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NOTÍCIA

Taques diz que meta é fazer o 'governo mais transparente da história de MT'

Em cerimônia de posse, novo governador proferiu discurso anticorrupção. Ele convocou toda a população do estado para fiscalizar atos do governo.

Data: Sexta-feira, 02/01/2015 00:00
Fonte: Kelly Martins e Renê Dióz Do G1 MT

Em cerimônia de posse nesta quinta-feira (1), o novo governador do estado de Mato Grosso, Pedro Taques (PDT), declarou que sua meta agora é realizar "o governo mais transparente da história" do estado. Em discurso dirigido à população que acompanhou a solenidade de transmissão do cargo no Centro de Eventos do Pantanal, Taques reforçou o comprometimento com o combate à corrupção no estado e convocou toda a população de Mato Grosso para fiscalizar os atos de seu governo. “Sejam 3.224.357 fiscais do meu governo”, conclamou.


“Que cada cidadão desse nosso querido estado saiba que seu governador não urde, não admite, não coonesta e não aceita a corrupção política e administrativa, em qualquer de suas formas. Busco ser o governo mais transparente da história de Mato Grosso”, afirmou o novo governador (confira a íntegra do discurso no final da matéria).


Taques discursou perante seus familiares, amigos, o secretariado nomeado para a nova equipe de governo e a população em geral que prestigiou a cerimônia. Ele abriu o discurso dizendo-se com “fome de Justiça” e de “dignidade” em Mato Grosso, exaltou as qualidades do estado e com uma série de juramentos.

 

“Eu juro que jamais vou me acovardar diante do desafio, esmorecer diante da dificuldade ou submergir na desfaçatez dos pusilânimes, porque assim eu não estaria à altura desta família que me elegeu. Prometo não me apequenar diante das burocracias autojustificadas que fazem a ruína de homens fracos, nem enveredar pelas vilanias do poder que ostenta, mas não realiza”, prometeu.


Um de seus temas recorrentes durante a campanha eleitoral, a necessidade de se combater a corrupção para viabilizar serviços públicos mais eficientes também foi parte do discurso de posse.


“Os crápulas, os ladrões, os trapaceiros e os nefastos que se acocoram nos poleiros conspurcados da coisa pública, contra estes vou empenhar tudo o que posso, toda a fibra que tiver, toda a luz que, oxalá, iluminar minha alma política. Pois se o exercício legítimo do poder tem uma função, é melhorar a vida dos governados, não a dos governantes”, argumentou, prometendo oferecer um serviço público “profissional e idealista”.


Voltando ao tema da austeridade com as contas públicas, Taques também repetiu que não endividará o estado sob o risco de comprometer a gestão no futuro ou incorrer em ilegalidades. “Eu vim da Procuradoria do Ministério Público, do Senado. Sou um homem das instituições e da Constituição”, acrescentou.


Na etapa final do discurso, Taques também prometeu o máximo de empenho para cumprir sua função de governador, principalmente para os mais pobres em mais necessitados, agradecendo os votos e repetindo o bordão já utilizado durante a campanha: “Nós não deixaremos nenhum mato-grossense para trás”.


O novo secretário-chefe da Casa Civil de Mato Grosso, Paulo Taques. (Foto: Renê Dióz / G1)
O novo secretário-chefe da Casa Civil de Mato
Grosso, Paulo Taques. (Foto: Renê Dióz / G1)

'Onda de civismo'
Antes de Taques, quem discursou na cerimônia de posse foi o novo secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, primo do governador. Em sua fala, o secretário empossado prometeu trabalho redobrado e afirmou que o combate à corrupção anunciado pelo novo governo atende a um anseio generalizado da sociedade brasileira.


“O Brasil e o Mato Grosso estão mudando. O cidadão já está dizendo 'chega' faz tempo”, declarou Paulo Taques, citando uma “onda de civismo” a tomar conta do país, impondo o combate à corrupção como um desafio diário do novo governo estadual.


