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PT não inventou corrupção, mas sistematizou atuação partidária, acusa Delcídio

Para o senador, dizer que Lula não sabia de esquemas de desvio da Petrobras e que Dilma recebeu parecer falho sobre a refinaria de Pasadena é chamar as pessoas de "idiotas"

Data: Terça-feira, 17/05/2016 00:00
Fonte: ESTADÂO CONTEÙDO

 

Estadão Conteúdo

No dia 10 de maio, o Senado mandou cassar o mandato de Delcídio; assim, ele perdeu o foro
                      Waldemir Barreto/Agência Senado
No dia 10 de maio, o Senado mandou cassar o mandato de Delcídio; assim, ele perdeu o foro
 

O senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS) disse em entrevista nesta segunda-feira (16) que o PT "não inventou a corrupção na Petrobras". O ex-parlamentar, que atuou durante décadas no setor energético, afirmou, contudo, que, com o Partido dos Trabalhadores, houve uma "sistematização" da atuação partidária para operar desvios na Petrobras e em outras estatais.

 

"Realmente, esse processo foi crescendo. Qual a diferença (em relação a governos anteriores)? Começou a haver uma espécie de atuação sistêmica nas diretorias e atuação partidária muito mais ampla, concatenada, com participação das principais lideranças partidárias que compunham a base do governo Lula e Dilma. Deu no que deu", afirmou o senador cassado no programa Roda Viva, da TV Cultura.

 

Segundo Delcídio, desde o governo FHC, Itamar e anteriores, havia corrupção nas estatais, mas não de forma tão sistematizada. Para explicar, ele relatou que governos anteriores ao PT não chegavam ao "detalhe" de indicar gerentes e chefes de departamento ligados a partido. "O diretor ajustava sua equipe, não tinha isso de colocar em todos os espaços alguém ligado a partido".

 

Lula e Dilma sabiam

Questionado se corroborava a afirmação de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente afastada Dilma Rousseff sabiam do esquema de corrupção, Delcídio repetiu que sim. Para o ex-senador, a argumentação de que Lula não sabia dos desvios ou que Dilma recebeu um parecer "falho" para decidir sobre o investimento na refinaria de Pasadena é assumir que as pessoas são "idiotas". "Tenha paciência, é achar que todo mundo é ignorante, idiota. A Petrobras sempre foi do presidente."

 

Presidente do Conselho da Petrobras à época da aquisição de Pasadena, Dilma alegou ter recebido um parecer falho da diretoria Internacional para chancelar o negócio. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), a compra da refinaria rendeu um prejuízo de quase US$ 800 milhões à Petrobras.

 

"Nas estatais, especialmente na Petrobras, não há a possibilidade de você levar um processo (parecer) incompleto pra diretoria, pro conselho de administração", afirmou Delcídio ao citar todas as instâncias internas da companhia pelas quais passam esse tipo de documento.

 

Questionado se a então presidente da República mentiu sobre o caso, Delcídio respondeu afirmativamente. "Absolutamente, ela não assumiu a responsabilidade que era dela."

 

Delcídio repetiu também a alegação que, sob comando direto de Dilma, negociou a indicação de Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) em troca da decisão favorável a liberação da prisão de empreiteiros implicados na Operação Lava Jato.

 

Segundo o ex-senador, ele cobrou em conversa com Navarro, no térreo do Palácio do Planalto, em uma "salinha", que ele cumprisse o compromisso de liberar determinadas pessoas que estavam presas em Curitiba. "Ele disse: Sei muito bem da minha tarefa. Eu fui chamado na época de mentiroso, mas o tempo é o juiz das coisas. O Marcelo Odebrecht, em delação agora, confirmou essa história", disse.

 

Sobre Lula, Delcídio repetiu que o petista pediu que ele solucionasse o "problema" com Nestor Cerveró - que estava preso e com suspeita que fecharia acordo de delação. "Ele (Lula) me disse: precisamos resolver essa questão."

 

'Aposentadoria'

Com sua experiência no Senado, Delcídio descartou a possibilidade de Dilma Rousseff conseguir sobreviver ao processo de impeachment e retornar à Presidência da República. "A presidente Dilma não volta mais. Só esses 55 votos no Senado (para abertura do processo) já são um indicativo. Conheço aquela Casa, a tendência é esse placar se alargar (contra Dilma)", afirmou - para garantir o afastamento definitivo de Dilma, o processo de impeachment tem de contar com 54 votos pela condenação. "Ela já não tinha mais condição política nenhuma de governar País. A presidente Dilma vai para a aposentadoria."

 

Entre os erros políticos da presidente afastada, Delcídio destacou que a petista não ouviu os conselhos de seu padrinho político, o ex-presidente Lula, e preferiu se orientar por pessoas como Aloizio Mercadante - que ocupou os ministérios da Casa Civil e da Educação.

 

"Ela era aconselhada pelo Mercadante no sentido de 'deixe essa coisa (Lava Jato) andar, pode até chegar no Lula, mas você vai sair forte desse processo. Um pensamento tosco que ela ia se fortalecer e os outros entrar pelo cano."

 

Na última quinta-feira (12), o Senado decidiu afastar Dilma por até 180 dias
Lula Marques/Agência PT
Na última quinta-feira (12), o Senado decidiu afastar Dilma por até 180 dias
 

Em relação a Lula, Delcídio avaliou que a situação política do ex-presidente é "crítica" e que vai ser difícil ele voltar a ter força eleitoral. "Ele sai muito desgastado, acho muito difícil sair uma candidatura competitiva disso."

 

Sobre o PT, classificou como "partido forte, orgânico, mas que perdeu muito do seu brilho". Para ele, a legenda precisa passar por uma revisão dos seus quadros, tirando da presidência Rui Falcão - a quem chamou de "figura bizarra" - e valorizando as lideranças "lúcidas" e "competentes".

 

Aécio e PMDB

Apesar de confirmar a informação de que o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, teria envolvimento nos desvios de Furnas, Delcídio evitou frisar a suposta culpa do tucano. Disse apenas que, com a evolução da Lava Jato, a questão vai se esclarecer, pois Furnas é a "joia da Coroa" - tem atuação no setor energético do Sudeste, a região mais valorizada do País - e há muita informação nas investigações sobre desvios envolvendo ela. "Não está tão difícil rastrear de onde vem, pra onde vai e quem recebe. As evidências e o histórico de Furnas são inapeláveis."

 

A respeito do PMDB, Delcídio disse que o partido teve uma "posição proeminente" nos desvios em estatais. "Isso vai aparecer nitidamente", disse ao citar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) - a quem chamou de "cangaceiro", o senador licenciado e agora ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR) e o senador Edison Lobão (PMDB-MA).