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NOTÍCIA

Eike Batista: Novas estruturas desabam no Império X

Empresário entrega OGX a credores e MMX entra com pedido de recuperação judicial

Data: Sábado, 18/10/2014 00:00
Fonte: Jornal do Brasil

Duas empresas do grupo EBX protagonizaram novos capítulos da queda do império de Eike Batista nesta semana. A MMX, empresa do ramo de mineração, entrou com pedido de recuperação judicial na quinta-feira (16), o que acalma um pouco sua situação, mas que não a livra das dificuldades impostas pelo cenário negativo mundial. A OGX, por sua vez, agora OGPar, passou definitivamente para as mãos dos credores, como já estava previsto no plano de recuperação judicial.


De acordo com Gilberto Braga, professor de Finanças do Ibmec/RJ, a recuperação judicial não resolve o problema. "É mais uma grande derrota esse pedido de recuperação, vem em uma hora duplamente ruim, porque é mais uma catástrofe dentro do desmoronamento do Grupo X, e porque o momento do mercado de minério de ferro está ruim no cenário internacional, em termos de preço. Isso torna o futuro dessa empresa totalmente incerto, mesmo em um ambiente de recuperação, porque a saída passaria pela atratividade do negócio", explica.


O professor lembra que o próprio Eike levava em consideração determinado cenário de mercado que neste momento não se confirma. Se por um lado a recuperação judicial dá uma garantia de que as dívidas não serão executadas no momento, o que dá um fôlego para que a empresa se organize com a supervisão da justiça, por outro ela também não é uma solução, que seria uma retomada da produção internacional, o que neste momento não se mostra possível. 


Se fosse apenas o problema de mercado, em condições normais, a empresa poderia pedir empréstimos, recorrer a linhas de financiamento para se manter a espera de dias melhoras. O problema de mercado aliado a falta de credibilidade do grupo, no entanto, se tornaram mortais, acredita o professor.


"Não obstante os esforços da administração na negociação com credores e na busca por potenciais investidores, o pedido de recuperação judicial configurou-se como a alternativa mais adequada diante da situação econômico-financeira da Companhia", informou a mineradora. 


No final de agosto, a MMX já tinha anunciado a revisão do plano de negócios para "priorizar as iniciativas geradoras de caixa". Disse ainda que iria paralisar temporariamente a produção da unidade de Serra Azul, com férias coletivas de 30 dias para os funcionários envolvidos diretamente, em decorrência dos baixos preços do minério de ferro no mercado internacional. No início desta semana, contudo, a empresa informou que as atividades continuarão suspensas após esse período.


A OGPar, ex-OGX, por sua vez, teve a conversão dos R$ 13,8 bilhões de suas dívidas em ações, e deixa de ter Eike como principal acionista. Os credores passam a ter 71,43% da empresa e o restante fica dividido entre o empresário e os minoritários. A ação já estava prevista no plano de recuperação judicial. As ações da empresa também voltarão a ser negociadas na Bovespa, com o código "OGSA3", mas ainda não há previsão para início. 


Além dos desafios que precisa enfrentar para tentar salvar suas empresas, Eike ainda tem que lidar com diversos processos judiciais, por uso de informação privilegiada para lucrar no mercado financeiro irregularmente, com a OSX e a OGX. Há ainda denúncias de lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e formação de quadrilha, além de processos administrativos na CVM. No mês passado, a Justiça Federal do Rio de Janeiro informou que havia bloqueado R$ 117,3 milhões das contas do empresário no Brasil. A Justiça tinha decretado o bloqueio de bens e ativos financeiros do empresário até o limite de R$ 1,5 bilhão, para garantir recursos para ressarcir danos que tenham sido causados aos acionistas. 


Segundo o MPF, o grupo manipulou o preço das ações da OGX com dados falsos sobre a perspectiva da empresa, causando um prejuízo estimado de R$ 14,4 bilhões aos investidores. A diretoria da empresa prometeu a realização de negócios bilionários em operações de extração de petróleo nas bacias de Campos e Santos. Contudo, a projeção teria sido baseada em informações inverídicas sobre a capacidade de exploração das reservas. Entre 2009 e 2013, foram 55 informes no mercado, com estimativas de grande volume de gás e petróleo a ser extraído em poços controlados pela empresa. Estudos internos realizados pela empresa desde 2011, no entanto, apontavam a inviabilidade econômica das áreas em função dos custos e da operação. Em alguns casos, também era mencionada a inexistência de tecnologia para explorar as áreas.


Em um dos processos judiciais enfrentados por Eike, o da justiça fluminense, a audiência na tem data marcada, 18 de novembro. No mesmo dia, após pronunciamento das testemunhas de defesa e acusação, pode ser realizado o julgamento da ação. A decisão do juiz Flávio Roberto de Souza, da 3ª Vara Criminar da Justiça Federal, informa que o empresário teria utilizado "por duas vezes de informações relevantes, ainda não divulgadas ao mercado, que tinha conhecimento, propiciando para si vantagem indevida mediante a negociação, em nome próprio, com valores mobiliários". O juiz negou o pedido de anulação da defesa.


O empresário teria arrecadado R$ 197 milhões na primeira negociação irregular de ações da empresa, entre maio e junho de 2013, com lucro indevido entre R$ 123 milhões e R$ 126 milhões. Depois, entre agosto e setembro do mesmo ano, obteve R$ 111 milhões com os negócios irregulares. 


A situação das empresas de Eike Batista, que em 2012 começaram a ficar mal das pernas, desceram a ladeira embaladas por 2013. De sétimo homem mais rico do mundo, Eike pulou para a centésima posição da revista Forbes já no início do ano passado. De acordo com informações do mercado, pelo menos dez executivos saíram das empresas do grupo com mais de R$ 100 milhões, e alguns com mais de R$ 200 milhões. Em resumo, Eike blefou sobre suas empresas, se endividou, inclusive com dinheiro público do BNDES, e conseguiu a recuperação judicial.


O império construído em diversos segmentos da economia, como petróleo, energia e portos, ruiu. No mês passado, Eike informou, em entrevista ao jornal O Globo, que o saldo de sua conta estava em US$ 1 bilhão negativo. 

Entre as muitas empresas do grupo, a MPX, agora Eneva, do setor de energia, foi vendida a um grupo alemão. Do setor naval, a LLX passou para o controle do grupo EIG e negociava suas dívidas, e a OSX demitia funcionários. A CCX, de mineração, havia colocado seus projetos na Colômbia à venda.