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NOTÍCIA

Nova espécie de primata é descoberta na Amazônia, no Leste de Rondônia

Macaco Callicebus miltoni, apelidado de zogue-zogue rabo de fogo

Data: Quinta-feira, 12/03/2015 00:00
Fonte: RONDÔNIA DINÂMICA

Um grupo de cientistas descobriu uma nova espécie de primata na Amazônia. O novo macaco vive exclusivamente em uma área que se situa em pleno arco do desmatamento - região amazônica onde a fronteira agrícola avança em direção à floresta e que registrar os maiores índices de desmatamento. Com isso, ao ser descrito pela primeira vez pela ciência, o novo animal já foi catalogado como espécie em situação de vulnerabilidade. 



O novo macaco, que tem uma faixa grisalha na testa, costeletas e garganta marrons e cauda avermelhada, pertence ao gênero Callicebus, conhecido popularmente como zogue-zogue, dentro do qual já existem 31 espécies reconhecidas. Ele foi batizado de Callicebus miltoni, em homenagem ao veterinário Milton Thiago de Mello, de 99 anos, que é pesquisador do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília (UnB) e cujo trabalho já foi considerado como uma das principais contribuições brasileiras à primatologia.





Novo macaco vive exclusivamente em uma área que se situa em pleno arco do desmatamentoNovo macaco vive exclusivamente em uma área que se situa em pleno arco do desmatamento



O estudo que descreve a nova espécie, publicado na revista Papéis Avulsos de Zoologia, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), foi realizado por Júlio César Dalponte, do Instituto para a Conservação dos Carnívoros Neotropicais (Pró-Carnívoros), José de Souza e Silva Júnior, coordenador de Zoologia do Museu Paraense Emílio Goeldi e Felipe Ennes Silva, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauã.



O macaco foi encontrado por Dalponte em 2009, no Mato Grosso, durante um trabalho de campo para a realização de um inventário de espécies de mamíferos em unidades de conservação da Amazônia. De acordo com Ennes Silva, o pesquisador percebeu pelo padrão de coloração do pelo que o animal poderia ser de uma espécie não descrita. "Ele coletou um indivíduo para análise e nós confirmamos que de fato era uma espécie nova", disse Silva. "Um ano depois, quando participei de uma expedição ao sul do Amazonas, o professor Dalponte me alertou para ficar atento ao zogue-zogue", contou Ennes Silva. Durante a expedição, Ennes Silva coletou informações sobre a distribuição da espécie e, mais tarde, Silva Júnior fez a descrição formal do novo animal. Como macacos pequenos não atravessam rios, foi possível verificar que a distribuição geográfica da nova espécie ficava confinada entre duas bacias.



O novo macaco, Callicebus miltoni comaparado a dois outros macacos zogue-zogue de espécies diferentes. O novo macaco, Callicebus miltoni comaparado a dois outros macacos zogue-zogue de espécies diferentes. 



De acordo com Ennes Silva, o Callicebus miltoni - apelidado pelos pesquisadores de "zogue-zogue rabo de fogo" -, ocorre entre os Rios Aripuanã e Roosevelt, em uma região que se estende pelo oeste de Mato Grosso, sul do Amazonas e uma pequena parte do leste de Rondônia. "Cerca de 57% da área onde ocorre o Callicebus miltoni se situa em unidades de conservação. No entanto, a região fica no arco do desmatamento, onde há uma violenta pressão de grilagem de terras, avanço de áreas agrícolas e atividade madeireira ilegal", disse. Segundo Silva, descobrir um novo primata em uma área sob tal pressão ambiental sugere que a destruição da biodiversidade poderá dizimar espécies que nem mesmo são conhecidas.



"A área está muito devastada. Um documento da Aneel, despachado em fevereiro de 2012, aprovou o inventário de sete novas hidrelétricas na região do encontro dos dois rios. Esses sete reservatórios - quatro na Bacia do Aripuanã e três na bacia do Roosevelt - deverão ter mais de 1500 km2 de área de inundação", disse. Segundo ele, ainda não é possível saber o grau de ameaça ao qual está subjetido o Callicebus miltoni. "Sabemos a distribuição da espécie, mas ainda será preciso fazer novos estudos para calcular a densidade da população", explicou.