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NOTÍCIA

Beira-Mar é condenado a 120 anos de prisão por homicídios

Julgamento do traficante por quatro mortes acontecidas em Bangu 1 no ano de 2002 durou mais de 10 horas

Data: Quinta-feira, 14/05/2015 00:00
Fonte: TERRA/ Marcus Vinicius Pinto


 Foto: Brunno Dantas / TJ-RJ

Fernandinho Beira-Mar, durante julgamento no Rio de Janeiro
Foto: Brunno Dantas / TJ-RJ


O traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, voltou a ser condenado a mais de 120 anos de prisão por homicídio qualificado, com o agravante de motivo torpe contra quatro traficantes rivais em uma rebelião ocorrida no dia 11 de setembro de 2002, no presídio Laércio da Costa, conhecida como Bangu 1, de segurança máxima. O julgamento do traficante aconteceu no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

 


O júri popular formado por cinco mulheres e sete homens considerou Beira-Mar, um dos líderes da principal facção de venda de drogas do Rio, culpado, mesmo não tendo agido diretamente na ação que matou Ernaldo Pinto Medeiros, o Uê, chefe de uma facção rival e que teve o corpo carbonizado, Carlos Alberto da Costa, o Robertinho do Adeus, Wanderlei Soares, o Orelha (estes dois, cunhados de Uê) e Elpídio Rodrigues Sabino, Pidi ou Robô.

 

 

A sentença foi confirmada pelo juiz Fábio Uchôa de Magalhães perto das 2h da madrugada desta quinta-feira.

 

O julgamento só não se prolongou por mais tempo porque nove das dez testemunhas não depuseram. Os agentes penitenciários arrolados pela promotoria não compareceram, de acordo com a promotora Fabíola Lima, por medo. Uma testemunha da defesa, um traficante que sobreviveu à chacina de 2002, está foragida. O único a depor foi o traficante Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, outro sobrevivente e que mesmo sendo de uma facção rival foi, de acordo com suas próprias palavras, salvo por Beira-Mar.

 

Para os parentes do condenado e estudantes de direito e advogados, que desde cedo fizeram fila na porta do tribunal, o julgamento foi arrastado e com poucos momentos de intensidade, graças à confiança de Beira-Mar em se declarar inocente e da pouca efetividade dos dois membros do Ministério Público (além da promotora Fabíola Lima estava também o promotor Bráulio Gregório). Com discurso vazio, a promotoria demorou a convencer os jurados dizendo que “até calado ele dá ordens”, disse em um momento Fabíola Lima. “Ele está sendo condenado mais por ser quem é do que pela denúncia”, disse o advogado de Beira-Mar, José Maurício Neville de Castro Júnior.

 


Durante seu depoimento, Beira-Mar negou ser membro e muito menos líder da facção criminosa, ao lado de outro réu no mesmo caso, o traficante Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP, também em presídio Federal. Quando o promotor Bráulio Gregório disse que um agente penitenciário disse em depoimento ter a impressão de que Fernandinho Beira-Mar era um dos líderes, o traficante rebateu: “Posso achar que a Juliana Paes é linda, que a Thaís Araújo é linda e o senhor achar que não”, disse, irônico.


Beira-Mar atacou o sistema e disse que é perseguido pela mídia e pelo governo. “Segurança Pública dá voto e me deixar em presídio Federal, longe da minha família também dá voto”, acusou, afirmando que até suas visitas íntimas no presídio Federal de Porto Velho são filmadas pelos policiais.

 

A defesa de Beira-Mar questionou o fato de um dos 25 envolvidos no inquérito, um agente de segurança que recebeu R$ 400 mil para facilitar a entrada de armas no presídio e que deu acesso aos presos às chaves dos pavilhões, não ter sido sequer denunciado pelo MP. A promotora rebateu e disse que foi a própria defesa de Beira-Mar que pediu que ele fosse julgado sozinho.

 

Para convencer os jurados, a promotoria mostrou uma suposta conversa de Beira-Mar com um homem que estaria sendo torturado por ser amante de uma ex-namorada sua. Na conversa o homem afirma ter tido a orelha cortada e estar com os dedos pendurados. Este caso ainda não entrou em julgamento. Em outro vídeo se reproduz uma conversa entre Beira-Mar e Marcinho VP no presídio de Catanduvas, no Paraná, onde o traficante ordenaria ataques à ONG AfroReggae, de José Júnior, rival do pastor Marcos, líder espiritual de uma igreja evangélica pentecostal, que foi acusado de estuprar fiéis.

 

Beira-Mar já tinha 133 anos de condenações a cumprir e desde 2012 está cumprindo pena no presídio Federal de Porto Velho, depois de a polícia ter descoberto um plano para tentar resgatá-lo do presídio federal de Catanduvas, no Paraná. Beira-Mar já está retornando em avião da Polícia Federal para Rondônia.