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NOTÍCIA

A Mocidade não morreu

Carnavalesco José Rodrigues de Souza relembra tempos em que a Escola de Samba Mocidade Independente Universitária sacudia as avenidas de Cuiabá

Data: Domingo, 08/02/2015 00:00
Fonte: Diário de Cuiabá/ VANESSA MORENO

“Pra mim o samba é a melhor maneira de transmitir a cultura do povo”. Quem diz isso é um apaixonado pelo carnaval e pela nossa cultura cuiabana. José Rodrigues de Souza, mais conhecido como Rico, foi um dos fundadores da Mocidade Independente Universitária, primeira e única escola de samba que teve origem em uma universidade, a UFMT.


No dia 20 de janeiro de 1976 nascia em Cuiabá, no pátio da Universidade Federal de Mato Grosso, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente Universitária - G.R.E.S.M.I.U, oriunda da “Banda U”, fundada pela comunidade universitária liderada pelo professor de Educação Física João Batista Jaudy. Os componentes eram alunos, professores e funcionários da UFMT, mas a participação era aberta a toda sociedade. Rico participou desde o início, quando ainda era calouro do curso de Engenharia Civil.


“A escola de samba era a melhor forma de aproximar a comunidade universitária com a comunidade de fora”, relata. Devido ao sucesso, a universidade se comprometeu em criar uma sede própria para a escola. Em 1984, a Mocidade ganhou a quadra João Batista Jaudy, no Coxipó. A inauguração contou com a presença de Piná, rainha de bateria da escola de samba carioca Beija-Flor. “Nós tínhamos um forte vínculo com a Beija-Flor” - Rico conta que já receberam diversos componentes da escola.


Na memória de Rico, a Mocidade Independente continua viva e bem guardada em um extenso registro de fotos e anotações. “Eu tenho muita coisa e se um dia eu deixar de existir elas vão morrer comigo, porque eu sou o ultimo da Mocidade Independente que tem alguma coisa da história. Os outros não se preocuparam em registrar essas coisas que guardo e tento relembrar escrevendo”, desabafa.


A escola existiu durante 15 anos e o carnavalesco já passou pela comissão de frente, bateria, diretoria e presidência.


O grande porte da Mocidade, que era como as escolas cariocas, com direito a carro alegórico, abre-alas, mestre-sala, porta-bandeira, baianas e bateria, fez com que a escola fosse campeã do carnaval cuiabano por dez vezes consecutivas.


Os enredos eram compostos por um dos compositores da Beija-Flor e todo ano retratavam os mais diversos temas da história e da cultura popular mato-grossense como o Pantanal, Aripuanã, Minhocão do Pari, antigos blocos da capital, artistas que tiveram trabalhos relevantes em Cuiabá e uma série de outras riquezas. “O Batista telefonava pro Savinho da Beija-Flor, dava o tema e de lá mesmo ele criava o samba pra nós”, conta.


“O carnaval era sensacional em Cuiabá”, relembra, saudoso pela grande festa. Hoje sua maior insatisfação é por conta dos rumos que o carnaval tomou em nossa capital. A falta de valorização, de investimento e de pessoas apaixonadas pela festa fez com que a cultura se perdesse.


As principais avenidas que antes eram enfeitadas por grandes painéis coloridos e preparadas para receber o público com muitas arquibancadas, hoje ficam mortas durante os cinco dias em que a população cuiabana se refugia nos interiores do Estado onde encontram blocos mais animados. O próprio Rico, atualmente integrante da bateria da Confraria Bode do Karuá, costumeiramente sobe a serra pra desfilar em Chapada do Guimarães. Mas esse ano vai ser diferente, o carnavalesco apaixonado vai desfilar na sua querida escola de samba carioca Estação Primeira de Mangueira, na qual já tivera oportunidade de se apresentar outras vezes “Não tem um espetáculo na terra mais bonito que o carnaval” resume.


Rico conta que o fim da Mocidade foi algo espontâneo, muitos dos jovens componentes se casavam e saiam do grupo. “Eu fui um dos únicos que casei e levei pra lá porque eu gostava de carnaval” destaca. Outro fator que talvez possa ter sido relevante para a extinção da escola, foi a mudança do local dos ensaios, deixando o ginásio da universidade. “Nós não poderíamos ter saído dali”, lamenta Rico “Eu sinto muito porque no inicio 99% era comunidade universitária e 1% comunidade de fora, até o momento em que ficou 99% do pessoal de fora e 1% do pessoal de dentro”.


“A universidade dava força total através de reitores como Gabriel Novis Neves, Benedito Pedro Dorileo, Eduardo De Lamônica”, conta. A escola, apesar de suas alegorias magníficas, foi alvo de algumas críticas, mas de muitos elogios, inclusive do antigo ministro da Educação, Cultura e Desportos, Eduardo Portella que classificou a escola como a maior manifestação da cultura popular brasileira que tivera a oportunidade de conhecer.


Hoje a população cuiabana sofre de carência carnavalesca. A falta de investimento na cultura popular, através dos gestores, fez com que os movimentos de carnavais ficassem cada vez menores e apenas divididos em alguns bairros da capital. “Quando Rodrigues Palma era prefeito a Getúlio Vargas era enfeitada com grandes painéis. Hoje em dia o carnaval de rua decaiu muito, é coisa política, o prefeito Mauro Mendes faz o carnaval só pra não ficar mal perante a opinião publica”, avalia.


"Eu acredito que o novo governador vai dar valor à nossa cultura" afirma Rico que acredita na capacidade de Pedro Taques por ser um gestor cuiabano e um dos frequentadores do carnaval do Bode do Karuá. Rico defende a importância do carnaval para a preservação da cultura da nossa região e até mesmo como uma forma de inserir jovens, crianças e adultos das comunidades mais carentes em um ambiente de criação, desenvolvendo atividades educativas e descobrindo talentos para música e para dança.