Ao finalizar, Paulo Taques lembrou o poeta Carlos Drummond de Andrade, afirmando que ele e todos os demais secretários empossados possuem, cada um, tudo o que precisam para trabalhar: “duas mãos e todo o sentimento do mundo”.


Posse e transmissão do cargo
A posse de Pedro Taques como chefe do poder Executivo de Mato Grosso nesta quinta, em Cuiabá, foi realizada em dois momentos: na sede da Assembleia Legislativa (AL) e no Centro de Eventos do Pantanal.


A primeira teve início às 9h08, com duração de uma hora e participação de autoridades e familiares. Durante o primeiro discurso como governador, Taques citou frases do Papa Francisco e leu o trecho de um poema do escritor mato-grossense Ricardo Guilherme Dicke.


Pedro Taques fez primeiro discurso na Assembleia após tomar posse (Foto: José Medeiros/Secom-MT)
Pedro Taques tomou posse na sede da AL.
(Foto: José Medeiros/Secom-MT)

Ele também falou sobre a independência dos poderes Executivo e Legislativo e sobre a “harmonia” necessária entre ambos para o desenvolvimento do estado. O pedetista frisou que “é de suma importância que a relação com os Poderes Legislativo e Judiciário seja de harmonia. Isso não quer dizer submissão. A oposição é importantíssima para a democracia. Não há estado democrático sem oposição, senão teríamos a tirania".


O evento na AL reuniu pelo menos outros três ex-governadores: Frederico Campos, Júlio Campos e Jayme Campos. Os dois últimos são irmãos e governaram o estado nas décadas de 80 e 90.


Já por volta das 10h, Pedro Taques seguiu para o Centro de Eventos do Pantanal acompanhado do vice-governador Carlos Fávaro (PP). Taques recebeu a faixa de governador das mãos de seu antecessor, Silval Barbosa (PMDB), durante ato solene de transmissão de cargo. Depois, passou por revista à tropa e recebeu honras das Forças Militares.


Em seguida, deu posse aos secretários que integram a nova equipe de gestão. Por conta de atrasos no decorrer do ato, Pedro Taques não foi para Brasília (DF) participar da posse da presidente Dilma Rousseff (PT).


Ex-governador Silval Barbosa (PMDB) entrega a faixa de governador a Pedro Taques (PDT) em Cuiabá. (Foto: Renê Dióz / G1)
No Centro de Eventos, Taques recebeu o cargo de
Silval Barbosa (PMDB). (Foto: Renê Dióz / G1)

Ao permanecer no Centro de Eventos, Taques recebeu o cacique Raoni Metuktire, líder da etnia caiapó, que cobrou do novo governador mais respeito aos povos indígenas, principalmente quanto à saúde e ao meio ambiente. Raoni foi convidado por Taques para discursar no palco, com auxílio de seu tradutor. Ele avisou que manterá o diálogo com o governo estadual na tentativa de assegurar os direitos dos povos indígenas que vivem em Mato Grosso.


O cacique também convidou Taques para conhecer sua comunidade e pediu ajuda para barrar, no Congresso, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de número 215, que altera o rito para aprovação e demarcação de terras indígenas. Centenas de pessoas foram até o local para acompanhar o evento, que encerrou com apresentações regionais.


Confira abaixo a íntegra do discurso do governador Pedro Taques após a transmissão do cargo, disponibilizado pela Secretaria de estado de Comunicação:


Secretários que assumirão o cargo; senhores parlamentares estaduais e municipais; membros do Poder Judiciário e Ministério Público; 
Prefeitos; autoridades religiosas, autoridades civis e militares; 
Autoridades indígenas; 
Representantes de federações, associações e entidades de classe; 
Representantes de partidos políticos, lideranças comunitárias; 
Representantes da nossa imprensa; 
Uma saudação carinhosa à minha mãe, dona Eda; à minha esposa, Samira Martins; minha filha, Renata; ao meu pai, Seo Nego, e todos os demais amigos e familiares; 


Senhores,
Mato Grosso é meu pai. Destemido, confiante, severo, justo. “Primeiro pare de respirar, Pedro” – ele me dizia. “A coragem, perca depois”. Ele, com o tamanho magnífico da sua geografia, das águas do Teles Pires e Juruena, até Furnas e Araguaia, da Ilha do Bananal ao Rio Madeirinha, demanda o trabalho mais importante que já esteve diante de mim. 


