Apesar da insatisfação gremista com a eliminação do Grêmio da Copa do Brasil em julgamento nesta sexta-feira, o clima foi ameno no tribunal do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Houve, no entanto, um protesto isolado em frente à sede do órgão. Um homem com o rosto pintado levou cartaz de repúdio ao Grêmio e ao racismo. O vice-presidente tricolor Nestor Hein não gostou da atitude e foi tirar satisfações.
Na rápida conversa, Hein condenou o teor do cartaz, que dizia "não ao Grêmio, não ao racismo". Afirmou que o mais correto seria, em vez de criticar a instituição, condenar individualmente os responsáveis pelos atos de cunho racista contra o goleiro no dia 28 de agosto, que culminou no julgamento no Pleno nesta sexta.
Após Nestor Hein e os demais dirigentes e advogados gremistas deixaram o local, no centro do Rio de Janeiro, o torcedor permaneceu alguns poucos minutos, até também ir embora.
Antes, o dirigente havia externado para a imprensa todo o seu descontentamento com a decisão. Embora o STJD tenha retirado a exclusão, a perda de três pontos, somada à derrota no jogo de ida para o Santos, faz, de qualquer forma, o Grêmio eliminado.
- O Grêmio foi julgado por justiceiros, não deram embasamento jurídico a esse julgamento esdrúxulo. Estamos ao sabor do vento - reclamou.
Como foi o julgamento
O primeiro a se manifestar foi o procurador Paulo Schmitt, que denunciou o Grêmio pelos atos de injúrias raciais. Com um discurso contundente, ele reforçou o pedido de exclusão do clube e ainda solicitou o aumento da multa, inicialmente colocada em R$ 50 mil, e ainda a perda de mandos de campo, o que não foi levado em consideração pelos auditores.
- A reprodução da prova de vídeo que originou a denuncia era altamente relevante a esse processo, para que a gente não esqueça o que aconteceu, para a gente possa combater e para que o clube seja responsabilizado pelos atos de seus torcedores. Quando o clube teve a oportunidade, através de seus torcedores, e não se separa o clube e a torcida. Quem separa tenta desinformar a sociedade. Clube e torcida é uma coisa só. Quando o clube teve uma nova oportunidade, vaiou o goleiro, quando ele deveria ser aplaudido pela coragem, por trazer à tona o que a gente esconde debaixo do tapete - disse.
Logo depois, foi a vez da defesa do Grêmio se manifestar. Primeiro, o advogado do Grêmio Gabriel Vieira reforçou as ações do clube para combater o racismo antes do incidente na Arena e também as providências tomadas depois das injúrias, como a carta enviada por Felipão a Aranha e o pedido de desculpas por parte do presidente Fábio Koff. Já o Michel Assef Filho citou um caso semelhante ocorrido com a torcida do Paraná, que resultou em multa ao clube paranaense.
A defesa do árbitro Wilton Pereira Sampaio fez a sua participação antes do relator Paulo César Salomão Filho fazer o seu pronunciamento e, na sequência, o seu voto. Ele destacou que o órgão não considera o Grêmio um clube racista, mas decidiu por revogar a exclusão, mas punir a instituição com a perda de três pontos. Como o time gaúcho perdeu o primeiro jogo por 2 a 0, acabou eliminado da Copa do Brasil.
- O Grêmio foi eliminado, não excluído - resumiu o relator.
Todos os demais seis auditores que participaram do julgamento acompanharam o relator e optaram pela eliminação do Grêmio da competição nacional.