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NOTÍCIA

Autoridades tentam descobrir causa do rompimento de barragem em MG

De acordo com a mineradora, na hora do rompimento não chovia no local. Sismógrafos detectaram pelo menos 11 pequenos tremores de terra na região.

Data: Sábado, 07/11/2015 00:00
Fonte: G1.globo.com/jornal-nacional
 
 

Ainda não é possível determinar o que foi que provocou o rompimento das barragens. Os reservatórios tinham passado por inspeção, mas a Fundação Estadual do Meio Ambiente recomendou reformas num deles.

 

As operações nas barragens que se romperam estão suspensas por tempo indeterminado. A mineradora Samarco declarou que a Barragem de Fundão tinha capacidade para armazenar 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro e estava com 55 milhões. Na hora do acidente, segundo a empresa, funcionários trabalhavam na obra de ampliação da capacidade, chamada de "alteamento".

 

O presidente da Samarco e o gerente de projetos da empresa disseram que por volta de 14h, pouco antes do rompimento da barragem, foram sentidos tremores no local.

 

“Assim que nós sentimos algum tremor diferente, imediatamente nós fomos avisados e fomos pra barragem, observamos a barragem, fizemos uma inspeção visual na barragem e naquele momento a barragem estava íntegra”, disse o presidente da Samarco, Ricardo Vescovi.

 

“Nós constatamos que a barragem não estava apresentando nenhuma anomalia. Não foi relatado pra nós até o momento que houve algum ruído. Só que depois de um certo tempo, houve o relato de que a barragem tinha iniciado um processo de ruptura”, afirmou o responsável pela investigação técnica da Samarco, Germano Lopes.

 

De acordo com a empresa, o dique de contenção era composto do próprio rejeito de minério de ferro compactado. Quando ele se rompeu a onda de rejeitos atingiu a Barragem de Santarém, logo abaixo, com capacidade para 7 mil metros cúbicos de água. Ela não resistiu e também se rompeu.

 

Imagens mostram que uma hidrelétrica da Vale, uma das donas da Samarco, junto com a BHP, teve que abrir as comportas pra dar passagem à onda de lama. A Samarco declarou que os rejeitos não são tóxicos.

 

“O material que extravasou da barragem é rejeito de minério de ferro, então não há nenhuma outra consequência que não a consequência física do próprio transbordamento. Obviamente afeta a vida de pessoas, obviamente pelo volume que extravasou, mas não é tóxico”, afirmou Ricardo Vescovi.

 

Quando as barragens se romperam, na quinta-feira (5), não estava chovendo, de acordo com a mineradora Samarco. Mas nesta sexta (6), o tempo fechou e caiu uma chuva fraca. O que preocupa a prefeitura de Mariana, porque isso pode dificultar ainda mais o acesso às seis comunidades atingidas pela lama de rejeitos.

 

O governador de Minas, Fernando Pimentel, sobrevoou a região com o ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi.

 

“Assim que passar a primeira situação agora, nós vamos providenciar o início de recuperação das estradas que foram atingidas, das pontes. Tem alguns distritos que não tem contato por terra porque as pontes foram rompidas com o rompimento da barragem”, diz Fernando Pimentel, governador de Minas Gerais.

 

Os acidentes com barragens de mineradoras se repetem há anos em Minas. Em 1986, sete pessoas morreram com o rompimento da mina de Fernandinho, em Itabirito, cidade próxima a Mariana. Em 2001, a barragem da Mineradora Rio Verde se rompeu. Cinco pessoas morreram. O acidente foi em um distrito de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Cinco anos depois, outro acidente inundou duas cidades da zona da mata mineira: Miraí e Muriaé. A barragem da Mineradora Rio Pomba Cataguases arrebentou e destruiu plantações e pastagens, além de afetar o abastecimento de água em dezenas de cidades mineiras e do Rio de Janeiro. E em setembro de 2014, de novo em Itabirito, outro acidente. Dessa vez, com uma barragem da Herculano Mineração. Três pessoas morreram e uma imensa cratera foi aberta pela enxurrada de lama.

 

No caso do rompimento, agora, em Mariana, a Samarco afirma que a Barragem de Fundão tinha passado por fiscalizações recentes.

 

“A barragem foi vistoriada pelos órgãos em julho de 2015. Em setembro de 2015 nós emitimos em obediência à legislação vigente os laudos de estabilidade dessa barragem e que atestavam a estabilidade da estrutura”, conta o responsável pela investigação técnica da Samarco, Germano Lopes.

 

A Feam, Fundação Estadual de Meio Ambiente, declarou que recebeu essa auditoria, feita por um auditor independe. E recomendou a necessidade de se fazer reparos na estrutura da Barragem de Fundão. As obras deveriam ter começado em setembro e a Samarco teria até dezembro de 2016 pra concluir as obras.

 

Sismógrafos da UNB detectaram, na quinta-feira (5), pelo menos 11 pequenos tremores de terra na região de Mariana, Itabira e Itabirito.

 

“Eventos de magnitude que variaram de 1,7 a 2,7. Dentre desses eventos, três foram muito próximos da barragem que se rompeu. Normalmente as barragens por mais que sejam de rejeito, são construídas para suportar magnitudes maiores para não sofrer efeitos geológicos que possam afetar essa barragem. É muito prematuro afirmar que essa ação dessa atividade pequena possa ter gerado o rompimento. Mas existe a relação que depois do tremor, a barragem se rompeu”, explica George Sandi França, professor do Observatório Sismológico - UNB.

 

A Samarco diz que ainda não é possível apontar as causas do acidente. O Ministério Público declarou que, mesmo sem saber as causas do acidente, a mineradora vai ser responsabilizada.

 

“O que a gente tem que saber, até para aferir a dimensão da responsabilidade, é se foi uma causa dolosa ou se foi uma causa culposa, ou se foi um acidente da natureza. Isso tudo tem que ser aferido, mas de toda forma, não há dúvida que a empresa Samarco, ela tem responsabilidade objetiva”, afirma o promotor de meio ambiente Antonio Carlos de Oliveira.