Mato Grosso é minha filha. A ternura, o vigor e a promessa, o amor incomensurável por quem eu daria, se fosse preciso, a minha própria vida. E então a ouço, minha Renata, como a voz de cada mato-grossense digno de nossa terra, dizendo que os conclaves dos adultos devem se deixar abrir pelas chaves-mestras da juventude, ou de nada valerão as mudanças que fizermos. 


Mato Grosso é minha mãe, que acolhe, que gera e que nutre, que nos olha compassiva ao longo de nossa jornada e nos conhece em tudo o que somos. “Vá para o mundo, Zé Pedro, mas nem mato vive sem raiz”. Lembra-me da terra generosa que seremos sempre, recebendo nossos filhos aqui nascidos, os que para cá vieram, os que ainda virão, todos, independentemente da cor da pele, da riqueza ou da religião. Eu, que nasci nesta Cuiabá de tantos sendeiros, que fui para São Paulo, para o Acre, para Brasília e para muitas lonjuras, mantive, mãe, minha raiz, nesse Mato Grosso, fértil e grande. 


Mato Grosso é meu irmão. Ele nos oferece a chance da convivência, do crescimento comum, de sermos iguais perante o mesmo teto. Só entre irmãos poderemos construir os caminhos para que nossa igualdade essencial não seja esmaecida pela soberba, pela cupidez, pela conduta incivil. Iguais em dignidade, em direitos, em deveres, não aceitaremos nada menos em nossa terra de irmandade. 


Agora eu deveria dizer que Mato Grosso é minha mulher. Mas eu não vou facilitar tanto assim o trabalho dos jocosos, nem vou dar azo aos misóginos... Prefiro, ao revés, fazer uma homenagem à mulher mato-grossense, por sua fibra, sua luta, sua liderança e inteligência, tomando como exemplo destas qualidades a Samira, minha companheira. Quero dizer a vocês todas, minhas queridas conterrâneas, que em meu governo não permitirei o sexismo, a desequiparão baseada no gênero. Vou por toda a estrutura do Estado para combater a violência contra a mulher. 


Pois hoje, na inauguração de meu governo, penso no Mato Grosso como a grande e amantíssima família que formamos com nosso amor, nossa cultura, nossa história, nossos vultos, nossa riqueza e, sei, pela pobreza que ainda se apresenta. 


Amigos, 
(Me permitam chamá-los de amigos) 

Eu juro que jamais vou me acovardar diante do desafio, esmorecer diante da dificuldade ou submergir na desfaçatez dos pusilânimes, porque assim eu não estaria à altura desta família que me elegeu. 


Prometo não me apequenar diante das burocracias autojustificadas que fazem a ruína de homens fracos, nem enveredar pelas vilanias do poder que ostenta, mas não realiza.

 

Os crápulas, os ladrões, os trapaceiros e os nefastos que se acocoram nos poleiros conspurcados da coisa pública, contra estes vou empenhar tudo o que posso, toda a fibra que tiver, toda a luz que, oxalá, iluminar minha alma política. 



Pois se o exercício legítimo do poder tem uma função, é melhorar a vida dos governados. Não a dos governantes. 



Tudo faremos por quem precisa e, nada – eu o prometo! – nada, para os boçais e preguiçosos, a não ser mostrar-lhes a tradição mato-grossense do trabalho árduo e produtivo. 


