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NOTÍCIA

'FT': Marina Silva é uma das mulheres mais influentes de 2014

Jornal britânico faz perfil da líder política que concorreu nas eleições presidenciais deste ano

Data: Segunda-feira, 15/12/2014 00:00
Fonte: Jornal do Brasil



 
 


O jornal britânico Financial Times publicou nesta segunda-feira um artigo onde lista Marina Silva como uma das mulheres mais influentes do mundo em 2014. O jornalista Joe Leahy traça um longo perfil da líder brasileira, que disputou sua segunda eleição presidencial este ano. "Marina Silva está demonstrando o melhor jeito de usar a faca de seringueiro que seu tio confeccionou quando ela ainda era uma criança. 'Você faz um corte na árvore, assim. Dependendo da largura, você pode ter árvores que podem servir até para oito canequinhos,' ela diz, se referindo aos pequenos potes que recebem a resina que escorre dos troncos.


O rústico instrumento usado na Amazônia é um contraste com seu terno elegante. Mas se a história do Brasil desde os anos 1950 foi do movimento de milhões de pobres do campo para a cidade, então a vida de poucas pessoas captam isso melhor do que a de Marina. De seringueira analfabeta que trabalhou na Amazônia até os 16 anos, ela seguiu em frente para se tornar senadora, ministra do meio ambiente e duas vezes candidata a presidente.


Mas se sua mente fez a migração ao Brasil moderno com firmeza, o espírito dessa futura presidente em potencial parece ainda percorrer o vilarejo de sua infância onde um tio, um pajé que vivia entre índios, treinou Marina na arte de extrair látex das árvores. “Sinto falta disso, é claro,” ela disse sobre o seringal em uma entrevista em São Paulo, em Outubro. Só uma semana antes, ela saiu da corrida presidencial do Brasil depois de protagonizar o maior desafio em uma geração por um político perdendo para presidente reeleita, Dilma Rousseff, do PT. “Eu sempre digo que fui analfabeta até os 16 anos, mas eu já tinha um PhD na escola da vida.”


A faca oferece um raro momento de informalidade no que foi uma conversa séria. Franca, séria e idealista. Esses são adjetivos que vêem à mente quando uma pessoa se encontra com Marina Silva. O segredo de seu apelo é que ela convenceu os eleitores de que ela é aquele tipo raro de políticos, que acredita honestamente naquilo que está falando. Isso é particularmente atraente no Brasil, que tem uma variedade de partidos políticos mas a maioria com um ideal — o poder.


Enquanto seus rivais vendiam políticas populistas, ela oferece uma visão mais holística do futuro — o Brasil como uma sociedade que é bem sucedida economicamente e já respeitada no mundo por sua humanidade e consciência ecológica e social. Somado a isso há o fato dela ser mulher e negra em um país onde ambos os grupos são timidamente representados na política e ela parece captar o crescente voto de protesto no Brasil.


Um de seus conselheiros em economia, Eduardo Giannetti, que tem um PhD pela Universidade de Cambridge, disse ao Financial Times no início deste ano: “Eu acho que um líder nacional com as características de Marina é raro em qualquer lugar no mundo. Ela está na linha de Nelson Mandela, ou Mahatma Gandhi, ou Martin Luther King, uma líder que se baseia em ética e valores.”


Isso pode ser um elogio e tanto, realmente. Mas a marca política de Marina a coloca em outro patamar. Nascida em 1958, Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima era uma de 11 crianças. Seu pai, um dos poucos na comunidade que sabia ler e escrever, contava a colheita de seus colegas para conferir se o patrão da plantação não os estava roubando. Sua mãe era uma costureira. Sua tia, parteira. Nenhum deles cobrava dinheiro por seus serviços.


Seu tio pajé ensinou Marina sobre “o comportamento dos pássaros, a fragilidade das árvores, a diversidade dos animais”. “Eu aprendi muitas coisas com ele em silêncio porque ele falava muito pouco,” ela diz. Ela perdeu a mãe quando tinha 15 anos e três irmãos para a doença. Constantemente doente, ela deixou o seringal para procurar tratamento e estudar com o objetivo de se tornar freira. “Eu queria ir à cidade para cuidar da minha saúde. Eu sabia que morreria se não viajasse,” lembra ela em sua biografia, ‘Marina: Uma vida por uma causa’.


Na capital do Acre, Rio Branco, marina aprendeu a ler quando trabalhava como empregada. Ela se formou em história. Se tornou evangélica, se casou duas vezes e teve quatro filhos. Ela começou sua carreira política num sindicato em 1984 trabalhando ao lado do ambientalista Chico Mendes, que ajudou os seringueiros a lutarem contra os fazendeiros que queriam destruir as florestas. Em 1985, Marina se juntou ao PT, e em 1988 foi eleita vereadora em Rio Branco. No mesmo ano Mendes foi assassinado.


Nessa época, ela também ajudou Luiz Inácio Lula da Silva — o homem que se tornaria o líder mais popular do Brasil — liderar uma das campanhas à presidência. O ex-sindicalista a indicou como ministra do meio ambiente quando ele finalmente se elegeu e assumiu a presidência em 2003. Ela conseguiu uma forte queda no índice de desmatamento da Amazônia ao reprimir fazendeiros ilegais. Mas Marina deixou o governo em 2008 quando percebeu que Lula agia para reduzir sua autoridade. “Eles são reféns dos elementos mais atrasados no Congresso, aqueles que tem a visão de crescimento da produção com a expansão da área da agricultura, não por meio de ganhos de produtividade com a tecnologia, formação e inovação" diz ela, sobre o PT.“A maioria das mulheres sofre para obter o devido reconhecimento pelo seu trabalho”, diz Marina Silva. Ela acredita que as mulheres na vida pública também precisam evitar a armadilha daquilo que ela chama de “caricatura masculina” — ser forçada a ser mais dura do que seus adversários masculinos em um esforço para de auto-afirmação. “O feminino invoca a noção da capacidade para a colaboração, para integrar,” ela diz. “O que é certo é contribuir da maneira que somos.”


“A maioria das mulheres sofre para obter o devido reconhecimento pelo seu trabalho”, diz Marina Silva. Ela acredita que as mulheres na vida pública também precisam evitar a armadilha daquilo que ela chama de “caricatura masculina” — ser forçada a ser mais dura do que seus adversários masculinos em um esforço para de auto-afirmação. “O feminino invoca a noção da capacidade para a colaboração, para integrar,” ela diz. “O que é certo é contribuir da maneira que somos.”Uma das campanhas do PT contra ela era uma acusação falaciosa que ela faria com que a Petrobras parasse de explorar suas enormes descobertas no mar da costa sudeste, diz ela. O PT tentou fazer esses campos de petróleo de pré-sal a base de uma nova onda de recursos para o nacionalismo no Brasil.


Mas Marina mostra como tem pouca estima por esse pensamento do século 20 com uma simples observação sobre as tribos indígenas que o governo propositalmente deixou “sem contato” para protegê-los das incursões do homem urbano e da doença. “Eu costumo dizer que nosso grande ativo não é o pré-sal. São as 38 pessoas que ainda não foram contactadas. Esse é nosso grande tesouro, isso é fantástico,” ela diz, rindo enquanto pensa sobre essas pessoas que estão afastadas 4 mil quilômetros no interior da Amazônia, felizes sem saber nada a respeito de uma selva urbana que é Brasília e seus partidos políticos truculentos.