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NOTÍCIA

Pessoas em extrema pobreza aumentam 50% em três anos

Data: Segunda-feira, 21/12/2015 00:00
Fonte: Raquel Ferreira, repórter de A Gazeta

 

Cerca de 120 mil pessoas vivem em situação de extrema pobreza em Mato Grosso, conforme a última estimativa do IpeaData. O número é equivalente a 3,75% da população estadual e pode praticamente dobrar no ano que vem, caso sejam feitos cortes na verba destinada ao Bolsa Família e programas sociais.

 

Em 2011, o Estado alcançou o menor índice, com 1,71% da população nessa situação. Em três anos, o número de pessoas em situação de extrema pobreza cresceu mais de 50%.

 

Do ponto de vista econômico, famílias que vivem situação de extrema pobreza são as que têm renda per capita de R$ 77 ao mês. Na prática, são pessoas que não têm condições de manter o básico para uma sobrevivência com o mínimo de qualidade. Moram em casas precárias, muitas vezes sem ter o que comer todos os dias, o que vestir ou calçar, a exemplo das histórias das famílias que o jornal A Gazeta vem contando desde o mês de novembro.

 

Conforme a Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social (Setas), além dos 120 mil que já vivem em situação de extrema pobreza, outros 105 mil não se enquadram nesse perfil por serem beneficiários do Bolsa Família, mas têm potencial para fazer parte desse grupo. A perda do benefício de transferência de renda, ou parte dele, as devolvem imediatamente à situação de extrema pobreza.

 

O economista e assessor técnico da Setas, Luciano Joia, destaca que essas pessoas especificamente saíram desse grupo social em decorrência da inserção ao Bolsa Família. No Estado, cerca de 600 pessoas são beneficiárias deste programa.

 

O secretário da pasta, Valdinei Arruda, destaca que atualmente o Estado avalia o perfil social apenas com base na renda das famílias, o que não é o adequado. O ideal é traçar o perfil geral, avaliando a qualidade de vida da população. Para levantar esses dados, o governo assinou convênio com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para identificar a realidade da população.

 

“Nós sabemos que existem pessoas em situação de extrema pobreza e pobreza, mas são dados estimados pelo Pnad. Não temos identificado ainda onde estão essas pessoas e qual a real situação da qualidade de vida”.

 

Para Arruda, a crise instalada no país é uma preocupação muito grande, especialmente com as camadas mais pobres da sociedade. São essas as pessoas que mais sofrem, uma vez que já vivem com o mínimo necessário e as vezes nem isso.

 

Há dois anos a dona de casa Fabiana vive no Morro dos Macacos, ocupação irregular na região Sul de Cuiabá, com os quatro filhos e o marido. A moradia foi construída com restos de madeira em uma ladeira de piçarra. Essa foi a forma que a família encontrou para deixar de pagar o aluguel, que onerava ainda mais a situação financeira.

 

No Morro dos Macacos o que não faltam são casas de madeira erguidas na ladeira de forma aleatória. Do alto do grilo, a vista do horizonte é bonita, o que contrasta com a realidade dos que vivem ali.

 

No bairro Humaitá 2 o cenário é semelhante. É lá que vive Antônia Aparecida Saraiava da Silva, 32, com o marido e os dois filhos pequenos. A casa também é de madeira e ela relata que a família passa necessidade. Falta especialmente leite para as filhas: Maila, 3, e Manuele, 4 meses, que também precisa de fralda.

 

No Santa Laura, o idoso Jonas Lourenço Sobrinho, 63, o “Gaúcho da Sucata”, não conseguiu se aposentar. Com câncer de pele, pedra na bexiga, problema de pressão e coluna, ele sobrevive da sucata que recolhe e vende. Por mês, não chega a conseguir R$ 500 para manter a casa da família, que também foi construída com restos de materiais.

 

Histórias como essas estão cada vez mais frequentes na Capital e no interior. O secretário da Setas pontua que o crescimento da população em situação de extrema pobreza registrado nos últimos três anos se contrapõe com a quantidade de investimentos financeiros que o Estado recebeu no mesmo período em decorrência das obras da Copa, Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), entre outros.

 

Arruda pontua que essa contradição é reflexo da falta de políticas públicas para inserção da população no desenvolvimento econômico existente no Estado nesse período, que deveria ter sido feito por meio de políticas para promoção do trabalho, emprego e renda.

 

“Se deixar somente as empresas entrarem no Estado, elas não promovem o desenvolvimento econômico e inclusão social, que devem andar juntos. O desenvolvimento econômico desalinhado com a inclusão social reflete no que temos hoje, um Estado muito rico, com uma população muito pobre. Daí a importância da presença do poder público no controle”.

 

Medidas
Para tentar minimizar os impactos da crise, que deve ser mais sentida em 2016 em Mato Grosso, a Setas desenvolve e fortalece projetos como o Segurança Alimentar, Emprega Rede, Microcrédito Social e Fundos Rotativos Solidários.

 

O primeiro é voltado à garantia da oferta de alimentação saudável e segura para as pessoas mais carentes. É um sistema de banco de alimentos, que começa ser implantado em março, por meio de planos pilotos.



O foco é atender o restaurante popular, creches, lar dos idosos e população vulnerável, especialmente quilombolas, indígenas e rural.