O governo de Israel e o grupo palestino Hamas concordaram nesta quinta-feira em estabelecer um cessar-fogo de 72 horas em Gaza, a partir das 8h locais desta sexta-feira (1h no horário de Brasília).
A informação foi divulgada em um comunicado conjunto feito pela ONU e pelo governo norte-americano.
"Durante esse período, as forças em solo vão permanecer onde estão", dizia o documento, assinado pelo secretário de Estado americano, John Kerry, e pelo o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
"Pedimos com veemência que todas as partes envolvidas ajam com contenção até que essa trégua humanitária tenha início e que cumpram com seus compromissos durante o cessar-fogo. Esse cessar-fogo é crucial para dar aos civis inocentes uma pausa na violência, algo que eles precisam tanto."
Negociações para um cessar-fogo a longo prazo terão início na sexta-feira, no Cairo.
O Hamas anunciou que estava baixando suas armas a pedido da ONU. E Israel deixou claro que, durante o cessar-fogo, suas forças vão continuar a ofensiva para destruir os túneis construídos pelo Hamas para atacar Israel.
Pouco antes do anúncio da trégua, o governo norte-americano havia declarado que considerava "totalmente inaceitável e indefensável" o ataque ao abrigo da ONU em Gaza, ocorrido na quarta-feira.
Essa foi a mais dura crítica dos Estados Unidos à ofensiva israelense no território palestino. Os EUA – maiores aliados de Israel – também afirmaram que as mortes de civis estão "altas demais" e exortaram Israel para que protegesse a vida de civis. Na quarta-feira, a ONU acusou Israel de ignorar alertas e atacar uma escola em Gaza que abrigava cerca de 3 mil palestinos refugiados, deixando ao menos 16 mortos.
O porta-voz da agência da ONU para assistência aos refugiados (UNRWA, na sigla em inglês), Chris Gunness, disse que o ataque foi uma "vergonha universal". Segundo ele, o governo israelense foi informado 17 vezes que a escola abrigava civis refugiados - a última delas, horas antes do ataque.
"O ataque contra um local da ONU que abrigava civis inocentes fugindo da violência é totalmente inaceitável e totalmente indefensível", disse o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest. Ele afirmou ainda haver poucas dúvidas de que o bombardeio partiu de Israel.
Um porta-voz israelense, Mark Regey, disse à BBC que seu país vai se desculpar se for provado que foi responsável pelo ataque. "Nós temos uma política – não temos civis como alvos."
O Pentágono também subiu o tom contra Israel, dizendo que o número de civis palestinos mortos é alto demais. "Está ficando cada vez mais claro que os israelenses precisam fazer mais para atingir os padrões deles mesmos para proteger a vida de civis", disse o porta-voz do Pentágono, Steve Warren.
As condenações a Israel nas últimas horas partiram também de diversos órgãos da ONU. "A realidade é que hoje nenhum lugar de Gaza é seguro", disse Valerie Amos, chefe da agência humanitária da ONU, ao Conselho de Segurança.
Pierre Krähenbühl, chefe da UNRWA, disse que a população de Gaza está "à beira do precipício".
"Se mais deslocamento de pessoas se fizer necessário, a força de ocupação (Israel) terá de assumir responsabilidade direta na assistência dessas pessoas, de acordo com a legislação humanitária internacional", disse.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse nesta quinta-feira que não vai parar a ofensiva em Gaza até que todos os túneis construídos pelo Hamas para atacar Israel sejam destruídos.
Apesar do alto contingente de mortos nos ataques - quase 1.400 mil do lado palestino, a maioria civis -, o premiê disse que Israel está determinado a destruir os túneis "com ou sem cessar-fogo".
"Já neutralizamos vários túneis do terror, e estamos determinados a completar esta missão com ou sem cessar-fogo", declarou o premiê israelense. "Portanto, não vou concordar com nenhuma proposta que não permita às Forças Armadas israelenses concluir esta importante tarefa, pelo bem da segurança de Israel."
Nesta quinta-feira, no entanto, Israel anunciou a convocação de 16 mil reservistas para reforçar o contingente de suas forças militares - aumentando o total de convocados para 86 mil.
Desde o início da operação Margem Protetora, no dia 8 de julho, mais de 1.300 palestinos morreram - a maioria civis. Do lado israelense, morreram 56 soldados e dois civis. Um trabalhador tailandês em Israel também foi morto.
Segundo a ONU, 425 mil pessoas em Gaza tiveram de deixar suas casas por causa da operação. A organização diz que está amparando 225 mil palestinos em 86 abrigos ao longo da Faixa de Gaza. Acredita-se que cerca de 200 mil estejam na casa de amigos e parentes. O número total de desabrigados e desalojados chega a quase um quarto da população da Faixa de Gaza.