Em sentido oposto ao que aliados dizem nos bastidores, o candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB) e sua provável vice, Marina Silva, disseram neste sábado (31) que não pretendem procurar neste momento um contato com Joaquim Barbosa e que o ministro sinaliza querer uma "quarentena" antes de eventualmente se envolver com política.
Reunidos em Goiânia para o quinto encontro regional de preparação do programa de governo da candidatura, os dois deram a entender que eventual aproximação só ocorrerá após a saída definitiva de Barbosa do Supremo Tribunal Federal, o que deve ocorrer em junho, e se ele der essa abertura.
Para Campos, ao não deixar o Judiciário no tempo se filiar a um partido para as eleições deste ano, Barbosa deu um "recado" de que pretende desfrutar de uma "quarentena".
"Precisamos que o ministro Joaquim Barbosa conclua sua saída do STF e, no ato de sair, ele vai dizer de sua disposição ou não [de participar de uma campanha]", afirmou.
"Uma pessoa com o nível de responsabilidade e consciência que tem o ministro Joaquim Barbosa não é para fazer esse tipo de abordagem. Entendeu ele, corretamente, que a melhor forma de contribuir com a Justiça, com a política, com a democracia, foi se colocando nessa quarentena, como disse o Eduardo", afirmou Marina.
Para a ex-senadora, Barbosa "não é uma pessoa que se permitira jamais ser instrumentalizada por quem quer que seja".
O presidente do STF obteve 14% das intenções de voto para o Palácio do Planalto em fevereiro, na última vez que figurou entre os possíveis candidatos na pesquisa do Datafolha.
Apesar das declarações deste sábado, tanto a campanha de Campos quanto a de Aécio Neves (PSDB) buscam meios de, com sigilo e muito cuidado, sondar eventual disposição do ministro de patrocinar uma declaração de apoio.
Embora tenha dito que deseja conhecer quem defende proposta diferente, Campos sinalizou apoiar a manutenção do atual sistema de indicações para o STF -feito pelo Executivo, com aprovação do Legislativo.
Raposas
Campos e Marina já haviam feito encontros regionais para discutir o programa de governo em quatro capitais -Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e Manaus.
No deste sábado, o tom voltou a ser o de ataques ao governo Dilma e da necessidade de mudança, discurso embalado pela constatação das pesquisas do alto desejo de mudança na forma como o governo vem sendo conduzido.
Em sua fala aos militantes, Campos afirmou, sem citar nomes, que é hora de tirar da coalizão governista as "raposas de paletó e gravata que já surrupiaram do povo brasileiro o que tinham que surrupiar".
Segundo ele, que preside um partido que por quase 11 anos participou da aliança petista, o governo distribui lotes da administração federal como alguém que distribui bananas de um cacho.