Meu governo, torno a dizer, não será um valhacouto de pelintras e abusados, mas uma universidade para o serviço público profissional e idealista. A este, quero prestigiar. 
Que cada cidadão desse nosso querido Estado saiba que seu governador não urde, não admite, não coonesta e não aceita a corrupção política e administrativa, em qualquer de suas formas. Busco ser o governo mais transparente da história de Mato Grosso. 


Perguntem e terão as respostas. Procurem e saberão achar a realidade contábil de cada centavo que vier aos cofres públicos e dele sair. Quero que cada cidadão me fiscalize e denuncie os erros que souber. 


Sejam 3.224.357 de fiscais do meu governo! 


Até para que toda a cidadania saiba quais os recursos e qual o potencial de nosso erário. Escolhas difíceis precisarão ser feitas. É atroz nossa realidade orçamentária. 


Mato-grossenses de sangue e de coração, 


Não vou gastar mais do que podemos honrar, endividando nosso presente e nosso futuro. Nosso povo não merece essa irresponsabilidade. Quem promete realizar tudo de uma vez, mente e engana, assim como quem nada faz justifica com as dificuldades sua própria inércia. 


Eu vim do Ministério Público Federal e do Senado. Sou um homem de instituições, um entusiasta da Constituição de 1988. 


Não esperem de mim bonapartismos e arruadas. As leis asseguram e demandam modos e procedimentos e assim será feito nesta administração. O Poder Executivo é um dos poderes constitucionais, que deve atuar com harmonia com o Poder legislativo e o Judiciário. As instituições criadas pela nossa República devem funcionar com liberdade e independência. Este administrador conta com isso. E saberá respeitar o espaço constitucional do Ministério Público, da Advocacia e da Defensoria Públicas, do Tribunal de Contas, das prefeituras, nossas parceiras, do Tribunal de Justiça e da Assembléia Legislativa. 


Senhores,
Governarei para a indústria, o comércio, os serviços e a agricultura, pois é a riqueza desses segmentos que cria os valores que beneficiarão todo nosso Estado. E quero, de público, fazer um convite a todos os homens de negócio do Brasil e do mundo: venham para o Mato Grosso. Somem com a gente. O governo será um aliado previsível e justo do empreendedorismo. E não vou esquecer do trabalho, do homem do campo e da cidade que empresta à comunidade o valor de sua labuta. Prometi e governarei, sobretudo, para os mais pobres e para os que mais precisam. 


Eu vou governar para os homens e mulheres de bem. Para quem não sabe quem são eles, peço que, por favor, não apoie meu governo. 


Chamo a sociedade civil para colaborar com esta administração, bem como a fiscalizá-la. Nas igrejas, nas lojas, nos clubes, nas escolas e faculdades, nas ruas e nos rincões, a política é uma arte nobre, capaz de conjugar esforços e encontrar consensos. Pouco me importa em que se votou nas eleições. Ofereço o diálogo a todos e saberei respeitar a diversidade e a oposição. 


Conto e confio na imprensa livre e sei que nós, os mato-grossenses, por amarmos tanto a liberdade, seremos um bastião contra aqueles que, temerosos de críticas, tramam contra a liberdade de opinião e de sua manifestação. 


Quero inspirar o patriotismo e o civismo nas nossas crianças e na mocidade; que nossos estudantes saibam dos feitos de nossos homens e mulheres notáveis. Que se orgulhem de viver nessa terra de calor e promissão. É a tradição dos desbravadores que comungamos, dos que souberam ver na terra sem lida o melhor lugar para a semente nova da prosperidade. 


Eu sou apenas mais um mato-grossense, ungido ao cargo que agora assumo pela generosidade imensa de nossa gente. 


Eu agradeço de todo o meu coração a extraordinária oportunidade que me foi dada de cumprir o meu dever. E juro, olhando nos olhos de cada pessoa que tem a ventura de viver em nosso Estado: eu vou cumprir o meu dever. 


É meu juramento, 
minha palavra, 
meu projeto de vida."