ARIPUANÃ, Quinta-feira, 28/03/2024 -

NOTÍCIA

Governador teria quitado empréstimo pessoal com verba pública em MT

Empréstimo feito por Silval deu início ao esquema, segundo inquérito. Dívida foi feita e paga por meio de Éder Moraes, então secretário de Fazenda.

Data: Domingo, 25/05/2014 00:00
Fonte: Pollyana Araújo Do G1 MT

O esquema de lavagem de dinheiro que teria a participação de políticos mato-grossenses, entre eles a do senador Blairo Maggi (PR), teve início em 2008 após um empréstimo no valor de R$ 4 milhões feito pelo governador Silval Barbosa (PMDB), então vice-governador do estado, que teria sido quitado com dinheiro público. A informação consta do inquérito que tramita na 5ª Vara Federal em Mato Grosso. À época, Maggi era governador do estado.


Silval ainda não se manifestou sobre o assunto. O advogado dele, Ulisses Rabaneda, disse que só irá se manifestar sobre o assunto após ter acesso ao processo. Ele disse ao G1 ter solicitado cópia na íntegra, mas que ainda não a recebeu. Já Maggi negou ter tido qualquer relação com o proprietário do 'banco clandestino' que fez empréstimos aos integrantes da organização.


O empréstimo teria sido contraído junto à empresa Globo Fomento Mercantil, que atuava como 'banco clandestino' e tinha como proprietário Gércio Marcelino Mendonça Júnior, o Júnior Mendonça. Porém, após o empréstimo feito por intermédio do ex-secretário de Fazenda e da Casa Civil, Éder Moraes, não ter sido pago, o empresário procurou Éder no gabinete dele, na Secretaria de Fazenda (Sefaz). A resposta obtida foi de que a dívida seria paga por meio de uma empresa de advocacia.


Operação Ararath (Foto: G1.com.br)Operação Ararath (Foto: G1.com.br)


"A partir desse empréstimo destinado a Silval Barbosa, pago com recursos públicos, teve início ao que se denominou 'conta-corrente', por meio da qual Gércio Mendonça, via suas empresas Globo Fomento Ltda e Comercial Amazônia de Petróleo Ltda, operando conjuntamente com Éder de Moraes instituição financeira clandestina, realizaram inúmeros outros empréstimos em favor do grupo político [Blairo Maggi e Silval Barbosa], assim como transferências bancárias para fins de ocultar a origem ilícita dos recursos", diz trecho do inquérito.


Na ocasião, Éder se comprometeu a honrar com o compromisso, a partir do depósito de R$ 4,7 milhões que seria feito pelo escritório de advocacia, sendo que apenas R$ 2 milhões ficariam com Júnior Mendonça e o restante seria repassado para pessoas indicadas pelo então secretário de Fazenda, que encontra-se no Complexo da Papuda, em Brasília, após ter a prisão decretada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ele foi preso na terça-feira (20) durante a Operação Ararath, deflagrada pela Polícia Federal.


Júnior Mendonça disse ao Ministério Público Federal (MPF) que, nesse encontro, Éder lhe propôs se tornar credor de R$ 9,5 milhões a serem pagos pelo escritório de advocacia, que juntamente com uma empresa de construções e terraplanagem que teria como sócio o próprio governador do estado, iriam receber a título de precatórios da Companhia de Saneamento do Estado (Sanemat). Esses precatórios teriam sido pagos fora da ordem cronológica de pagamento, como havia apontado o Tribunal de Contas do Estado (TCE).


Conforme o empresário, Éder iria operacionalizar o recebimento do precatório por meio da abertura de uma conta conjunta entre o escritório de advocacia e a empresa de construções e terraplanagem. Com essa movimentação financeira por meio da empresa financiadora de crédito, havia a suposta lavagem de dinheiro.


Outro empréstimo feito pelo governador junto à factoring, que operava sem a autorização do Banco Central, teria sido feito em 2010, quando ele buscava a reeleição. Na época, ele assumiu o cargo após a renúncia de Blairo Maggi, que teria solicitado a uma instituição bancária que fossem atendidas a todas as necessidades de Éder Moraes, suposto intermediador das negociações financeiras. Júnior Mendonça disse ter emprestado R$ 4 milhões para que Silval gastasse na campanha. Essa dívida teria sido paga em cheques e dinheiro em espécie.


Em busca de provas
Na Operação Ararath, agentes da PF apreenderam documentos e materiais na casa do governador e de outros políticos do estado suspeitos de integrarem o esquema criminoso. A intenção era pegar um caderno espiral onde, segundo o dono do 'banco clandestino', Silval anotava as dívidas que tinha com a factoring. A investigação do caso ainda não foi concluída.


Durante as buscas, foi encontrada uma pistola com registro vencido. Por conta disso, Silval chegou a ser detido e encaminhado à sede da Polícia Federal, em Cuiabá. No entanto, ele foi liberado após o pagamento de fiança no valor de R$ 100 mil.