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NOTÍCIA

Fundador da Telexfree é preso nos EUA; sócio brasileiro é considerado fugitivo

Se condenados, responsáveis podem pegar 20 anos de prisão

Data: Sábado, 10/05/2014 00:00
Fonte: Por Vitor Sorano - iG São Paulo

O americano James Matthew Merrill, um dos fundadores da Telexfree, foi preso nos Estados Unidos nesta sexta-feira (9). O outro fundador, o brasileiro Carlos Nataniel Wanzeler, é considerado um fugitivo da polícia americana.A empresa é acusada de ser uma pirâmide financeira bilionária, que atraiu mais de 1 milhão de pessoas no Brasil.


Os dois empresários são acusados de conspiração para cometer fraude eletrônica, e podem pegar até 20 anos de prisão se condenados.


Merrill, de 52 anos, e Wanzeler, de 45, criaram a Telexfree nos Estados Unidos em 2002.  O negócio, porém, ganhou corpo a partir de 2012, quando a empresa começou a atrair investidores no Brasil com a promessa de lucrarem com a venda de pacotes de telefonia VoIP e colocação de anúncios na internet. 


Para  autoridades braslieiras e americanas, a venda do serviço tratava-se apenas de uma fachada para uma pirâmide financeira. A Telexfree, segundo as acusações, sustentava-se das taxas de adesão pagas pelos investidores, chamados de divulgadores.


A empresa afirma ter arrecadado ceca de R$ 3 bilhões em todo o mundo, mas até o mês passado as autoridades americanas que investigam o negócio apenas haviam encontrado registros de R$ 674 milhões.


Divulgação/Botafogo/Vitor Silva/SSPress

Merril (segundo da esquerda para a direita) e Wanzeler (terceiro, no mesmo sentido) ao anunciar patrocínio ao Botafogo


Em janeiro, a Telexfree anunciou um patrocínio ao Botafogo de Futebol e Regatas, do Rio. Como o iG revelou, o clube recebeu ao menos R$ 4 milhões, quantia superior ao que a empresa faturou com a venda de pacotes VoIP. Em dezembro de 2013, a empresa havia contratado a dupla Bruno e Marrone para um concerto num cruzeiro de luxo.


Um porta-voz da Telexfree informou que a empresa não comentaria pois James Merrill deixou a presidência da empresa em abril, às vésperas de o grupo entrar com um pedido de recuperação judicial.


A reportagem não conseguiu contato com os defensores de Merrill e Wanzeler.


Empresários são réus em processo no Brasil


Divulgação/Telexfree
Carlos Costa, um dos diretores da Telexfree, fala ao público em cruzeiro do negócio, em dezembro de 2013

 

No Brasil, Merrill e Wanzeler são réus numa ação civil pública em que o Ministério Público do Acre (MP-AC) o acusa, junto com outros responsáveis da Telexfree, de criar uma pirâmide financeira.


O caso, entretanto, ainda não foi julgado.


Em junho de 2013, as atividades e contas da Ympactus Comercial, braço brasileiro da Telexfree, foram bloqueadas a pedido do MP-AC. O negócio, porém, continuou a atuar no País por meio das unidades do grupo nos Estados Unidos, conforme o iG revelou em reportagem.


No mês passado, a Securities and Exchange Comission (SEC, a Comissão de Valores Mobiliários americana) determinou o congelamento dos bens do grupo Telexfree, de seus sócios e de três grandes divulgadores.  


Segundo a CVM americana, a Telexfree faturou apenas R$ 2,9 milhões com vendas de pactoes VoIP entre agosto de 2012 e março de 2014, ou pouco mais de 1% dos R$ 2,5 bilhões que prometeu pagar aos divulgadores. Nesse período, a empresa vendeu 26,3 mil pacotes VoIP, embora admita ter cerca de 700 mil divulgadores em todo o mundo.


Ao denunciar a Telexfree, a CVM americana a descreveu como uma "máquina de fazer dinheiro" para os donos.


Merrill, dono de um pequeno negócio de limpeza, montou a empresa de VoIP sem nunca ter atuado no ramo das comunicações, e ficou milionário.


Apenas em dezembro de 2013, quando a empresa já era investigada nos EUA, o empresário recebeu R$ 7,3 milhões da Telexfree. Carlos Wanzeler, que trabalhava para Merril na empresa de limpeza, retirou R$ 10,1 milhões no mesmo mês.

 
 Site da Telexfree parcialmente restabelecido, em 23 de abril de 2014; no dia 25, página havia voltado ao ar. Foto: Reprodução