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NOTÍCIA

'WSJ': Petrobras é atingida por queda do preço do petróleo e corrupção

Expansão ousada da empresa estatal em alto-mar está ameaçada, diz Wall Street Journal

Data: Quinta-feira, 15/01/2015 00:00
Fonte: Jornal do Brasil

 

"Cambaleando devido a um enorme escândalo de corrupção, a Petrobras enfrenta outro grande desafio: os preços do petróleo em queda estão testando a viabilidade econômica dos campos de petróleo em águas profundas da empresa.


Com a estimativa de conter 50 bilhões de barris de petróleo recuperável, esses campos de pré-sal são essenciais para que o Brasil cumpra seu objetivo de se tornar um dos cinco maiores produtores do mundo por volta de 2020". É o que diz uma matéria do americanoWall Street Journal, publicada nesta quinta-feira (15/01)  


“Mas os preços do mercado oscilando na faixa dos 50 dólares o barril não estão ajudando. A perfuração em águas profundas é um dos empreendimentos mais caros na indústria, e se torna menos atraente quanto mais os preços caem. A Petrobras disse na semana passada que o custo break-even da produção do pré-sal está entre US$ 45 e US$ 52.


Sendo já a grande empresa petroleira mais endividada do mundo, a Petrobras tem contado com os lucros do petróleo para ajudar a financiar uma agressiva expansão em alto-mar, ajudada por parceiros estrangeiros que buscam explorar enormes reservas brasileiras em águas profundas”, escreve o jornalista Will Connors.


“Vai se tornar cada vez mais difícil para a Petrobras trabalhar nessa galinha dos ovos de ouro,” diz Michelle Foss, uma economista de energia na Universidade do Texas. O pré-sal é “muito desafiador e caro até mesmo num ambiente de alta nos preços de petróleo.”


Uma porta-voz da Petrobras diz que a empresa ainda está avançando em projetos do pré-sal “de uma maneira economicamente viável”.


Mas os cortes aparecem. Ainda que tenha que fornecer detalhes, a Petrobras anunciou em dezembro que vai reduzir os custos de um plano ambicioso com gasto de US$ 220 bilhões, sendo que metade desse montante seria destinado ao desenvolvimento dos campos de pré-sal.


Reveladas em 2007, as jazidas se situam a 200 milhas distantes da costa sudeste do Brasil, bem abaixo do fundo marinho e cobertas pela espessa camada de sal, de onde vem o nome. A descoberta foi inicialmente anunciada como uma bonança que iria catapultar o Brasil em um dos maiores produtores do mundo. Logo depois da descoberta, o presidente do Brasil na época, Luiz Inácio Lula da Silva, fez uma famosa declaração: “Deus é brasileiro”.


O pré-sal já responde por quase um terço da produção total da empresa de 2,3 milhões de barris de petróleo por dia. Para 2020, a Petrobras busca ampliar a produção a quatro milhões de barris por dia, com a maioria dessa produção vindo dos campos de pré-sal.


Porém, não está claro levará os financiamentos a fazê-lo. A Petrobras pegou grandes empréstimos para financiar empreendimentos em exploração e desenvolvimento, e agora está sobrecarregada com cerca de US$ 170 bilhões em dívidas, segundo o Moody’s Investor Service.


O Brasil cortejou parceiros estrangeiros  para ajudar a desenvolver suas riquezas do pré-sal. Mas poucas grandes empresas de petróleo investiram, impedidas pelas regras do governo brasileiro, incluindo um mandamento segundo o qual a Petrobras deve ser o único operador dos campos de pré-sal.


Autoridades brasileiras estão considerando flexibilizar essas exigências. Mas mesmo se isso acontecer, não está claro sobre quanto interesse estrangeiro haverá com os preços do petróleo tão em baixa.


“Eles estão em uma situação difícil,” disse Foss da Universidade do Texas. “As empresas internacionais vão ficar longe de qualquer coisa que seja de custo elevado.”


O que também deverá complicar os planos da empresas é o enorme escândalo de corrupção que dominou as manchetes no Brasil desde que veio à tona pela primeira vez em março de 2014.


As investigações da polícia federal apontam que a Petrobras estaria no centro de um suposto esquema de suborno no qual empreiteiras cobravam preços superfaturados por contratos da Petrobras, dividindo os lucros ilícitos com executivos da petroleira e políticos locais. Três ex-executivos da Petrobras foram presos.


Petrobras alega ser vítima de uma suposta fraude e que está cooperando com as investigações. A empresa colocou em prática sua própria investigação interna, e disse recentemente que interrompeu os trabalhos com 23 empreiteiras ligadas ao suposto esquema enquanto a investigação continua.


A empresa já postergou duas vezes a divulgação de seus lucros do terceiro trimestre enquanto trabalha para medir potenciais anulações relacionadas à corrupção. A empresa afirma que vai lançar seus ganhos não-auditados do terceiro trimestre este mês para cumprir obrigações a credores e prevenir um pagamento forçado e antecipado de certas dívidas pendentes.


Petrobras, cujas ações são negociadas em Nova York, também está sob investigação pela U.S. Securities and Exchange Commission (Comissão de Valores Mobiliários) e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.


O constante fluxo de notícias ruins abalou as ações da Petrobras, que caíram 55% nos últimos seis meses. Os títulos da empresa estão sendo negociados perto de recordes de baixa. No final do ano passado, o Moody’s Investor Service reduziu o risco de crédito da empresa de Baa3 para Ba1 e sua classificação da dívida em moeda estrangeira e local de Baa1 para Baa2.


A dívida da Petrobras permanece em grau de investimento. Mas a queda motivou o governo brasileiro a declarar que vai garantir o pagamento da dívida da companhia se for necessário.


Todos esses fatores estão pesando nos planos da Petrobras para o futuro.


A empresa “pode não ser capaz de alcançar alguns de seus objetivos para 2020,” diz Ricardo Bedregal, um analista no Rio de Janeiro da consultora IHS. “Eu acho que será difícil para eles.”>> Brazil’s Petrobras Is Hit by Oil-Price Drop, Corruption