

O montante de R$ 7 milhões passou por contas bancárias de empresas que serviram para a lavagem de dinheiro, de acordo com a PF. Há casos em que as empresas estavam em nome, por exemplo, da esposa e do cunhado de Genu.



Outro investigado que teve mandado de prisão expedido foi o empresário Humberto do Amaral Carrilho. Ele é considerado foragido, mas há a expectativa de que o advogado dele entre em contato com as autoridades para combinar como será feita a apresentação.

 

Em delação premiada, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou que Carrilho, dono da empresa Distribuidora Equador, o procurou, entre 2008 e 2009, com um projeto de construção de um Terminal de Derivados no Rio Amazonas, em Itacotiara.

 

De acordo com Costa, o projeto foi aceito, e a empresa foi contratada pela Petrobras, sem licitação, pois se tratava de exclusividade. Paulo Roberto Costa acrescentou que a intermediação dele “pesou” para a contratação ainda que a parte técnica do projeto não apresentasse desvio de condutas. O ex-diretor da Petrobras disse que, em virtude desta intermediação, o dono da empresa pagou valores ao declarante até fevereiro de 2014.